Na sequência dos acontecimentos de Rafah, na semana passada, em que uma operação militar israelita causou a morte a quarenta e dois palestinianos, a administração norte-americana reagiu àqueles dizendo que o Estado de Israel tem todo o direito a exercer a sua legítima defesa e, sem ter apoiado explicitamente tal actuação, recusou a expressa condenação da mesma.
Por mim, não duvido do juízo norte-americano: evidentemente que Israel tem todo o direito a exercer a sua legítima defesa, ainda que atacar uma manifestação a tiros de morteiro disparados a partir de helicópteros, ou proceder ao desalojamento de três mil pessoas por intermédio da demolição forçada das suas casas de morada, me pareça tipificar antes um óbvio caso de excesso dessa legítima defesa e isto sem prejuízo, pela minha parte, de não manifestar qualquer simpatia pelo terrorismo fundamentalista islâmico e o conceito civilizacional a ele inerente. De resto, não deixa de ser curioso que muitos dos que vergastam a Igreja pela sua postura histórica face ao Islão, nomeadamente através das cruzadas, surjam agora alardear grande amizade por Israel e pelo seu combate contra o dito fundamentalismo islamita.
Outrossim, no meio desta história toda, ressalta uma vez mais a costumeira repugnante duplicidade de critérios de Washington: por exemplo, a Sérvia, pela prática de actos bem menos gravosos do que aqueles de que se dá conta no começo do parágrafo precedente, e por haver tido a ousadia de se defender legitimamente no Kosovo, coração histórico do seu território nacional, dos ataques de um grupo terrorista fundamentalista islâmico patrocinado pelos EUA - o UÇK -, foi brutalmente agredida por esses mesmos EUA, que aproveitaram essa factualidade para dar mais um passo na experimentação e instauração da sua Nova Ordem Mundial, desprezadora das soberanias dos estados nacionais clássicos. Como é óbvio, idêntica actuação em relação a Israel está completamente fora de causa: afinal, tudo não passa de uma questão de influência discreta nos bastidores de Washington…
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