terça-feira, outubro 05, 2004

São Pio X e a República Portuguesa

Pensamos, Veneráveis Irmãos, que Vos é suficientemente conhecido o inacreditável curso que, há muito tempo, tomou em Portugal a inumanidade dos crimes que oprimem a Igreja. Com efeito, quem não sabe? Desde que a República se tornou ali forma de governo, começaram a ser continuadamente promulgadas medidas que respiram um rancor inexplicável contra a Igreja. Vimos as Ordens Religiosas violentamente expulsas e a maior parte dos seus membros lançados impiedosamente para fora das fronteiras de Portugal. Vimos pôr um cuidado encarniçado em não deixar subsistir nenhum vestígio de religião em nenhuma organização civil, nem nos actos da vida normal; as solenidades da Igreja riscadas do número de dias feriados; o juramento, privado de todo o carácter religioso; a lei do divórcio, estabelecida a toda a pressa; a instrução religiosa banida das escolas públicas. Enfim, passando em silêncio outros atentados cuja lista seria longa, os Bispos sofreram uma impetuosa pressão, e dois muito célebres Bispos, do Porto e de Beja, homens ilustres tanto pela integridade das suas vidas como pelos serviços prestados à Pátria e à Igreja, foram depostos das suas Sedes e da sua dignidade.

Enquanto os novos governantes portugueses davam tantos e tão funestos exemplos de excesso de poder, sabeis quanta paciência e quanta moderação a Santa Sé teve a seu respeito. Estimámos que era preciso evitar, com o maior cuidado, tudo o que pudesse parecer um acto de hostilidade para com a República. (…) Mas nós fomos totalmente desiludidos: eis que cumulam a sua obra nefasta com a promulgação da muito má e muito perniciosa Lei da Separação da Igreja e do Estado. O dever do Nosso cargo apostólico, de nenhum modo Nos permite tolerar mais, nem passar mais tempo um tão grave atentado aos direitos e à dignidade da religião católica. É por isso que, nesta carta, apelamos a Vós, Veneráveis Irmãos, e denunciamos à cristandade inteira toda a indignidade dessa conduta.


São Pio X - Encíclica Jamdudum, 24 de Maio de 1911

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