Uma vez mais, regresso da leitura de Francisco Costa:
concluí há não muito a trilogia “Em Busca do Amor Perdido”, composta por “Acorde
Imperfeito”, “Nocturno Agitado” e “Cântico em Tom Maior”, já só me faltando ler
“Promontório Agreste” para fazer o pleno da obra romanesca deste autor.
De facto, Francisco Costa é uma grande figura esquecida da
literatura portuguesa do século XX. Entre nós, julgo não ter paralelo a mestria
com que este autor domina as suas personagens, as quais se vão cruzando e
interagindo umas com as outras ao longo dos seus romances, num processo
estilístico de que na nossa literatura apenas Joaquim Paço d’Arcos se conseguiu
aproximar, em muito menor grau, no conjunto de trabalhos que constituem as “Crónicas
da Vida Lisboeta”.
Só pelo supra exposto, Francisco Costa mereceria ser
redescoberto ou, ao menos, reconsiderado na história literária contemporânea
portuguesa, ainda que a sua obra possa porventura ser pouco apelativa à generalidade
do público leitor dos nossos dias.
Na verdade, trata-se de um romancista eminentemente
católico, que retrata nos seus trabalhos, nas suas
personagens, os dramas de vidas e consciências divididas entre a tentação do
pecado e o apelo da fé católica, dilema que contemporaneamente, num tempo em que
a noção de pecado se esbateu quase por completo, continuará a dizer algo
apenas à minoria que se reclama do tradicionalismo católico.
De igual modo, também os bons e ortodoxos sacerdotes
católicos por ele descritos têm um estilo que há muito se
desvaneceu no turbilhão da revolução pós-conciliar, e que actualmente subsiste tão-só na Fraternidade Sacerdotal de São Pio X e, quiçá, em algumas
comunidades tradicionalistas integrantes da “Ecclesia Dei”, mas jamais na média
do clero diocesano comum.
Em resumo: a obra de Francisco Costa, sem prejuízo da sua
grandeza estética, é susceptível de ser desfrutada em pleno somente por quem
tiver um razoável conhecimento teórico-prático do catolicismo tradicional, circunstância
que atira essa obra, como já o escrevi antes, para as mãos de uma pequena minoria. E,
desta maneira, alcança-se que o desinteresse hodierno pelo romance católico e a
subsequente derrocada deste é também uma das muitas manifestações da derrocada
mais lata da religião pós-conciliar.