Confesso que foi de extremo desagrado a minha primeira reacção às declarações de Monsenhor Williamson, depois de as mesmas haverem sido convenientemente desenterradas pela televisão sueca, na sequência do levantamento das excomunhões dos quatro bispos da FSSPX. Na altura, mandei uma carta ao Rafael Castela Santos, que o conhece pessoalmente, criticando o bispo tradicionalista em termos muito duros e até injustos.
Uma semana depois, e já com a miserável campanha à escala global entretanto desencadeada contra o Santo Padre e a FSSPX em pleno desenvolvimento, escrevi um artigo aqui publicado e intitulado "O caso Williamson", que supunha ser o primeiro e último que redigiria sobre o assunto. Suposição errada porquanto sou agora forçado a abandonar o papel de crítico do Bispo Williamson e assumir o de seu defensor.
Porquê?! Porque ajuízo como absolutamente inadmissível tudo o que se passou na última semana envolvendo a pessoa daquele, desde a sua saída forçada da Argentina até à reacção à apresentação do seu segundo pedido público de desculpas.
Apesar de não terem sido negacionistas, as declarações de Monsenhor Williamson sobre o denominado Holocausto foram imponderadas, imprudentes e infelizes - disse-o antes e repito-o agora; porém, em nada infringiram as leis divina e natural, já que tiveram por objecto matéria histórica, decerto grave, mas não-dogmática e portanto sujeita a livre apreciação. Deste modo, pelo simples facto de as haver pronunciado, acho intolerável acossá-lo como se fosse um animal feroz ou persegui-lo como se tratasse de um malandrim sem escrúpulos. Que ninguém rasgue farisaicamente vestes face a tais declarações, num mundo que permite que ateus, satanistas, pederastas, sodomitas, aborcionistas e eutanasistas defendam e promovam com total liberdade as suas perversões, imposturas e mentiras! Basta de hipocrisia!
Mais escandalosa ainda é a reacção de alguns aos dois pedidos de desculpas públicas já feitos por Monsenhor Williamson, onde se retracta das suas infelizes declarações. Parece que tais retractações, que evidenciam uma enorme humildade de carácter bem contrastante com o orgulho tão típico do homem moderno, não são suficientes para esses.
E quem são esses? Aqueles que não pretendem qualquer retractação do Bispo Williamson, mas antes, tão-só e nada mais do que a sua autocrítica pública à maneira dos condenados dos julgamentos populares da Rússia estalinista e da China maoísta, na qual renegue em absoluto a sua volição e consciência, e aceite acriticamente a existência do dogma onde não existe dogma!
Mil Novecentos e Oitenta e Quatro? Sem dúvida que sim!
Wiston, mergulhado no seu sonho feliz, nem reparou que lhe enchiam o copo. Já não estava a correr nem a dar vivas. Encontrava-se de novo no Ministério do Amor, e tudo fora perdoado: tinha a alma branca como a neve. Encontrava-se no banco dos réus, a confessar tudo, a denunciar toda a gente. Caminhava pelo corredor de ladrilhos brancos, com a sensação de quem caminha ao sol, e atrás de si vinha um guarda armado. A tão esperada bala entrava-lhe enfim no cérebro.
Ergueu os olhos para o rosto enorme. Levara quarenta anos a descobrir que sorriso se escondia atrás do bigode negro. Oh, cruel e desnecessário mal-entendido! Oh, teimoso e voluntário exílio do peito amantíssimo! Duas lágrimas impregnadas de gin escorreram-lhe de ambos os lados do nariz. Mas estava tudo bem, tudo bem, a luta chegara ao fim. Alcançara a vitória sobre si próprio. Amava o Grande Irmão. (George Orwell, Mil Novecentos e Oitenta e Quatro, Lisboa, Edições Antígona, 1999)
Curiosamente, Richard Williamson é um profundo conhecedor da obra de George Orwell, como pode comprovar-se aqui.
Ler também:
- "Um imenso blefe diabólico", no "Contra Impugnantes";
- "El patriarca antediluviano o Mons. Williamson", no "La Honda de David".
Uma semana depois, e já com a miserável campanha à escala global entretanto desencadeada contra o Santo Padre e a FSSPX em pleno desenvolvimento, escrevi um artigo aqui publicado e intitulado "O caso Williamson", que supunha ser o primeiro e último que redigiria sobre o assunto. Suposição errada porquanto sou agora forçado a abandonar o papel de crítico do Bispo Williamson e assumir o de seu defensor.
Porquê?! Porque ajuízo como absolutamente inadmissível tudo o que se passou na última semana envolvendo a pessoa daquele, desde a sua saída forçada da Argentina até à reacção à apresentação do seu segundo pedido público de desculpas.
Apesar de não terem sido negacionistas, as declarações de Monsenhor Williamson sobre o denominado Holocausto foram imponderadas, imprudentes e infelizes - disse-o antes e repito-o agora; porém, em nada infringiram as leis divina e natural, já que tiveram por objecto matéria histórica, decerto grave, mas não-dogmática e portanto sujeita a livre apreciação. Deste modo, pelo simples facto de as haver pronunciado, acho intolerável acossá-lo como se fosse um animal feroz ou persegui-lo como se tratasse de um malandrim sem escrúpulos. Que ninguém rasgue farisaicamente vestes face a tais declarações, num mundo que permite que ateus, satanistas, pederastas, sodomitas, aborcionistas e eutanasistas defendam e promovam com total liberdade as suas perversões, imposturas e mentiras! Basta de hipocrisia!
Mais escandalosa ainda é a reacção de alguns aos dois pedidos de desculpas públicas já feitos por Monsenhor Williamson, onde se retracta das suas infelizes declarações. Parece que tais retractações, que evidenciam uma enorme humildade de carácter bem contrastante com o orgulho tão típico do homem moderno, não são suficientes para esses.
E quem são esses? Aqueles que não pretendem qualquer retractação do Bispo Williamson, mas antes, tão-só e nada mais do que a sua autocrítica pública à maneira dos condenados dos julgamentos populares da Rússia estalinista e da China maoísta, na qual renegue em absoluto a sua volição e consciência, e aceite acriticamente a existência do dogma onde não existe dogma!
Mil Novecentos e Oitenta e Quatro? Sem dúvida que sim!
Wiston, mergulhado no seu sonho feliz, nem reparou que lhe enchiam o copo. Já não estava a correr nem a dar vivas. Encontrava-se de novo no Ministério do Amor, e tudo fora perdoado: tinha a alma branca como a neve. Encontrava-se no banco dos réus, a confessar tudo, a denunciar toda a gente. Caminhava pelo corredor de ladrilhos brancos, com a sensação de quem caminha ao sol, e atrás de si vinha um guarda armado. A tão esperada bala entrava-lhe enfim no cérebro.
Ergueu os olhos para o rosto enorme. Levara quarenta anos a descobrir que sorriso se escondia atrás do bigode negro. Oh, cruel e desnecessário mal-entendido! Oh, teimoso e voluntário exílio do peito amantíssimo! Duas lágrimas impregnadas de gin escorreram-lhe de ambos os lados do nariz. Mas estava tudo bem, tudo bem, a luta chegara ao fim. Alcançara a vitória sobre si próprio. Amava o Grande Irmão. (George Orwell, Mil Novecentos e Oitenta e Quatro, Lisboa, Edições Antígona, 1999)
Curiosamente, Richard Williamson é um profundo conhecedor da obra de George Orwell, como pode comprovar-se aqui.
Ler também:
- "Um imenso blefe diabólico", no "Contra Impugnantes";
- "El patriarca antediluviano o Mons. Williamson", no "La Honda de David".
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