domingo, fevereiro 26, 2012

Primeiro Domingo da Quaresma


Na primeira e na segunda tentação tentou o demónio a Cristo como a Filho de Deus: na terceira como a puro homem. Por isso na terceira não disse: Se Filius Dei es: como tinha dito na primeira e na segunda. Tentou a Cristo, como se tentara a qualquer homem: esta é a razão e a diferença, porque só esta última tentação nos pertence propriamente a nós. Mas como poderá um homem, como poderá um filho de Adão resistir a uma tentação tão poderosa e tão imensa como esta que o demónio fez a Cristo? A Adão fez-lhe tiro o demónio com uma maçã, derribou-o: a Cristo fez-lhe tiro com o mundo todo. Ostendit ei omnia regna mundi. Mas sendo esta bala atirada a Cristo como a homem, e dando em um peito de carne, foi tão fortemente rebatida, que voltou com maior força contra o mesmo tentador: Vade retro. Um dos casos mais notáveis que sucederam em nossos dias, no famoso cerco de Ostende, foi este: Estava carregada uma peça no exército católico: entra pela boca da mesma peça uma bala do inimigo, concebe fogo a pólvora, sai outra vez a bala com dobrada fúria; e como veio e voltou pelos mesmos pontos, foi-se empregar no mesmo que a tinha atirado. Ó que bizarro e venturoso sucesso! Vade retro! Assim havemos de fazer aos tiros do demónio. Volte outra vez a bala contra o inimigo e vençamos ao tentador com a sua própria tentação. Não cortou David a cabeça ao gigante com a sua própria espada? Judite, sendo mulher não degolou a Holofernes com a sua? Pois assim o havemos nós de fazer; nem necessitamos de outras armas mais, que as mesmas com que o demónio nos tenta.

Mostrou o demónio a Cristo todos os reinos do mundo e suas glórias: disse-lhe que tudo aquilo lhe daria de uma vez, se lhe dobrasse o joelho. Parece que faz estremecer a grandeza desta tentação! Mas o demónio é que havia de tremer dela. Desarmou-se a si, e armou-nos a nós. Tu, demónio, ofereces-me de um lanço todo o mundo, para que caia, para que peque, para que te dê a minha alma, logo a minha alma, por confissão tua, vale mais que todo o mundo. A minha alma vale mais que todo o mundo? Pois não te quero dar o que vale mais pelo que vale menos: Vade retro. Pode-nos o demónio dar ou prometer alguma coisa que não seja menos que o mundo? Claro está que não. Pois aqui se desarmou para sempre: nesta tentação perdeu todas, se nós não temos perdido o juízo. Ouvi a Salviano: Quis ergo furor est viles a nobis animas nostras haberi, quas etiam diabolus putat esse pretiosas. Homens loucos, homens furiosos, homens sem entendimento, nem juízo; é possível que sendo as nossas almas na estimação do mesmo demónio tão preciosas, no vosso conceito e no vosso desprezo hão-de ser tão vis?! O demónio quando me quer roubar, quando me quer perder, quando me quer enganar, não pode deixar de confessar que a minha alma vale mais do que todo o mundo; e eu, sendo essa alma minha, não há-de haver no mundo coisa tão baixa, tão vã e tão vil , pela qual a não dê sem nenhum reparo? Quis furor est? Que loucura, que demência, que furor é este nosso? Muito mais obrigada está a nossa alma ao demónio, muito mais lhe deve que a nós. Ele a honra, nós a afrontamos. Envergonhou-se o demónio no primeiro lanço de oferecer menos por uma alma do que o mundo todo.

Caio César, como refere Séneca, mandou de presente a Demétrio duzentos talentos de prata, que fazem hoje da nossa moeda mais de duzentos mil cruzados. Não creio que haveria na nossa Corte quem não beijasse a mão real e aceitasse com ambas as mãos a mercê. Era porém Demétrio filósofo estóico, como se disséssemos, cristão de aquele tempo: e que respondeu? Si tentare me constituerat, toto illi fui experiundus imperio: Andai, levai os seus talentos ao imperador, e dizei-lhe que se me queria tentar, que havia de ser com todo o seu império: é, e chama-se senhor de todo o mundo? Com todo o mundo me havia de tentar. Não no fez assim o César, porque não conhecia a Demétrio, mas fê-lo assim o demónio, princeps hujus mundi, porque sabe o que vale uma alma. Se vos tentar o demónio com menos que todo o mundo, dai-vos por afrontado; e se vos tentar com todo o mundo, fique vencido. Quid prodest homini, si universum mundum lucretur, animae vero suae detrimentum patiatur? Que aproveita ao homem ganhar todo o mundo, adquirir todo o mundo, senhorear e dominar todo o mundo, se há-de perder a sua alma? Aut quam dabit homo commutationem pro anima sua? Ou que coisa pode haver de tanto peso e de tanto preço, pelo qual se haja de vender a alma, ou se haja de trocar? Este é o caso e a suposição em que estamos, nem mais nem menos. Oferece-nos o demónio o mundo, e pede-nos a alma. Considere e pese bem cada um se lhe está bem este contrato, se lhe está bem esta venda, se lhe está bem esta troca. Mas nós trocamos e vendemos, porque não pesamos.

Padre António Vieira, in “Sermão da Primeira Dominga da Quaresma”, pregado na Capela Real, em Lisboa, no ano de 1655.

quarta-feira, fevereiro 22, 2012

Cinzas


Duas coisas prega hoje a Igreja a todos os mortais, ambas grandes, ambas tristes, ambas temerosas, ambas certas. Mas uma de tal maneira certa e evidente, que não é necessário entendimento para crer: outra de tal maneira certa e dificultosa, que nenhum entendimento basta para a alcançar. Uma é presente, outra futura, mas a futura vêem-na os olhos, a presente não a alcança o entendimento. E que duas coisas enigmáticas são estas? Pulvis es, tu in pulverem reverteris: Sois pó, e em pó vos haveis de converter. Sois pó, é a presente; em pó vos haveis de converter, é a futura. O pó futuro, o pó em que nos havemos de converter, vêem-no os olhos; o pó presente, o pó que somos, nem os olhos o vêem, nem o entendimento o alcança. Que me diga a Igreja que hei-de ser pó: In pulverem reverteris, não é necessário fé nem entendimento para o crer. Naquelas sepulturas, ou abertas ou cerradas, o estão vendo os olhos. Que dizem aquelas letras? Que cobrem aquelas pedras? As letras dizem pó, as pedras cobrem pó, e tudo o que ali há é o nada que havemos de ser: tudo pó. Vamos, para maior exemplo e maior horror, a esses sepulcros recentes do Vaticano. Se perguntardes de quem são pó aquelas cinzas, responder-vos-ão os epitáfios, que só as distinguem: Aquele pó foi Urbano, aquele pó foi Inocêncio, aquele pó foi Alexandre, e este que ainda não está de todo desfeito, foi Clemente. De sorte que para eu crer que hei-de ser pó, não é necessário fé, nem entendimento, basta a vista. Mas que me diga e me pregue hoje a mesma Igreja, regra da fé e da verdade, que não só hei-de ser pó de futuro, senão que já sou pó de presente: Pulvis es? Como o pode alcançar o entendimento, se os olhos estão vendo o contrário? É possível que estes olhos que vêem, estes ouvidos que ouvem, esta língua que fala, estas mãos e estes braços que se movem, estes pés que andam e pisam, tudo isto, já hoje é pó: Pulvis es? Argumento à Igreja com a mesma Igreja: Memento homo. A Igreja diz-me, e supõe que sou homem: logo não sou pó. O homem é uma substância vivente, sensitiva, racional. O pó vive? Não. Pois como é pó o vivente? O pó sente? Não. Pois como é pó o sensitivo? O pó entende e discorre? Não. Pois como é pó o racional? Enfim, se me concedem que sou homem: Memento homo, como me pregam que sou pó: Quia pulvis es? Nenhuma coisa nos podia estar melhor que não ter resposta nem solução esta dúvida. Mas a resposta e a solução dela será a matéria do nosso discurso. Para que eu acerte a declarar esta dificultosa verdade, e todos nós saibamos aproveitar deste tão importante desengano, peçamos àquela Senhora, que só foi excepção deste pó, se digne de nos alcançar graça. Ave Maria.

O homem foi pó e há-de ser pó, logo é pó, pois tudo o que vive não é o que é, é o que foi e o que há-de ser. O exemplo da vara de Arão que se converte em serpente. Deus se definiu a Moisés como aquele que é o que é, porque só ele é o que foi e o que há-de ser. Se alguém puder afirmar o mesmo de si próprio também é digno de ser adorado. Enfim, senhores, não só havemos de ser pó, mas já somos pó: Pulvis es. Todos os embargos que se podiam pôr contra esta sentença universal são os que ouvistes. Porém como ela foi pronunciada definitiva e declaradamente por Deus ao primeiro homem e a todos seus descendestes, nem admite interpretação nem pode ter dúvida. Mas como pode ser? Como pode ser que eu que o digo, vós que o ouvis, e todos os que vivemos sejamos já pó: Pulvis es? A razão é esta. O homem, em qualquer estado que esteja, é certo que foi pó, e há -de tornar a ser pó. Foi pó, e há-de tornar a ser pó? Logo é pó. Porque tudo o que vive nesta vida, não é o que é: é o que foi e o que há-de ser.

Padre António Vieira, in “Sermão de Quarta-Feira de Cinza”, pregado na Igreja de Santo António dos Portugueses, em Roma, no ano de 1672.

terça-feira, fevereiro 21, 2012

De cementerios, autopsias y mesas de quirófano

El otro día leí esta entrada sobre los cementerios en el blog The Catholic Convert, el cual –por cierto- me encanta. A diferencia de Richard Maffeo, el judío converso al catolicismo autor de dicha bitácora, a mí sí me gusta ir a los cementerios. De hecho periódicamente, casi siempre en compañía de un buen amigo que es médico también, frecuentamos algún que otro cementerio. Rezamos por los muertos, reflexionamos en silencio y en voz alta sobre la muerte, tocamos la “vanidad de vanidades” (Eclesiastés 12, 8) que es esta vida al contacto con las tumbas, nos empapamos de la brevedad de la vida, constatamos la brevedad de esta vida al leer las lápidas, nos percatamos de que la muerte puede estar acechando en cualquier esquina, en cualquier sitio, y que bien hace uno en estar permanentemente dispuesto al encuentro con ella …
Otras veces también los visito solo, llevado de ese deseo expreso y también de esa obligación de cumplir con el 4º Mandamiento más allá de esta vida también y de cumplir con la Pietas, la romana y la cristiana. Pero escribir sobre la Pietas hoy nos apartaría del tema de los cementerios, aunque Pietas sea lo que me mueve a visitarlos y devoción a las almas del Purgatorio (¡ay, qué devoción tan olvidada!) lo que me espolea a hacerlo.
Doy gracias a Dios que, como médico, haya tenido la oportunidad de estar en casi medio centenar de autopsias. No son agradables. Ni la vista, ni el olor, ni nada, por más que puedan ser muy interesantes por otras razones. Pero le hacen a uno pensar en lo poco que realmente somos. He visto gente muy joven y gente mayor en la mesa de autopsias. Muertes inexplicadas y muertes violentas. Y muertes naturales también. Entre ellos había gente importante y gente menuda. Altos, bajos y de todo tipo. Hombres y mujeres. Pero, al final, he comprobado la tremenda nada de nuestros propios cuerpos cuando el alma se va de ellos. La muerte a todos nos iguala y a menudo –es difícil poder evitarlo- uno se pregunta qué fue de la vida de aquellas personas cuya autopsia se estaba realizando. Idéntica reflexión a la que uno se hace en el cementerio al pasar por delante de lápidas, tumbas y nichos.
¿Qué queda después de toda una vida? Pues una cosa sola. La virtud. El bien que uno haya hecho. No en vano decía San Juan de la Cruz, con su alma poética, aquello de “[a]l final de la tarde, te examinarán del amor”. Es decir, a la hora de la muerte, sólo el amor cuenta. Lo demás (posesiones materiales, dineros, títulos, honores, distinciones, cargos, etc.) son sólo títulos perecederos. No en vano daba la clave de amor a Dios como máxima suprema el pequeño fraile carmelitano. La cita completa reza así: “A la tarde te examinarán en el amor; aprende a amar como Dios quiere ser amado y deja tu condición” (Avisos y sentencias, nº 57).
Otra de las ventajas espirituales de ser médico es la mesa del quirófano. He visto cuerpos esbeltos, esbeltísimos, seccionados con el bisturí y con el tórax abierto, los intestinos fuera o el cerebro expuesto. Y también he tenido la sensación de que todos éramos terriblemente iguales por dentro y que esa otra versión light de la muerte que es la anestesia y el quirófano también nos igualaba. Es aquí donde más de una y más de dos veces me he visto reflexionando sobre la futilidad de la somatolatría que nos aflige. Este omnipresente culto al cuerpo, este excesivo quehacer en peluquerías y centros de belleza, esta absurdidad de tantísima cirugía estética, esta ascética abrumadora y absurda de los gimnasios … Esos cuerpos eran todos iguales. Abiertos no son somos tan bellos. He visto los efectos devastadores de algunas enfermedades sobre dicho cuerpo y veo a diario el impacto del envejecimiento sobre el mismo. ¿Tanto esfuerzo para un cuerpo perecedero cuando hay un alma eterna? ¿Cuánto tiempo dedicamos, diariamente, al gimnasio del alma?
Por cierto. Richard Maffeo se preguntaba acerca de los epitafios. Yo sí tengo decidido el mío: “Hasta luego”. No es original. No recuerdo dónde lo leí. Pero me parece un muy buen epitafio. Gritarle, espetarle, al paseante ocasional eso y también –esperemos- al visitante regular de mi tumba, que espero sean mi familia y amigos, acerca de la brevedad de esta vida, me parece un buen último servicio que debo hacer en pos de la salud (física, mental y espiritual) de los otros que por allí pasen.
O, alternativamente, este otro más corto aún: “¡Volveré!”. Porque esa es la verdadera esperanza, la de la resurrección de los cuerpos. La de la reintegración del alma en el cuerpo resucitado. Todo lo demás es necedad de necedades.
Pero como mi mala leche y temperamento irascible me tientan a convertir el “¡Volveré!” en un “¡Volveré, cabrones!”, casi mejor me quedo con el “¡Hasta luego!”.

Rafael Castela Santos

domingo, fevereiro 19, 2012

Uma pequena entrevista que gostei de ler

A do novo Cardeal português, Dom Manuel Monteiro de Castro, ao “Correio da Manhã”; lamentável, todavia, o título que este jornal escolheu para encimar tal entrevista e que distorce com óbvia má fé o verdadeiro pensamento do entrevistado.

Quanto à entrevista propriamente dita, apreciei a referência, nada despicienda, à necessidade de se recuperar a utilização dos confessionários nas igrejas como forma de revitalizar a prática do sacramento da penitência, e sobretudo a afirmação que a seguir transcrevo, de uma saborosíssima incorrecção política num país devastado - como poucos na Europa e no mundo - pelas razias das ideologias feminista radical, anticoncepcionista e aborcionista:

[O maior problema de Portugal é] o pouco apoio que o Estado dá à família. A mulher deve poder ficar em casa, ou, se trabalhar fora, num horário reduzido, de maneira que possa aplicar-se naquilo em que a sua função é essencial, que é a educação dos filhos.

Efeitos da descristianização

Casos como o desta notícia têm vindo a multiplicar-se ultimamente com preocupante frequência: são um sintoma notório do estado de degradação moral das sociedades modernas e um efeito inesperado da descristianização que lhes foi imposta, mas desta directamente decorrente.

Banido o Cristianismo, ou ao menos marginalizada ao máximo a sua influência moral no mundo contemporâneo, o paganismo pré-cristão retorna a galope com todas as suas aberrações e taras, reintroduzindo em quase total impunidade os sacrifícios humanos (aborto e eutanásia), a escravatura mais ou menos dissimulada (desde os abusos laborais cada vez mais recorrentes até ao infame tráfico de pessoas para desfrute sexual) e as idolatrias de todo o tipo (na forma mediata da adoração do poder venal, do dinheiro fácil e da sexualidade desregrada; ou na forma imediata dos cultos gnósticos, satânicos e luciferianos).

Sem dúvida que estes efeitos serão inesperados para alguns - para alguns… - dos sequazes da descristianização hodierna, mas também perfeitamente previsíveis para qualquer cristão com um mínimo de consciência e conhecimento histórico. Na verdade, quando o homem não tem qualquer outro limite que não o dos caprichos atingíveis pela sua vontade, nem tem a temer outras sanções que não as impostas pela muitas vezes risível justiça humana, sucessos como os da notícia em apreço passam a acontecer… e com preocupante frequência. Afinal, hoje em dia, quem é que ainda se preocupa com os pecados que bradam aos céus, tais como o não pagar o salário justo ao trabalhador ou o oprimir os pobres?.. Alguns… Poucos… Cada vez menos…

Contra a instrumentalização do trabalho

Aqui fica mais um interessantíssimo artigo de Juan Manuel de Prada, originalmente publicado no "Religión en Libertad", em apoio de um dos pontos mais caros à Doutrina Social da Igreja - o da defesa da dignidade do trabalho contra a sua instrumentalização em mero factor de produção.

***

Hace casi un siglo, Chesterton, analizando la obra de Aldous Huxley Un mundo feliz, donde se nos describe una sociedad futura sometida a un feroz proceso de alienación, escribía:

—Pero esta misma obra se está realizando en nuestro mundo. Son gente de otra clase quienes la llevan a cabo, en una conspiración de cobardes. (...) Nunca se dirá lo suficiente que lo que ha destruido a la familia en el mundo moderno ha sido el capitalismo. Sin duda podría haberlo hecho el comunismo, si hubiera tenido una oportunidad fuera de esa tierra salvaje y semimongólica en la que florece actualmente. Pero, en cuanto a lo que nos concierne, lo que ha destruido hogares, alentado divorcios y tratado las viejas virtudes domésticas cada vez con mayor deprecio, han sido la época y el poder del capitalismo. Es el capitalismo el que ha provocado una lucha moral y una competencia comercial entre los sexos; el que ha destruido la influencia de los padres a favor de la del empresario; el que ha sacado a los hombres de sus casas a la busca de trabajo; el que los ha forzado a vivir cerca de sus fábricas o de sus empresas en lugar de hacerlo cerca de sus familias; el que ha alentado por razones comerciales un desfile de publicidad y chillonas novedades que es por naturaleza la muerte de todo lo que nuestras madres y nuestros padres llamaban dignidad y modestia.

Chesterton definía el capitalismo como una «conspiración de cobardes», porque tal proceso de alienación social no lo desarrolla a las bravas, al modo del gélido cientifismo comunista, sino envolviéndolo en coartadas justificativas más o menos merengosas (pero con un parejo desprecio de la dignidad humana). Lo vemos en estos días, en los que se nos trata de convencer de que una reforma laboral que limita las garantías que asisten al trabajador en caso de despido o negociación de sus condiciones laborales... ¡favorece la contratación! Es algo tan ilógico (o cínicamente perverso) como afirmar que el divorcio exprés favorece el matrimonio, o que la retirada de vallas favorece la propiedad; pero el martilleo de la propaganda y la ofuscación ideológica pueden lograr que tales insensateces sean aceptadas como dogmas económicos. Lo que tal reforma laboral favorece es la conversión del trabajador en un instrumento del que se puede prescindir fácilmente, para ser sustituido por otro que esté dispuesto a trabajar —a modo de pieza de recambio más rentable— en condiciones más indignas, a cambio de un salario más miserable. Pero toda afirmación ilógica encierra una perversión cínica: del mismo modo que de un divorcio se pueden sacar dos matrimonios, de un despido también se pueden sacar dos puestos de trabajo (y hasta tres o cuatro); basta con desnaturalizar y rebajar la dignidad de la relación laboral que se ha roto, sustituyéndola por dos (y hasta tres o cuatro) relaciones degradadas, en las que el trabajador es defraudado en su jornal. Y defraudar al trabajador en su jornal es un pecado que clama al cielo; lo recordaba todavía Juan Pablo II en su encíclica Laborem exercens.

Lo que subyace en esta reforma laboral es la conversión del trabajo en un mero «instrumento de producción»; en donde se quiebra el principio medular de la justicia social, que establece que «el trabajo es siempre causa eficiente primaria, mientras el capital, siendo el conjunto de los medios de producción, es sólo un instrumento o causa instrumental» (Laborem exercens, 12). La quiebra del orden social del trabajo, la «conspiración de los cobardes» que avizorase Chesterton hace casi un siglo, prosigue implacable sus estrategias. Y llegará, más pronto que tarde, la venganza del cielo.

Juan Manuel de Prada

terça-feira, fevereiro 14, 2012

¿Para cuándo Fátima?

Estamos triturados por un montón de noticias en nuestro derredor, ahogados en la sobreinformación tremenda con que se nos anestesia. Entre esas noticias merece la pena espigar siquiera el dato tremendo de que cada 5 minutos hay un mártir cristiano en el mundo. 12 a la hora. Casi 300 al día. Cerca de 10.000 por mes. Ahí es nada: el Diocleciano nuestro de cada día. Por no hablar de otras persecuciones anticristianas no letales, pero cruelísimas.
Hoy por hoy es en países árabes donde antes sí se respetaba –aunque no fuera perfecto- a los cristianos, como Irak, Libia o Egipto (¿esta era la defensa de las minorías que predicaban los “cruzados” contra el Eje del Mal?). Pero también en países comunistas, como China, Corea del Norte o Cuba, donde se persigue a los católicos. Nada menos que 350 millones de cristianos están siendo perseguidos.
Se habla con este lenguaje tibio, vomitivo, de la “persecución religiosa”. Pero no hay tal persecución religiosa genéricamente hablando. La persecución es mayoritariamente contra los cristianos. Ni musulmanes ni judíos sufren esta persecución en la magnitud que la sufren los cristianos, por ejemplo. Casos que, si se dan, se airean a medio mundo. Pero de los casi 10.000 cristianos muertos nadie habla. Incluso Roma parece hablar con sordina sobre ellos.
Otro tema que merece la pena analizar es la marcha de las conversaciones entre Roma y la Hermandad de San Pío X. Mucho de lo que dice la prensa es espurio. Quizás aclare y pongan ciertos puntos sobre ciertas íes las recientes declaraciones del antiguo Superior de la SSPX, el Padre Schmidberger. O, también en un ánimo clarificatorio, merezca la pena señalar la tergiversación de ciertas palabras de Monseñor Fellay. Pero esto mismo está todo revuelto.
El mundo va mal, ciertamente. Sea como sea, aquí se nos ha engañado con este tema de las Consagraciones del mundo, o las Consagraciones parciales. No hemos visto que se haya cooperado plenamente con los deseos expresos de la Santísima Virgen en Fátima, cuando pidió la Consagración de Rusia al Inmaculado Corazón por parte del Papa y en compañía de todos los Obispos del mundo. Hay, de hecho, una brutal diferencia entre el mundo actual (post-pseudoconsagraciones) con el Portugal posterior a 1931 que habla por sí sola.
¿Para cuándo la Consagración de Rusia al Inmaculado Corazón, Santo Padre? ¿Para cuándo Su Santidad pudiera hallarse en trance de muerte violenta y cruel …?
Nuestro destino, como católicos, pero también el destino de todos los hombres, está en las manos consagradas y consagrantes de Vuestra Santidad. Y en la de todos los demás Obispos católicos del orbe.
¿Para cuándo Fátima?

Rafael Castela Santos

sexta-feira, fevereiro 10, 2012

Sobre e contra a usura



Proveniente do excelente blogue católico tradicional brasileiro “Vida Sacerdotal”, aqui fica um excerto da tradução, de autoria de Nina Batista, de um texto fulcral de Hilaire Belloc, “Sobre a usura”, merecedor de leitura integral.

***

(…) os juros sobre um empréstimo podem constituir, sob certas circunstâncias de tempo ou extensão, uma exigência de tributação impossível. Podem representar em determinado contexto um tributo moralmente indevido, que não traduz produção extra de riquezas gerada pelo investimento original. Sob certas condições, os valores exigidos não equivalem mais o fruto do investimento original, não correspondendo, portanto, à remuneração de parte dos lucros, mas sim a um pagamento a ser feito, se possível, a partir de quaisquer outros bens que o devedor possa obter. E esse tributo, além de certo ponto, torna-se mesmo impagável, devido à inexistência na sociedade dos meios suficientes para tanto.

Que circunstâncias são essas? Que condições distinguem a exigência de juros moralmente legítima da ilegítima?

A distinção se dá entre a cobrança moral de parte dos frutos de um empréstimo produtivo e a exigência imoral de juros sobre um empréstimo improdutivo ou juros superiores ao incremento anual em riquezas efetivas geradas por um empréstimo produtivo. Tal exigência “esgota” – “consome” – “exaure” as riquezas do devedor, sendo por isso denominada “Usura”. Uma derivação imprecisa em termos filológicos, mas correta sob o ponto de vista moral, conecta o termo latino “usura” à ideia de destruir, “exaurir”, e não à idéia original do termo “usus,” “uso”.

A Usura, portanto, é a cobrança de juros sobre um empréstimo improdutivo ou de juros superiores ao incremento real gerado por um empréstimo produtivo. É a exigência de algo ao qual o credor não tem direito, como se eu dissesse: “Pague-me dez sacas de trigo ao ano pelo aluguel destes campos”, após os campos terem sido tragados pelo mar ou terem passado a produzir anualmente muito menos do que as dez sacas de trigo.

Devo, com relutância, introduzir aqui um significado coloquial do termo “Usura” que confunde o raciocínio. As pessoas falam de “juros usurários” referindo-se a juros muito elevados. A forma como surgiu essa confusão é elementar. Juros muito elevados são geralmente superiores à riqueza real produzida até mesmo por um empréstimo produtivo, e cobrá-los significa, de fato, cobrar mais do que a produção do empréstimo original; mas não há nada na taxa de juros per se que a torne usurária. É possível cobrar juros de cem por cento sobre um empréstimo e estar em pleno exercício de seus direitos morais.

Por exemplo, uma pequena área de mineração que produzia 15 kg de ouro por ano tem a súbita oportunidade de produzir 200 vezes essa quantidade – 3.000 kg – com a obtenção do capital equivalente a apenas 30 kg para desenvolvimento. O credor desse novo capital não tem a obrigação moral de ceder ao devedor, como presente, os lucros imensamente maiores. É legítimo que reivindique sua parte; ele poderia muito bem exigir metade da nova produção, ou seja, 1.500 kg ao ano, 500 por cento sobre o empréstimo, pois esses juros altos corresponderiam apenas à metade da nova riqueza produzida. A demanda desses 500 por cento não representaria cobrança de tributo sobre riqueza inexistente, nem sobre riqueza que não foi criada pelo capital investido.

Portanto, a rigor a Usura nada tem a ver com a quantidade de juros cobrados, mas sim com o fato de haver ou não um incremento produzido pelo capital investido que seja pelo menos igual ao tributo exigido.

Caso seja necessário avalizar uma posição moral tão evidente, esse aval pode ser encontrado em todos os principais sistemas morais sancionados pelas filosofias religiosas e sociais permanentes adotadas pela humanidade. Aristóteles a proíbe, assim como São Tomás de Aquino. O sistema ético maometano a condena [e, na prática, faz uma condenação ininteligível, ao proibir muitos empréstimos que seriam úteis]. Temos, em particular, a brilhante decisão do Quarto Concílio de Latrão [1215].

Tudo certo até este ponto. Vejamos agora o desenvolvimento muito interessante que se deu nos tempos modernos, desde o rompimento de nosso sistema moral e religioso comum europeu, com a Reforma Protestante. Após esse desastre, a Usura passou a ser gradualmente admitida. Tornou-se prática comum sancionada pela legislação, com pagamento imposto pela magistratura civil. Na Inglaterra, foi sob o reinado de Cecil, no ano de 1571, que os juros, embora limitados a dez por cento, tornaram-se legais, independentemente da utilização do empréstimo. O ano de nascimento do que se pode chamar “Usura Indiscriminada” foi 1609, quando, sob o Calvinismo, o Banco de Amsterdã iniciou sua próspera carreira em estimular a capacidade dos afortunados e arruinar os desafortunados. De forma geral, os governos que se desligaram da unidade representada pela Cristandade introduziram, um após o outro, a Usura legalizada, obtendo vantagem sobre as nações conservadoras que se empenhavam em manter o antigo código moral. Às novas ideias morais, ou melhor, imorais assim introduzidas, devemos o rápido desenvolvimento do sistema bancário nas nações “reformadas”, bem como o controle financeiro que adquiriram e mantiveram por três séculos. Por fim, todos se adequaram ao novo sistema, e hoje a Usura atua lado a lado com o lucro legítimo e, confundida com ele, universalizou-se no que já foi a civilização Cristã. É ponto pacífico que todo empréstimo deve produzir juros, sem questionamento quanto ao seu caráter produtivo ou improdutivo. Todo o aspecto financeiro de nossa civilização ainda se baseia nesse falso conceito.

Seria possível escrever um ensaio muito interessante sobre os mais recentes frutos de tal concepção em nossos tempos. Se porventura viesse a ser escrito, um bom título seria “O fim do reinado da Usura”. Afinal, vem-se tornando muito claro que o vício inerente ao sistema responsável, tempos atrás, pela derrocada da estrutura social do Império Romano começa a fazer ruir também nossas transações financeiras internacionais. Contudo, com a seguinte diferença: eles foram arruinados pela Usura particular e nós, pela pública.

quarta-feira, fevereiro 08, 2012

A Monarquia de amanhã


A Monarquia de amanhã será a Monarquia de sempre: católica, tradicional, orgânica, antimoderna e portanto ultramoderna. Proclamemos, pois, em uníssono: Nos liberi sumus, Rex noster liber est, manus nostrae nos liberverunt! (Nós somos livres, o nosso Rei é livre, as nossas mãos libertaram-nos!)

Uma sugestão de visita


À "Cigarrilha de Chesterton", um espaço colectivo dedicado à difusão do distributismo e do paleoconservadorismo católico, onde eu e o Rafael temos o gosto de colaborar.

segunda-feira, fevereiro 06, 2012

Que Monarquia queremos?


Constato o grande entusiasmo que nos últimos dias tem percorrido parte da blogosfera lusa, a propósito de um manifesto em defesa da restauração da Monarquia promovido por pessoas que individualmente reputo de estimabilíssimas; porém, numa perspectiva metapolítica inspirada pelo Catolicismo tradicional, não compartilho desse entusiasmo.

Em Portugal, a Monarquia ou será cristã e tradicional ou não será. Conforme já referi em momento anterior, trata-se desde o começo de uma questão inquinada o debater se o Chefe de Estado - o Presidente da República… - deve adornar a sua cabeça com um chapéu comum ou com um chapéu mais invulgar conhecido pelo nome de “coroa”. Pelo contrário, a Monarquia só terá razão de ser se, acima da questão da forma de exercício da chefia do Estado, se souber apresentar como verdadeira alternativa ao regime político vigente, constituindo-se em poderoso factor de regeneração nacional e de recuperação da tradição histórica portuguesa, bem como em primacial opositora da revolução cultural anticristã promovida pelo republicanismo no seu sentido mais lato. Só assim a Monarquia fará sentido e só desta maneira será.

Ao invés, para alterar simplesmente a forma de exercício da chefia de Estado, mas manter intocado o republicanismo e a marcha destrutiva da sua revolução cultural anticristã, o melhor mesmo é deixar as coisas tal qual elas estão. Ou alguém será ingénuo o bastante ao ponto de supor que tal revolução é menos virulenta, por exemplo, nas “monarquias” do Reino Unido, Holanda ou Espanha (onde os Presidentes da República usam coroa…) do que nas repúblicas dos Estados Unidos, de França ou Portugal?.. Quero crer que não…