terça-feira, julho 22, 2014

Sobre a obra de Francisco Costa

Uma vez mais, regresso da leitura de Francisco Costa: concluí há não muito a trilogia “Em Busca do Amor Perdido”, composta por “Acorde Imperfeito”, “Nocturno Agitado” e “Cântico em Tom Maior”, já só me faltando ler “Promontório Agreste” para fazer o pleno da obra romanesca deste autor.
De facto, Francisco Costa é uma grande figura esquecida da literatura portuguesa do século XX. Entre nós, julgo não ter paralelo a mestria com que este autor domina as suas personagens, as quais se vão cruzando e interagindo umas com as outras ao longo dos seus romances, num processo estilístico de que na nossa literatura apenas Joaquim Paço d’Arcos se conseguiu aproximar, em muito menor grau, no conjunto de trabalhos que constituem as “Crónicas da Vida Lisboeta”.
Só pelo supra exposto, Francisco Costa mereceria ser redescoberto ou, ao menos, reconsiderado na história literária contemporânea portuguesa, ainda que a sua obra possa porventura ser pouco apelativa à generalidade do público leitor dos nossos dias.
Na verdade, trata-se de um romancista eminentemente católico, que retrata nos seus trabalhos, nas suas personagens, os dramas de vidas e consciências divididas entre a tentação do pecado e o apelo da fé católica, dilema que contemporaneamente, num tempo em que a noção de pecado se esbateu quase por completo, continuará a dizer algo apenas à minoria que se reclama do tradicionalismo católico.
De igual modo, também os bons e ortodoxos sacerdotes católicos por ele descritos têm um estilo que há muito se desvaneceu no turbilhão da revolução pós-conciliar, e que actualmente subsiste tão-só na Fraternidade Sacerdotal de São Pio X e, quiçá, em algumas comunidades tradicionalistas integrantes da “Ecclesia Dei”, mas jamais na média do clero diocesano comum.
Em resumo: a obra de Francisco Costa, sem prejuízo da sua grandeza estética, é susceptível de ser desfrutada em pleno somente por quem tiver um razoável conhecimento teórico-prático do catolicismo tradicional, circunstância que atira essa obra, como já o escrevi antes, para as mãos de uma pequena minoria. E, desta maneira, alcança-se que o desinteresse hodierno pelo romance católico e a subsequente derrocada deste é também uma das muitas manifestações da derrocada mais lata da religião pós-conciliar.