Dizia ironicamente Dietrich von Hildebrand que se Screwtape e Wormwood, os dois demónios personagens da obra-prima de C.S. Lewis "The Screwtape Letters", tivessem sido incumbidos de proceder à criação de um novo rito da Missa, ainda assim o desastre não seria tão grande como aquele que ocorreu com a reforma litúrgica de Paulo VI.
Vem isto a propósito de nos dois últimos fins-de-semana ter estado fora de Lisboa e assistido a celebrações realizadas em conformidade com as normas saídas daquela reforma, uma num concelho da diocese de Aveiro, outra num da diocese de Viseu. Finalmente, agora e há já algum tempo, depois de conhecer aprofundadamente a Missa tradicional de rito latino-gregoriano, percebo por que motivo durante tantos anos a fio me pareceu que a generalidade das Missas a que assistia não passavam de um frete, de uma estopada e de uma maçadoria absoluta, mau-grado a minha vontade de combater com denodo tal forma de sentir: é que, efectivamente, o problema não estava na minha pessoa, mas no próprio rito em que essas Missas eram e continuam a ser celebradas, o rito saído da reforma mencionada no parágrafo anterior, totalmente artificial, sem qualquer ritmo ou encadeamento, desprovido de dimensão sagrada, sacrificial e reverencial, carenciado da mínima espiritualidade, completamente virado que está para a adoração do… homem.
É certo que o novo rito, se cumprido rigorosamente à letra, apesar de todos os seus defeitos ainda seria tragável e conseguiria criar uma ilusão de aproximação à sempre válida e irrevogável Missa de rito latino-gregoriano, mas desafortunadamente, na generalidade das igrejas, os celebrantes esmeram-se por subvertê-lo por completo, tornando-o quase insuportável: nas duas Missas que presenciei, o "Kyrie" e o "Confiteor" foram pura e simplesmente suprimidos, numa delas o "Gloria" foi truncado e noutra coube tal sorte ao "Credo", e pareceu-me que nem sequer o próprio Cânon (!) se escapou a uns laivos de criatividade litúrgica dos oficiantes; por outro lado, estes, à revelia de todas as normas litúrgicas, não se coíbiram de introduzir na Missa orações de sua autoria, com um cunho mais ou menos "kitsch", pervertendo de forma decisiva aquelas que deveriam ser as principais características do culto católico: as suas unicidade e universalidade.
Dito isto, parece evidente que a queda abissal da frequência das Missas católicas se fica também a dever em boa parte a esta reforma desastrosa, e não só a um galgar do materialismo na sociedade. Ora, os Bispos portugueses, dominados pela ideologia modernista, continuam a fingir não ver aquela causa, e de modo tão chocante que o Motu Proprio "Ecclesia Dei", do Papa João Paulo II - veio autorizar a celebração da Missa de rito latino-gregoriano em todas as dioceses, na condição do Bispo local anuir nisso -, continua a não ter qualquer aplicação prática no nosso país. Até quando?...
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