Dragóscopio, na seu melhor prosa, fala-nos das diferenças entre o modo de bem-morrer na Idade Média, publico e privado, e os nossos tempos de mau-morrer. Tempos actuais das trevas e noites do espíritu. Tempos actuais do ferro. Tempos actuais de industrialização e banalização da morte.
A vigília hoje é nossa. A hora de quebrar cadeias ha chegado ou … mau-morrer é o paisagem certo.
Rafael Castela Santos
«O grande “espectáculo” medieval -a execução pública - está mais próximo da tragédia grega que do circo romano. Desperta sentimentos mais nas imediações do terror e da piedade que do gáudio violento e animalesco. É mais catarse que entretenimento. Os espectadores educam-se, aprendem uma profunda lição. Suspeitam que ao lado de cada condenado, no patíbulo derradeiro, na agonia final, vela ainda Cristo pregado à sua cruz, entre criminosos.
Chamamos à Idade Média a Idade das Trevas. Foi preciso esperar pelo Iluminismo da guilhotina, pelas harpias tricotadeiras da praça da Revolução, para que a execução fosse entregue a uma máquina e a morte ganhasse contornos de indústria e dignidades de burocracia. A chacina toma carácter de empreitada. O povo não aprende: vinga-se. Refastela-se nos seus mais baixos e primitivos instintos. A morte, enfim, banaliza-se. Já nada de trágico, ético ou profundo encerra. Mata-se um homem como se mata uma galinha. Pois a principal diferença entre ambos, a bem da Razão e da Liberdade, foi abolida.
Se chamamos Idade das Trevas à Idade Média e Idade das Luzes à Idade Moderna, então forçosamente, temos que chamar à nossa a Idade da Cegueira. Tanta luz cegou-nos. Tanta liberdade escraviza-nos.»
César Augusto Dragão
sexta-feira, julho 13, 2007
Idade da Cegueira
Publicada por
Rafael Castela Santos
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sexta-feira, julho 13, 2007
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