terça-feira, setembro 05, 2017

"Condicionalmente Humano", de Walter M. Miller, Jr.




De férias, retorno à leitura de Walter M. Miller, Jr., desta feita, da trilogia de contos intitulda “Conditionally Human” ou, na sua tradução espanhola, “Condicionalmente Humano". Uma vez mais, o autor da obra-prima que é “A Canticle for Leibowitz” (“Um Cântico para Leibowitz”) não desaponta, manifestando todo o seu talento de escritor em que o Catolicismo é influência mestra.

Escritos na década de 1950, “Conditionally Human” (“Condicionalmente Humano”), que dá o nome à trilogia, em 1952, “The Darfsteller” (“El Darfsteller”), em 1955, e “Dark Benediction” (“Benedicion Oscura”), em 1951, Miller aborda, nos dois primeiros, com notável antecipação profética as problemáticas do trans-humanismo e também da cultura da morte (esta última, apenas em “Conditionally Human”), enquanto no terceiro se dedica ao tema que nele é recorrente da sua decepção com a natureza humana decaída, no limar de um simiesco que lhe é poupado apenas por causa da redenção cristã.

Em resumo, pode afirmar-se que Miller, muito mais do que um simples autor de ficção científica (rótulo com que é habitualmente classificado), é antes um grande escritor e, acima de tudo, um grande escritor católico.

Da tradução espanhola do conto “Dark Benediction”, por sinal o meu preferido dos três, transcrevo o trecho infra, com um travo tão “milleriano”:

La oscilación de la puerta le dejó entrever a Paul un altar iluminado por velas y un austero crucifijo de madera. También había un mar de túnicas blancas en los bancos, que esperaban la entrada en el templo del sacerdote que celebraría la misa. Y entonces advirtió vagamente que era domingo.

Paul regresó al pasillo central y se sorprendió de ir dirigido a la habitación de Willie. La puerta estaba entornada, y se paró en seco por temor a que ella lo viera. Pero al cabo de un momento se acercó hasta que pudo verle la masa de cabello oscuro esparcida sobre la almohada. Una de las hermanas la había peinado; el cabello se extendía en ondas oscuras, brillantes a la luz de las velas. Todavía dormía. La vela lo sobresaltó, pues le evocó un lecho de muerte y la extremaunción. Pero al lado había una revista ajada; alguien le había estado leyendo.

Se detuvo en la puerta. La observaba respirar lentamente. Fresca, joven, atractiva, aun con la tosca bata de algodón que le habían dado, aun con la palidez azulada de la piel, que pronto se volvería gris como el cielo nuboso en un crepúsculo invernal. Willie movió ligeramente los labios y Paul retrocedió un paso. Los labios se entreabrieron y mostraron los dientes filosos y blancos. La cara, tallada con delicadeza, se hundió un poco en la almohada. La quijada se crispó de golpe.

Una voz extrañamente modulada flotó de pronto pasillo abajo, un eco de la salmodia del canto gregoriano: Asperges me, Domine, hyssopo et mundabor… El sacerdote entonaba la misa.

segunda-feira, julho 10, 2017

Universidade de Verão 2017 da FSSPX-Portugal

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Monsenhor Athanasius Schneider em Fátima


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Actualidade do Padre Manuel Bernardes



À semelhança do Padre António Vieira, da Companhia de Jesus, o Padre Manuel Bernardes, da Congregação do Oratório, é um dos grandes mestres da língua portuguesa; porém, a obra do oratoriano, de natureza eminentemente espiritual, desprovida da dimensão político-social da do jesuíta, tem vindo progressivamente a cair num injusto olvido, e tanto mais que, para além da mestria formal da escrita de Bernardes, a doutrina por ele transmitida se encontra solidamente escorada na tradição católica, demonstrando-o bem o trecho que abaixo passo a transcrever, pela sua temática, de absoluta actualidade.

Que avisos servirão aos concubinários para deixarem seu mau estado, e não tornarem a se implicar nele?

Responde-se, primeiramente: Importa que a pessoa que anda neste miserabilíssimo cativeiro aprenda e conheça bem o evidente perigo de sua condenação eterna em que vive. Tenha por certo que o Demónio lhe tapa os olhos da alma para que não lhe entre algum raio da luz do Céu, com que descubra estas verdades, e assim faça quantas diligências puder por olhar para si e dar lugar à luz da fé e da razão; porque deste conhecimento próprio depende o princípio do seu remédio. Que temeridade seria se um homem se pendurasse de um delgado fio, dentro de um poço profundíssimo? Pois diz-me, homem desatinado, que fio pode haver mais quebradiço e fraco que o da vida humana? Ou que poço mais profundo que o do Inferno? Tu bem poderás não considerar estas verdades: mas negá-las não podes, ainda que queiras, pois são de fé. É de fé que hoje e agora, logo podes morrer; é de fé que se morres nesse estado, vás a pique ao Inferno, e que uma vez caído dentro, não tens remédio enquanto Deus for Deus. Pois diz-me: como te atreves a viver no estado em que não te atreves a morrer: Quomodo vivere non times, ubi mori non audes? De quem te fias, néscio? De ti não, porque tu não te podes valer para que vivas mais, ou para que morrendo não te condenes. Do mundo não, porque também te não pode ajudar nem na morte, nem no Inferno; e quem pudera, não se lhe dá de ti, nem de ti se lembra. Do Demónio a quem serves, também isso não está na sua mão: e ele é o que mais deseja levar-te, e já o teria feito, se Deus lhe desse licença. De Deus, Ele está em grave ódio contigo, porque O ofendes e desprezas, nem te deu palavra de que morrerás só quando estiveres convertido. Pois de quem tem fias, néscio e insensato?

Oh que este Senhor é de infinita misericórdia e fácil de perdoar, e conhece nossa fraqueza. Tudo isto concedo, mas que inferes daí? A misericórdia Divina é infinita em si, mas não é infinita em todos os seus efeitos; assim como o tesouro de um rei é grande, mas daí não se segue que dá quantas esmolas que cabem na posse desse tesouro. Bem pode a misericórdia de Deus salvar todo o mundo, e contudo é de fé que a maior parte do mundo não se salva: Multi enim sunt vocati, pauci vero electi. Pois porventura deixa por isso de ser a misericórdia de Deus infinita, ou deixam os maus e obstinados de ir ao Inferno? Deus perdoará, se quiser, por sua bondade livre; e não perdoará, se não quiser, por sua vontade justa. Perdoará se te converteres; mas se te não converteres, como esperas que te perdoe? Ele sabe a tua fraqueza: Ipse cognovit figmentum nostrum; mas também conhece a tua malícia: Pravum est cor hominis, quis cognoscet illud? Ego Dominus scrutans cor, et probans renes qui do unicuique juxta viam suam; e conhece a ajuda que tens na sua graça; e se tu enjeitas a sua graça, que ajuda a tua fraqueza, já és fraco, porque o queres ser, que é o mesmo que seres malicioso. Logo, a tua esperança é falsa, pois se funda só na tua apreensão e no desejo dissimulado de que Deus te deixe pecar quanto quiseres e depois te salve, ainda que não queiras.

(…)

E como isto são delírios de frenético, não seria acertado responder-lhes. Mas porque tão-pouco o seria desprezar estas almas, pois ainda podem tornar em si, apontarei aqui as diligências que se hão-de aconselhar a tais desesperados.
1. Cheguem-se muitas vezes ao confessor, ainda que os não absolva.

2. Rezem o Rosário, Coroa ou Terço à Virgem Senhora Nossa todos os dias, ainda que vá mal rezado.

3. Dêem esmolas com afecto de compaixão do pobre, e mandem dizer missas por remissão dos seus pecados.

4. Ouçam a palavra de Deus e leiam vidas de Santos, ainda que lhes custe repugnância e tormento da consciência.

5. Sirvam na Irmandade do Santíssimo Sacramento, honrando-o, acompanhando-o e despendendo para o seu culto, porque é culto do Senhor.

6. Travem amizade com pessoas que estão em fama de que agradam a Deus, e as sirvam e ajudem no que puderem.

7. Se houver ocasião de fazer ausência por causa de qualquer negócio, voto, ou romaria, não a percam.

8. Olhem devotamente para a Imagem de algum Crucifixo, fazendo por compadecer-se de suas penas, e digam: Misere mihi misero, misericordiosissime Deus: Havei misericórdia deste miserável, ó Deus misericordiosíssimo.

9. Leiam alguns exemplos horríveis nesta matéria, que não faltam pelos livros(…).

Padre Manuel Bernardes, in “Armas da Castidade”, Porto, Lello & Irmão, s/d, páginas 144 a 148.

terça-feira, julho 04, 2017

De regresso

“A Casa de Sarto” vai retomar a sua actividade. Sempre em defesa da tradição católica, dando enfâse ao estudo da teologia da história e à reflexão metapolítica. Até muito em breve, pois!