Fernando Campos, no seu "O Pensamento Contra-Revolucionário em Portugal (Século XIX)", dá conta deste curioso trecho da obra de D. António de Almeida, retirado da "Carta aos Portugueses" que este autor tradicionalista, hoje completamente olvidado - e a sua leitura far-nos-á entender porquê -, escreveu em 1851:
"Não errava D. António de Almeida, ao apontar as consequências desastrosas do sistema constitucional: "Nasceram mil programas - dizia - e ficou Platão vitorioso naquelas suas palavras - que se escrevem aquelas coisas que não se querem executar." A democracia desorganizara a Nação, e, "Desarranjado assim o país, a desmoralização entrou no governo, e entrada neste necessariamente se havia de espalhar pelos governados. Os homens começaram com cuidado, e depressa, a cuidar só de si, fugiu-lhes o amor da Pátria. As ambições desenvolveram-se com frenesi, e muitos, deixando vidas honestas, com que compraziam a Pátria, entenderam que só seria bem temperada a mesa do orçamento. Com tanta força se fizeram os homens ambiciosos, que por a mais pequena coisa pedem recompensa, dando assim boas mostras, que são de ganhar, olhando a demora por bom título para melhor ganância".
Tratando agora dos males políticos, que se sentiam e haviam de sentir-se, porque no passado se não cuidara do presente, e este ia decorrendo, "obliterado de si, e no olvido do futuro", enumerava-os o autor, garantindo, em largos períodos que abrevio, que eles eram e teriam de ser os seguintes: as consequências do "abandono dos interesses morais, deixando-se de velar, e com desvelo, pelo estado espiritual do país"; da "morosidade da justiça, o que é uma injustiça negativa"; os efeitos de "um sistema administrativo, antes político, que de administração"; as resultantes das "influências dos clubes [lóbis], que se não tolhem, ao menos embaraçam a acção do governo"; da "existência de Corpos Legislativos, que nem sequer têm pago à nação, o juro, que lhes tem custado, e donde, além do mais, têm saído estendidos exemplos de imoralidade"; da "má organização das repartições públicas, aonde o pessoal é muito e o serviço…". O resultado da "falta duma lei de responsabilidade"; (…) da "existência de uma horrorosa dívida interna e externa" ; de "um sistema financeiro e de cobrança moroso, complicado, e cheio de descontos, repartidos por mil e mil empregados"; da "agiotagem, dessa peste da sociedade que especula na miséria, alenta em sangue, e vive das lágrimas"; de "não se compreender bem a importância da marinha, sendo ela uma das leis da nossa existência social". (…) os resultados "do nosso atraso económico"; do "desaproveitamento que se tem feito, de pensamentos utilíssimos nascidos de pessoas ou de sociedades, que se ocupam ou têm ocupado no estudo do Direito, da Medicina, da Agricultura" ; do "mau cálculo, que se tem feito a respeito da política externa, e, também por a, algumas vezes, mal trazida razão, de que somos pequenos"; do "juízo pouco favorável, que lá fora se faz a nosso respeito, tendo-se descuidado o governo de nos fazer lá melhor conhecer por os meios adequados". Múltiplas eram as causas dos nossos males políticos, sendo, entre elas, bem grandes, finalmente, "a maldade e a ignorância, tendo andado aquela tão descurada quanto esta se há-de aumentar", porque também a instrução pública estava "em mau arranjo". Mas como era tudo castigo da Providência, propunha o publicista que nos melhorássemos a nós próprios, porque então melhoraria Deus o país, e mesmo sem que aguardássemos "sucessos extraordinários", pois também pelos ordinários obrava a Providência, de quem tudo é neste mundo".
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