segunda-feira, dezembro 27, 2010

Da correcta hermenêutica do Vaticano II

(...) De tudo isso resulta que o Concílio Vaticano II (como qualquer outro concílio) tem de ser interpretado (até mesmo o dogma deve sempre ser lido corretamente). Mas para uma interpretação correta são necessárias, basicamente, três coisas: 1) ter em conta a natureza pastoral do concílio e, portanto, um progresso ou regresso doutrinal, quando o novo é entendido como ruptura; 2) ter em conta o teor dos documentos do Concílio: os documentos como um todo são expressão de um magistério solene e ordinário autêntico; infalível apenas em reflexo, quando se recorda uma doutrina já definida ou uma doutrina definitiva sendo conservada, cuja segurança é expressa pelo próprio magistério. O progresso dogmático do Concílio Vaticano II, que pode indicar uma eventual continuidade/descontinuidade, deve ser avaliado à luz da teologia e medido com os instrumentos teológicos, pelo fato de estarmos diante de um magistério ordinário e não definitório. A teologia neste caso atua como serva do Magistério; 3) é necessário, enfim, contextualizar o Vaticano II, lendo também o contexto histórico que o afetava: a crise modernista do início do século XX; o grande desenvolvimento teológico e o novo método usado em teologia, nem sempre, todavia, em conformidade com o sentir da Igreja; a passagem da modernidade à pós-modernidade como crise dos próprios apogeus conquistados pela razão iluminada e pela vontade de se rebelar contra qualquer instituição — a contestação entrou também na Igreja — com a revolução cultural de 68. É necessário ter em consideração, em outras palavras, um mundo que mudou forte e drasticamente, já diferente daquele presente no Concílio e predito na análise da Gaudium et Spes. Daí a necessidade de uma análise crítica que seja construtiva para uma adequada interpretação do fato conciliar. A Igreja não começa com o Concílio, mas com Jesus Cristo. A regra última da avaliação da fé, na verdade, não é o Concílio, mas a Tradição da Igreja. O Concílio traz um progresso na compreensão da fé, é claro, mas não altera a Igreja. Se a Igreja mudou não é em razão do Concílio em si, mas de uma visão errada da “conciliaridade” e, por conseguinte, da própria Tradição da Igreja. [destaques meus] A Igreja convocou e aprovou este Concílio assim como o fez com os outros 20 que lhe precederam.

Isso significa, portanto, que o progresso é inegável, mas todo progresso, no entanto, marca também um certo regresso, em razão das falsidades e erros que se pode ocultar. Trata-se de examinar de modo crítico os pontos onde estas falsidades podem ter se infiltrado, para depois fazer um atento exame hermenêutico do Vaticano II à luz da fé sempre. É isso o que nos propomos fazer com o nosso congresso.

Pe. Serafino M. Lanzetta, FI (Franciscano da Imaculada)

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