A propósito da corrente campanha eleitoral, onde se tem vindo a assistir às costumeiras picardias apalhaçadas tão típicas dos políticos às ordens do sistema nestas ocasiões, os quais gostam de fingir que há divergências reais e efectivas entre eles, conviria relembrar aqui um extracto da nota doutrinal sobre o empenhamento e comportamento dos católicos na vida política, de autoria do Cardeal Ratzinger, e aprovada pelo Papa João Paulo II, em 21 de Novembro de 2002:
"(…) a consciência cristã bem formada não permite a ninguém favorecer com o seu voto a realização de um programa político ou até de uma única lei, em que os conteúdos fundamentais da fé e da moral estejam subvertidos pela apresentação de propostas alternativas ou contrárias a tais conteúdos. Como a fé constitui uma unidade indivisível, não é lógico o isolamento ou separação de um só que seja dos seus conteúdos em prejuízo da totalidade da doutrina católica. O empenhamento político por um aspecto isolado da doutrina social da Igreja não é suficiente para esgotar a responsabilidade pelo bem comum. Por outro lado, o católico não pode pensar em delegar noutros a obrigação que lhe advém do Evangelho de Jesus Cristo de que a verdade sobre o homem e sobre o mundo seja anunciada e alcançada. Quando a acção política é confrontada com princípios morais que não admitem anulação, excepção ou compromisso algum; o empenhamento dos católicos torna-se mais evidente e cheio de responsabilidade. Com efeito, diante destas exigências éticas fundamentais e irrenunciáveis, os crentes devem saber que está em jogo a essência da ordem moral que visa o bem integral da pessoa. Estão neste caso as leis civis em matéria de aborto e de eutanásia (…), que devem tutelar o direito primário à vida desde a sua concepção até ao seu termo natural. (…) Analogamente, devem ser salvaguardadas a tutela e a promoção da família, fundada no matrimónio monogâmico entre pessoas de sexo diferente e protegida na sua unidade e estabilidade, face às modernas lei do divórcio; porque não se lhe podem comparar juridicamente, de modo nenhum, outras formas de convivência, nem estas, enquanto tais, podem receber o mesmo reconhecimento legal. Assim como a garantia da liberdade de educação dos pais para os seus filhos é um direito inalienável (…). Na mesma linha, deve-se pensar na tutela social dos menores e na libertação das vítimas das modernas formas de escravidão (bastará pensar, por exemplo, na droga e na exploração da prostituição). Também não pode ficar de fora desta lista o direito à liberdade religiosa e o desenvolvimento de uma economia que esteja ao serviço da pessoa e do bem comum, no respeito pela justiça social, do princípio da solidariedade, segundo o qual devem ser reconhecidos os direitos das pessoas, famílias e grupos sociais, bem como o exercício dos mesmos. Finalmente, como não ver nesta exemplificação o grande tema da paz".
Perante a clareza deste ensinamento, na sua quase totalidade em completa conformidade com a tradição católica - deplora-se apenas a confusão pós-conciliar entre liberdade e tolerância religiosa… -, torna-se inútil enunciar, de modo expresso, em que associações políticas do espectro partidário português está um católico impedido de votar…
Por mim, questionaria tão-só: e deve um católico manter-se indiferente, fingindo que não se passa nada, face a partidos que entendem que o aborto é um não-problema ou que sufragam a consagração constitucional do princípio da não discriminação em virtude da "orientação sexual", isto é, perante partidos que não hesitam em desempenhar o papel de tontos úteis na guerra cultural que é movida aos valores cristãos que tradicionalmente enformam a matriz civilizacional ocidental?... É caso para reflectir, nesta hora de eleições…
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