sexta-feira, junho 18, 2004

Romance de Onésimo Redondo

Um dos aspectos não menos interessantes da colectânea "60 Anos de Poesia", de António Manuel Couto Viana, recentemente publicada pela Imprensa Nacional - Casa da Moeda", diz respeito à tradução que esse autor fez para português de poesia nacionalista da guerra civil de Espanha, um tema recorrente neste blogue. Como exemplo, aqui fica o "Romance de Onésimo Redondo", de Augustin de Foxá:

Com Onésimo Redondo
iremos subir à Serra.
Está Castela em perigo
e Valladolid não espera.

Vê-se lá das alturas
Madrid envolta na névoa.
A coluna de Mangada
vem destruindo as Igrejas
e arde nas eiras da aldeia
uma Virgem de madeira.

Carrega a espingarda: avisto
soldados dele entre as penhas!
- Ai, não passes por Labajos,
que ali a morte te espera!
Olha que diz um presságio
que morrerás nessas terras.

Onésimo não faz caso,
no automóvel se senta.

Adeus meu pai, minha mãe,
adeus esposa morena,
irei aos pinos da neve
para cravar cinco flechas!
Já subia pelo monte,
já corria na ladeira,
e estavam os loiros trigos
todos vestidos de festa,
sonhando ser pães honrados,
roscas dos dias solenes,
quando os da F.A.I. o mataram
com um tiro, numa espera.

Não há papoila em Castela
melhor que essa ferida aberta!

Como choravam as árvores
e a água das acéquias,
as colmeias nos penedos
e o redil das ovelhas:
- Ai, que mataram Onésimo!
grita o pastor. E Presente!
respondem todos os campos,
desde Segóvia a Palência.

Vaqueiros do Guadarrama,
nata e aurora das cimeiras,
amigos do Arcipreste,
salineiros de Sigüenza,
ferreiros de Ávila e Burgos,
pastores da grande Meseta,
teólogos de Salamanca
tecedores de Béjar,
camponeses falangistas,
Ferro e Pão numa só peça,
Chorai, que já está Onésimo
envolto numa bandeira.

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