segunda-feira, junho 28, 2010

A mim não me interessa o que o Senhor Ordinário Castrense aceita!

Ouvi em tempos a um sacerdote da FSSPX esta história, ocorrida numa igreja paroquial de França, no final dos anos 60, começo dos anos 70, no período de grande turbulência que se seguiu ao encerramento do Concílio V-2. Durante a homília de uma Missa dominical, o pároco perorava nos seguintes termos, nele já habituais: "Sobre isto eu penso que… Sobre aquilo eu penso que… Sobre aqueloutro eu penso que…" Exasperado com este tique, um paroquiano interrompeu tal homília (algo que só se deve fazer em circunstâncias absolutamente excepcionais) e disse: "A mim não me interessa o que o Senhor Padre pensa! Interessa-me antes o que a Igreja pensa!"

Vem esta história a propósito de uma recente e deplorável entrevista concedida por D. Januário Torgal Ferreira, Ordinário Castrense, ao jornal "I". Em tal entrevista, que nem chega a escandalizar (capacidade que o entrevistado, com a sua sede de protagonismo mediático exibicionista, perdeu há muito), D. Januário declara aceitar que dois homens vivam juntos no âmbito de uma relação homossexual. Ora, a este respeito, à imagem do paroquiano francês da história acima relatada, afirmo: "A mim não me interessa o que o Senhor Ordinário Castrense aceita ou deixa de aceitar! Interessa-me antes o que a Igreja aceita ou não!"

E o facto é que a Igreja não aceita, nunca aceitou e jamais aceitará que dois homens possam viver juntos no âmbito de uma relação homossexual! Para bispos lusitanos heréticos e cismáticos "de facto" face a Roma, demais católicos de letreiro e trastes quejandos, nada melhor do que recordar o magistério ordinário constante (e portanto infalível) da Igreja sobre esta matéria, bem plasmado nas "Considerações sobre os Projectos de Reconhecimento Legal das Uniões entre Pessoas Homossexuais", da Congregação para a Doutrina da Fé, redigidas em 2003 pelo então Cardeal Joseph Ratzinger e aprovadas pelo Papa João Paulo II, de que aqui cito um trecho:

Não existe nenhum fundamento para equiparar ou estabelecer analogias, mesmo remotas, entre as uniões homossexuais e o plano de Deus sobre o matrimónio e a família. O matrimónio é santo, ao passo que as relações homossexuais estão em contraste com a lei moral natural. Os actos homossexuais, de facto, "fecham o acto sexual ao dom da vida. Não são fruto de uma verdadeira complementaridade afectiva e sexual. Não se podem, de maneira nenhuma, aprovar".

Na Sagrada Escritura, as relações homossexuais "são condenadas como graves depravações... (cf. Rm 1, 24-27; 1 Cor 6, 10; 1 Tm 1, 10). Desse juízo da Escritura não se pode concluir que todos os que sofrem de semelhante anomalia sejam pessoalmente responsáveis por ela, mas nele se afirma que os actos de homossexualidade são intrinsecamente desordenados". Idêntico juízo moral se encontra em muitos escritores eclesiásticos dos primeiros séculos, e foi unanimemente aceite pela Tradição católica.

Também segundo o ensinamento da Igreja, os homens e as mulheres com tendências homossexuais "devem ser acolhidos com respeito, compaixão e delicadeza. Deve evitar-se, para com eles, qualquer atitude de injusta discriminação". Essas pessoas, por outro lado, são chamadas, como os demais cristãos, a viver a castidade. A inclinação homossexual é, todavia, "objectivamente desordenada", e as práticas homossexuais "são pecados gravemente contrários à castidade".

Mais claro é impossível!

Ler também sobre este assunto:

- Portuguese Bishop: OK with men who "live" with other men; for artificial contraception [D. Januário Torgal Ferreira em "grande estilo" no "Rorate-Caeli"!];

- "Conclusões e Conclusões", no "Logos";

- "Notícia de última hora: Igreja cismática portuguesa - bispo concorda com homem que ama e vive com outro homem", no "Tradição Católica";

- "Da contínua apostasia na Igreja portuguesa", na "Tribuna".

sábado, junho 26, 2010

Roy Campbell


Roy Campbell. Poeta a redescobrir. Sul-africano anglófono. Zulu branco. Convertido ao Catolicismo. Participante na Cruzada Espanhola. Tradutor de Camões e Fernando Pessoa.

Christ in Uniform

Close at my side a girl and boy
Fell firing, in the doorway here,
Collapsing with a strangled cheer
As on the very couch of joy,
And onward through a wall of fire
A thousand others rolled the surge,
And where a dozen men expire
A hundred myrmidons emerge -
As if Christ, our Solar Sire,
Magnificient in their intent,
Returned the bloody way he went,
Of so much blood, of such desire,
And so much valour proudly spent,
To weld a single heart of fire.

Roy Campbell, in "Selected Poems - Edited and introduced by Joseph Pearce", London, The Saint Austin Press, 2001


Evocando novamente Couto Viana

A propósito de uma mesquinha polémica recentemente ocorrida, bem demonstrativa do primarismo mental de quem a provocou, apetece-me evocar novamente Couto Viana.

A Minha Terceira Grande Guerra

Menino, ouvi que a pátria da minha Mãe, a Espanha,
Fuzilava, vermelha, na fronteira
Que o rio Minho banha,
O fidalgo, o burguês, o padre, a freira.

Logo a minha cidade
Se encheu de fugas precipitadas.
E havia mais convívio e liberdade
No cinema, nos jardins, nas esplanadas.

Falava-se galego em toda a parte.
E eu via, com alegre sobressalto,
Um comboio de víveres que parte;
Um jovem se alista, braço ao alto.

Morrera minha Avó ao cercarem Oviedo.
González Peña, seu sobrinho,
Combatia em Madrid. Mas isto era um segredo
Que feria a família como a espada do espinho.

O hino Cara al Sol, com letra tão bela,
Cantava-o minha Mãe. Clarim nos meus ouvidos!
E, enquanto eu me sonhava de guarda a cada estrela,
Sem distinção de credos, era Ela
Que me punha a rezar por todos os caídos!

António Manuel Couto Viana, de "O Senhor de Si", in "António Manuel Couto Viana - 60 Anos de Poesia", Lisboa, Imprensa Nacional, 2004.

sábado, junho 19, 2010

Saramago segundo Nosso Senhor

Est' ano Senhora trago
Comigo um pesado encargo
Intenção extra e concisa:
A de orar por Saramago
Que coitado bem precisa

Não tivesse Cristo-Rei
Um tão imenso fair-play
E já irmão Saramago
Agora teria pago
Com juro e língua de palmo
O seu sacrílego salmo…

José Saramago, visto
Ao vivo por Jesus Cristo…
Saramago o escritor
Biografadinho e descrito
Segundo Nosso Senhor:
Havia de ser bonito!...

O que salva é Cristo-Rei
Ter um tão grande fair-play
Quando não Virgem Maria
Esse Evangelho vermelho
Onde é que já não estaria

Proponho assim, por descargo
- Como quem dá a camisa -
Rezarmos por Saramago
Que bem precisa coitado…!
Mãe dos Céus, Oh se precisa.


Rodrigo Emílio

segunda-feira, junho 14, 2010

Os Sentinelas da Noite



Belíssimo documentário recentemente laureado com o Prémio Marcel Julian 2010, do Clube Audiovisual de Paris, e que reporta o quotidiano dos monges do Barroux. O respectivo DVD pode ser encomendado directamente do sítio da própria Abadia (a entrega postal do meu exemplar foi feita em menos de uma semana).

Pensar e agir em conformidade com a modernidade socrática - 2


Professor Orlando Fedeli


Nunca conheci pessoalmente Orlando Fedeli, mas desde que reverti ao Catolicismo e descobri a Tradição, passei a ler com grande interesse e proveito todos os artigos que o Professor publicava no sítio da "Montfort", e isto apesar da minha discordância quanto ao fundo de alguns e à forma de outros. Sem prejuízo, jamais deparei neles com a defesa de qualquer erro contra as verdades de fé e moral católicas. De facto, a qualidade da árvore afere-se pelos frutos que dá: nos seus escritos, Orlando Fedeli posicionou-se sempre como um homem que amava com intensidade a Igreja, a Tradição e o Papado, e que não hesitava em testemunhar publicamente o nome de Cristo! Coisa pouco comum nos dias de hoje. Que descanse na Paz do Senhor!

Em memória de Couto Viana


Esfera Armilar

Minha Mãe apontou-me, entre cumes nevados,
Um caminho viril que a fé prolonga.
E disse: - Vai entre soldados.
É perto Covadonga.

E, na praia solar, apontou-me meu Pai
Um caminho salgado aberto às velas.
E disse: - Vai
Descobrir, para Deus, novas estrelas.

Segui-lhes os caminhos. A batalha foi ganha.
O mar sem fim achou final.
É pátria minha cada terra estranha.
Tenho uma alma universal,
Só porque sou Espanha
E Portugal.

António Manuel Couto Viana, de "O Velho de Novo", in "António Manuel Couto Viana - 60 Anos de Poesia", Volume II, Lisboa, Imprensa Nacional, 2004.