segunda-feira, dezembro 25, 2006

Christmas regained

Dizem que nasci dum berço d’ouro.
Mas do que eu tenho saudades
é do soro do sono e do meu choro
nesta camita de grades,

a bordo da qual
já velejou e divagou meu pai
e viajou, por igual
o trevo de quatro filhos
em que o sangue se me esvai,
a tercer nós e atilhos …

Saudades tenho só
de ver o avô
a aconchegar-me ao corpo xale e colcha,
a afofar-me a almofada,
ou a enxotar, com a mão tosca,
uma mosca
endiabrada …

Saudades tenho, sim, da avó-madrinha,
com seu rosto de anjo antigo,
a recitar-me ao ouvido a ladaínha
do agouro e do perigo:
“Não percas de vista nunca a nossa linha,
Rodrigo …!
Olha ao que te diz tua madrinha!
Atende sempre àquilo que te eu digo,
Rodrigo …!”

Já agora menos nítido
que eles todos,
vou, à capela da casa, acender um castiçal
pelas suas altas almas e por seus preclaros
corpos;
a desejar, assim, “Feliz Natal!”
aos mais vivos dos mortos …

Rodrigo Emílio

(RCS)

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