terça-feira, março 30, 2004

The Institutional Church and Institutionalism

Visita hoje "A Casa de Sarto" o grande Dietrich von Hildebrand , leigo que o Papa Pio XII não hesitou de cognominar de "Doutor da Igreja do século XX". É de sua autoria o clássico e fabuloso "The Case for the Latin Mass" . O trecho que passamos a citar é parte do artigo "The Institutional Church and Institutionalism", que integra a sua obra "The Charitable Anathema":

"Legalism consists in neglecting the spirit and adhering only to the letter. It is an overemphasis on what is juridically accessible at the cost of moral values. It approaches all moral commandments as if they were positive commandments; and it approaches the positive commandments of God and His Holy Church as if they were profane laws.

The secularism of legalism and bureaucratism appears, for example, when more emphasis is placed on disciplinary obedience than on orthodoxy and moral integrity. If a bishop does not intervene effectively when a theologian or a teacher is spreading heretical speculations or when a priest is inventing new rites for holy Mass, but immediatly suspends a priest for a disciplinary infraction, he is putting a higher value on institutional discipline than on his apostolic mission. This is institutionalism, properly so called.

Both a breakdown of discipline through yelding to wordly interests and an emphasis on discipline at the expense of fidelity to the spirit of the Gospel are betrayals of the institution Christ founded.The holy authority of the Church is based on the fact the Church is a divine institution, that it possesses an infallible magisterium, and that, therefore, all of its defined dogmas are valid and true. If the Church were merely a human institution, if the deposit of Catholic faith could be transformed in the course of history, the religious authority of the institutional Church would lose its basis. Thus, the legitimacy of disciplinary loyalty is undermined whenever, through laxity or immanentism, the Church as an institution is detached from faith in her divine foundation or whenever the articles of faith are doubted or "re-interpreted".

segunda-feira, março 29, 2004

Padres-Operários

Lamentável a reportagem que o Expresso deste último Sábado, na sua revista Única, dedica aos dois últimos padres-operários no activo, apresentando-os presunçosamente como modelos exemplares de prossecução da justiça, demonstrando mais uma vez à saciedade a conta em que tal pasquim tem o rigor e a isenção jornalística.

Na verdade, é deplorável constatar como esses dois padres objecto da dita reportagem se afastaram por completo de toda a fé, tradição e magistério social da Igreja Católica, abraçando um evangelismo político-militante de crassa raiz materialista consubstanciado na Teologia da Libertação, que, reinterpretando (e, consequentemente, deformando e deturpando) à luz da ideologia marxista conceitos basilares do Cristianismo, tem por fim último a transformação das relações e das estruturas materiais de produção em ordem à realização da sociedade socialista, a qual é absurdamente identificada com o Reino de Deus. É triste ver como os ditos padres, adoptando a agressiva praxis comunista e o seu modelo de acção baseado na luta de classes, não hesitaram em tornar-se companheiros de jornada de uma ideologia que tem por motores a inimizade, o ressentimento, a inveja e ódio, ou seja, radicalmente oposta ao Cristianismo (intrinsecamente perversa, chamou-lhe Pio XI, na "Divini Redemptoris" ). É, enfim, lastimável verificar como os preditos padres deformaram os fins últimos da religião de que se dizem servidores, não manifestando a mais leve e aparente preocupação com aquela que deveria ser a sua primeira e principal preocupação de sacerdotes: o bem-estar espiritual das almas que têm a seu cargo, com vista à salvação das mesmas para a eternidade.

A este propósito para contrabalançar a desinformação modernista, convém recordar que o movimento dos padres-operários foi formalmente condenado pelo Papa Pio XII em 5 de Novembro de 1953, e somente o laxismo que se instaurou na Igreja após o Concílio Vaticano II possibilitou o seu ressurgimento, agora com a conivência criminosa de vários bispos progressistas.

Já na Encíclica "Menti Nostrae", de 23 de Setembro de 1950, aquele grande Papa havia alertado para os perigos decorrentes da chamada heresia da acção. Assim:

"Por esse motivo, enquanto rendemos o devido louvor a quantos, na afanosa reparação deste triste pós-guerra, movidos pelo amor de Deus e pela caridade para com o próximo, sob a direcção e seguindo o exemplo dos bispos, consagraram todas as suas forças para remediar tantas misérias, não nos podemos abster de exprimir a nossa preocupação e a nossa ansiedade por aqueles que, por especiais circunstâncias do momento, se deixaram levar pelo vórtice da actividade exterior, assim como a negligenciar o principal dever do sacerdote, que é a santificação própria. Já o dissemos em público documento que devem ser chamados a melhores sentimentos quantos presumam que se possa salvar o mundo por meio daquela que foi justamente designada como a "heresia da acção": daquela acção que não tem os seus fundamentos nos auxílios da graça, e não se serve constantemente dos meios necessários à obtenção da santidade, que Cristo nos proporciona. Do mesmo modo, porém, estimulamos às obras do ministério aqueles que, trancados em si mesmos e duvidosos da eficácia do auxílio divino, não se esforçam, segundo as próprias possibilidades, por fazer penetrar o espírito cristão na vida quotidiana, em todas as formas que os nossos tempos reclamam.

(…)

A época em que vivemos sofre de grave perturbação em todos os terrenos: sistemas filosóficos que nascem e morrem, sem em nada melhorarem os costumes; monstruosidade de certa arte, que no entanto pretende julgar-se cristã; critérios de governo que em muitos lugares se convertem antes na opressão dos cidadãos do que em bem comum; métodos de vida e de relações económicas e sociais em que correm maior perigo de vida os honestos do que os velhacos. Daí deriva quase naturalmente que não faltem de todo em nossos tempos sacerdotes infectados, de alguma maneira, de semelhante contágio, e que manifestam opiniões e levam um teor de vida, até no modo de vestir-se e cuidar de si, inteiramente contrários tanto à sua dignidade como à sua missão; que se deixam empolgar pela mania de novidades, seja no pregar aos fiéis, seja no modo de combater os erros dos adversários; e que comprometem, portanto, não somente a sua consciência, mas ainda a sua boa fama e, então, a eficácia do seu ministério".

domingo, março 28, 2004

Acasos

A polémica gerada este fim-de-semana à volta do Refúgio Aboim Ascensão recordou-me uma velha máxima de Maurras: "Em política não existem acasos". E política pura e dura, de guerra sem quartel nem quaisquer leis, essa é exactamente a especialidade da confraria a que Pedro Guedes faz alusão no seu "Último Reduto" .

Soneto da Conquista

Ó grandes cavaleiros afonsinos,
bailando no terreiro da capela,
deixai moças da Maia e verdes pinos,
que é tempo agora de saltar p'r'a sela!

E rompe a cavalgada ao som dos sinos,
- e galga matagais que a morte gela…
Os que tornarem, graves peregrinos,
Irão depois em voto a Compostela.

"Por Santiago!"
E a terra se dilata.
Ao longe o Tejo é campo cor de prata,
a cuja orla a hoste se detém.

Brilha o sinal de Cristo sobre os peitos.
E os cavaleiros, sempre insatisfeitos,
voltam cismando no que está p'ra além…

António Sardinha - Pequena Casa Lusitana

Queremos

Que desaparezcan los partidos políticos. Nadie ha nacido nunca miembro de un partido politico; en cambio, nacemos todos miembros de una familia; somos todos vecinos de un Municipio; nos afanamos todos en el ejercicio de un trabajo. Pues si ésas son nuestras unidades naturales, si la familia y el Municipio y la corporación es en lo que de veras vivimos, para qué necesitamos el instrumento intermediario y pernicioso de los partidos políticos, que, para unirmos en grupos artificiales, empiezan por desunirnos en nuestras realidades auténticas?

Queremos menos palabrería liberal y más respeto a la libertad profunda del hombre. Porque sólo se respeta la libertad del hombre cuando se le estima, como nosostros le estimamos portados de valores eternos; cuando se le estima envoltura corporal de un alma que es capaz de condenarse y de salvarse. Sólo cuando al hombre se le considera así, se puede decir que esa libertad se conjuga, como nosostros pretendemos, en un sistema de autoridad, de jerarquía y de orden.

Queremos que todos se sientan miembros de una comunidad seria y completa; es decir, que las funciones a realizar son muchas: unos, con el trabajo manual; otros, con el trabajo del espirítu; algunos, con el magisterio de costumbres y refinamientos. Pero que en una comunidad tal como la que nosostros apetecemos, sépase desde ahora, no debe haber ni invitados ni debe haber zánganos.

Queremos que no se canten derechos individuales de los que no pueden cumprirse nunca en casa de los famélicos, sino que se dé a todo o hombre, a todo o miembro de la comunidad política, por el hecho de serlo, la manera de ganarse con su trabajo una vida humana, justa y digna.

Queremos que el espíritu religioso, clave de los mejores arcos de nuestra Historia, sea respetado y amparado como merece, sin que por eso el Estado se inmiscuya en funciones que no le son proprias ni comparta - como lo hacía, tal vez por otros intereses que los de la verdadera Religión - funciones que sí le corresponden realizar por sí mesmo.

Queremos que España recobre resueltamente el sentido universal de su cultura y de su Historia.



José António Primo de Rivera
- 1933

quinta-feira, março 25, 2004

Santo Atanásio, defensor da Fé

Santo Atanásio, Bispo de Alexandria, cuja vida se desenrolou entre os anos de 296 e 373 da nossa era, é uma figura que desempenhou um papel fundamental no combate contra a heresia ariana, a qual, tendo-se espalhado por todo o orbe cristão no século IV, negava a natureza divina de Jesus Cristo.

Por causa da defesa empenhada que assumiu da ortodoxia doutrinária cristã, Atanásio viu-se forçado a sofrer uma intensa perseguição por parte da generalidade do episcopado do seu tempo, na quase totalidade - Papa incluído, ainda que sem comprometer a respectiva infalibilidade - rendido àquela heresia.

Expulso da sua diocese nada menos do que cinco vezes, e tendo sobrevivido a uma tentativa de assassinato, viajou por praticamente todo o mundo conhecido da sua época, de Alexandria à Germânia (introduziu o monasticismo no ocidente europeu) e do deserto da Líbia a Roma, sempre ordenando presbíteros e mesmo consagrando bispos fiéis ao autêntico corpo de ensinamentos da Igreja. Pela salvaguarda deste último, não hesitou em desafiar o próprio Papa Libério, que lhe respondeu com uma infame excomunhão, manietado que estava pelos arianos.

Falecido em 373, poucos anos após a sua morte, a heresia que havia combatido com tanto denodo desvaneceu-se por completo.

Santo Atanásio é tradicionalmente aclamado como um modelo exemplar de defensor da Fé e um dos poucos santos a quem a Igreja cognomina de "Grande". É de sua autoria a pungente carta que de seguida se transcreve, escrita durante o auge do arianismo:

"Que Deus vos console… o que vos entristece… é o facto que outros tenham ocupado as igrejas pela violência, deixando-vos fora delas. Eles têm os edifícios, é certo – mas sois vós que tendes a Fé Apostólica. Eles podem ocupar as nossas igrejas, mas não estão por isso menos fora da verdadeira Fé. Vós fostes postos fora dos locais de culto, mas a Fé habita em vós. Reflictamos: o que é mais importante, o local ou a Fé? A verdadeira Fé, evidentemente. Quem perdeu e quem ganhou este combate? Aquele que guarda os edifícios ou aquele que guarda a Fé?

É certo que os edifícios têm o seu valor, quando a Fé Apostólica é neles praticada; são santos, se tudo ali se desenrola de uma maneira santa…

Sois vós os felizes, vós que habitais na Igreja pela vossa Fé, vós que permaneceis firmemente unidos aos fundamentos da Fé, tal como ela vos chegou pela Tradição Apostólica. E se uma rivalidade abominável tentou abatê-La em muitas ocasiões, tal não sucedeu. São eles que a romperam na crise actual.

Ninguém jamais poderá nada contra a vossa Fé, irmãos bem amados, e estamos convictos que Deus um dia nos devolverá as nossas igrejas.

Assim, quanto mais eles usaram de violência para ocupar os lugares de culto, mais eles se separaram da Igreja. Eles pretendem representar a Igreja; na realidade, expulsam-se a si próprios e perdem-se. Ainda que os católicos fiéis à Tradição se reduzam a um punhado, são eles a verdadeira Igreja de Jesus Cristo".

segunda-feira, março 22, 2004

Dom Prosper Gueranguer e a heresia antilitúrgica - 6, 7 e 8

"6º) La supression des choses mystérieuses dans la Liturgie protestante devait produire infailliblement l'extinction totale de cet esprit de prière qu'on appelle onction dans le catholicisme. Un coeur revolté n'a point d'amour, et un coeur sans amour pourra tout au plus produire des expressions passables de respect ou de crainte, avec le froideur superbe du pharisien; telle est la liturgie protestante.

7º) Traitant noblement avec Dieu, la Liturgie protestante n'a point besoin d'intermédiaires créés. Elle croirait manquer au respect dû à l'Etre souverain, en invoquant l'intercession de la sainte Vierge, la protection des saints. Elle exclut toute cette idolâtrie papiste qui demande à la créature ce qu'on ne doit demander qu'à Dieu seul.

8º) La reforme liturgique ayant pour une de ses fins principales l'abolition des actes et des formules mystiques, il s'ensuit nécessairement que ses auteurs devaient revendiquer l'usage de la langue vulgaire dans le service divin. Aussi est-ce là un des points les plus importants aux yeux des sectaires. Le culte n'est pas une chose secrète, disent-ils. Il faut que le peuple entende ce qu'il chante. La haine de la langue latine est innée au coeur de tous les ennemis de Rome. Ils voient en elle le bien des catholiques dans tout l'univers, l'arsenal de l'orthodoxie contre toutes les subtilités de l'esprit de secte".

sexta-feira, março 19, 2004

Rua Cadetes de Toledo

Não deixam de ter o seu grau de curiosidade, certas coincidências que nos vão sucedendo. Uma destas noites, revisitando o prefácio que Gustavo Corção escreveu para a sua obra-prima final - "O Século do Nada" -, reflectia com algum descoroçoamento, e ao ritmo da leitura, na involução moral que a Espanha sofreu - e não só ela... - desde os tempos já remotos exaltados pelo notável escritor brasileiro até à actual modernidade tão louvada por tantos (in)conscientes distraídos - esqueceram-se que algumas das mais vistosas plantas crescem exactamente sobre matéria orgânica em decomposição… No dia seguinte, postas de lado estas considerações nocturnas, necessitando de enviar correspondência profissional para Castelo Branco, reparo, admirado, no endereço do meu destinatário - Rua Cadetes de Toledo. Não supunha que da toponímia da bonita cidade albicastrense constasse artéria como nome tão belo; e, então, em catadupa, veio-me à memória a leitura da véspera. Aqui fica ela:

"Mas a razão de todo este preâmbulo, onde já corri o risco de não conseguir o que mais almejava, não é a de me pintar para uma eventual posteridade, nem a de me desculpar de ser o que sou irremediavelmente. Outra é a razão. Pensando em tantos anos de ensino, de comunicações, de livros, de conferências, recapitulo preocupado, assustado, tudo o que andei transmitindo. Ou melhor, recapitulo o que deixei de dizer. Terei de fazer várias retificações, várias retratações, mas agora acode-me a idéia de uma omissão que implica uma série de recolocações, e pela qual eu estremeceria de vergonha e tristeza se, no momento de dizer o "nunc dimitis", me viesse à mente o relâmpago do negrume de tão espantosa omissão. Qual? A de nunca ter escrito em minha longa vida de escritor, entre tantas páginas de louvor e de admiração, de entusiasmo e de apologia, estas poucas palavras exigidas pela mais clara verdade e pela mais límpida justiça, sim, estas poucas palavras que já deveriam ter transbordado de meu coração agradecido e deslumbrado:

Honra e glória à Espanha católica de 1936.
Honra e glória a Dom José Moscardó Ituarte,
defensor do Alcazar, a seu, filho Luis Moscardó, a
Qeipo de Llano e a José Antonio Primo de Rivera.
"España libre, España bella
Con requetés y Falanges
con el tercio mui valiente..."
Honra e glória aos doze bispos mártires e aos quinze mil padres, frades e religiosas
"verdadeiros mártires em todo o sagrado
e glorioso significado da palavra" (Pio XI).
Honra e glória a todos que morreram
testemunhando com SANGRE: "Viva Cristo Rey"!

quarta-feira, março 17, 2004

Zapaterias e cobardias

As eleições espanholas fizeram com que o senhor Aznar abandonasse a cadeira do poder e o senhor Zapatero se apoderasse da mesma, ou seja, verdadeiramente não mudaram nada no país vizinho.

Ou acaso, com o novo inquilino da Moncloa, não vai o mundialismo de matriz jacobina-capitalista continuar a ser o verdadeiro rei e senhor de Espanha, mantendo, por intermédio dessa autêntica polícia política de facto que são os meios de comunicação social ditos de referência por si dominados, o exercício do seu discreto mas eficaz e férreo controlo sobre a opinião pública espanhola?

Não vai o PSOE, uma vez mais, ser um fiel executor das suas vontades, tal como anteriormente o foi o PP, aferrado que está à Internacional Socialista e aos lóbis mais ou menos discretos que na penumbra desta pululam?

Com Zapatero, é fácil de se adivinhar, a Espanha vai ter mais aborto - e, diariamente, já são aí abortadas uma média de duzentas pessoas, curiosamente o exacto número de mortos da matança de Madrid; mais laxismo com a criminalidade comum, mormente a provocada pelos toxicodependentes que são legião entre “nuestros hermanos”; mais leniência com o terrorismo, através da busca de novos diálogos com quem só sabe impor totalitária e brutalmente a sua falta de escrúpulos; mais permissividade com as parelhas de homossexuais e de lésbicas, equiparadas aos casais heterossexuais e à família tradicional; mais imigracionismo, muito especialmente islâmico; mais e intensa guerra cultural aos valores religiosos e culturais cristãos que fizeram da Espanha um dos principais pilares do Ocidente - a chegar a bom porto, Zapatero terá realizado o sonho perverso de Dom Manuel Azaña, mas poderá também estar a invocar demónios violentamente exorcizados há sessenta e cinco anos; enfim, mais “mano dura” com quem se atreva a denunciar e enfrentar tal estado de coisas, aliás a única “mano dura” que esta gente sabe mostrar.

Poderíamos, ainda, falar do desastre financeiro que a nova administração socialista irá certamente trazer a Espanha, refém que está do “Lendakari” basco e do “President de la Generalitat” catalão, gente cujos apetites pseudo-independentistas costumam ser saciados a troco de grossas fatias provenientes do bolo orçamental…

Por outro lado, no que concerne às preocupações que o extremo-centro manifesta em relação a uma eventual cobardia do povo espanhol face ao terrorismo islâmico, em virtude do resultado final das eleições do passado Domingo, não me parece aceitável essa tese, pelos pontos que passo a expor.

Primeiramente, o Médio-Oriente jamais foi uma zona de influência histórica de Espanha, ao contrário da Europa, do Norte de África e, sobretudo, da América Latina; portanto, a aventura iraquiana de Aznar não passou de uma bravata somente possível pelo carácter em simultâneo desonesto e megalómano do Primeiro-Ministro espanhol cessante - lembremo-nos das falácias que sufragou sobre a existência de armas de destruição maciça iraquianas, para legitimar o desencadear da guerra, imaginando-se já um novo Carlos V, com peso à escala mundial -, aventura iraquiana essa que o eleitorado espanhol nunca deixou de reprovar esmagadoramente em todas as sondagens realizadas sobre o assunto; aliás, os espanhóis tiveram sempre a clara percepção de que no Iraque se estavam batendo em nome de potências terceiras, alheios ao verdadeiro interesse nacional do seu país.

Em segundo lugar, a cobardia e o laxismo, de que certos extremistas de centro só agora se apercebem, travestidos que estão em súbitos e apressados belicistas de pacotilha postos a rufar os tambores da guerra, tem sido uma constante da Europa nos últimos trinta anos face ao mundo islâmico, nomeadamente na forma como aquela (não) tem encarado o fundamental problema da imigração muçulmana, dando neste campo, sinais de permanente e consistente fraqueza perante o dito mundo islâmico, traduzidos na falta de vontade de controlar - e erradicar, sublinhe-se - essa autêntica invasão silenciosa que tem alterado radicalmente a estrutura populacional do continente europeu, bem como as suas principais características culturais, com os resultados que estão à vista de toda a gente com olhos para ver e cabeça para pensar.

Nesta postura, é que esse mundo apreendeu o primeiro e principal sinal de pusilanimidade do Ocidente. Alguns exemplos práticos: em Roma constrói-se uma mesquita, mas em Meca aos não-muçulmanos nem sequer é permitido o franquear a cidade, quanto mais pensar em erigir uma simples ermida; em Bruxelas, o edifício religioso mais próximo da sede da União Europeia é a Grande Mesquita (não muito longe, é certo, encontramos desafiadora e altaneira a Igreja de São José, da SSPX); em Córdova, os muçulmanos querem transformar a Catedral - a antiga mesquita, com o simbolismo que isso implica - num templo de oração comum com os católicos, mas no Paquistão um cristão que, por acaso, entre numa mesquita arrisca-se a severas penas de prisão; em Itália, um líder islâmico apela à remoção dos crucifixos das escolas públicas e à destruição de frescos do interior de uma igreja católica de Bolonha, mas em boa parte do mundo islâmico, o ensino continua a ser de matriz essencialmente corânica, confundindo-se o Estado completamente com a religião; um pouco por todas as grandes cidades europeias, quarteirões inteiros transformaram-se paulatinamente em autênticas medinas, em lugares de não-direito onde as autoridades policiais se recusam a penetrar e o extremismo político-religioso aliado à criminalidade de delito comum clássica medra em toda a impunidade.

E, pergunta-se: onde estava o extremo-centro enquanto tudo isto foi sucedendo nas últimas décadas? Em nome da sua ambiguidade intelectual e doutrinária, a fingir que nada sucedia ou materialisticamente preocupado com as cotações bolsistas, quando não a denegrir e insultar o único político europeu que durante todo este tempo, consistentemente, tentou pôr um freio a esta situação. Escuso-me de recuar mais no tempo e falar da guerra da Argélia…

E agora, com os bárbaros dentro da cidade, quais hipócritas fingindo-se de vestais ofendidas, põem-se a gritar “Aqui d’El-Rei” e a falar em guerras civilizacionais! Melhor seria terem um pouco de vergonha e estarem calados…

domingo, março 14, 2004

"A Paixão de Cristo", de Mel Gibson - a minha análise

Realizou-se, hoje, um dos meus grandes sonhos destes últimos dois anos, desde que tomei conhecimento de que Mel Gibson estava a produzir e dirigir um filme em que narrava a paixão de Cristo: finalmente, há umas escassas horas atrás, numa sala de cinema de Lisboa, visionei o tão falado trabalho daquele actor e realizador australiano.

Sem pretensiosismos e grandes profundidades, que para isso existem os críticos de cinema, deixo aqui a minha opinião sobre aquilo que me foi dado ver: Mel Gibson assina uma obra absolutamente inebriante, dona de um ritmo tonitruante, que domina esmagadoramente o espectador logo desde o projectar das primeiras imagens e durante duas horas até ao seu final; o tempo voa e não se dá pelo seu passar, enquanto decorre a exibição do filme.

Este constitui uma soberba recriação das últimas doze horas da paixão e morte de Cristo, numa estrita, absoluta e ortodoxa concordância com a verdade histórica narrada pelos Evangelhos e corroborada pela tradição cristã. Neste último campo, inserem-se as duas comoventes cenas retrospectivas da infância e juventude de Jesus, bem como o auxílio prestado por Verónica a Cristo durante a caminhada para o Gólgota. Desta maneira, o realizador, para além de traduzir eximiamente em imagens os textos evangélicos, mostra-se um perfeito conhecedor e dominador dos dois livros que, supletivamente, o auxiliaram na criação do seu trabalho: "A Dolorosa Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo" , de Anne Catherine Emmerich; e "A Mística Cidade de Deus" , fabulosa obra da freira visionária carmelita espanhola do século XVII, Maria Agreda (1602 - 1665), que narra a vida da Mãe de Cristo, desde o Seu nascimento até à Sua coroação como Rainha do Céu. Saliente-se que estes textos se encontram devidamente aprovados pela Igreja e que o seu conteúdo em nada contradiz as narrações dos evangelistas, complementando-os somente em pequenas questões de pormenor. Os processos de beatificação de Anne Catherine Emmerich e Maria Agreda estão a decorrer no Vaticano.

Prosseguindo, Gibson transmite-nos a imagem de um Cristo que, para além da Sua natureza divina, assume hipostaticamente a Sua condição humana, com todo o sofrimento inerente a esta, em consequência da totalidade dos pecados de uma humanidade decaída que Ele se propõe resgatar para todo o sempre, livrando-a da escravidão do mal - fabulosa a cena do Diabo, no momento imediato após a morte de Cristo, a urrar desesperado, em total solidão, nas profundezas do Inferno.

O realizador mostra bem as suas firmes convicções de católico de tradição, que não renega a sua fé e que não transige com todas as cedências e rendições modernistas ocorridas no seio da Igreja após o termo Concílio Vaticano II: comprova-o a profunda devoção mariana que ele manifesta durante o decurso de todo o filme - aliás, este pode ser visto como uma transposição para celulóide de uma reflexão gibsoniana dos Mistérios Dolorosos do Rosário - A agonia no horto; A flagelação; A coroação de espinhos; A via sacra dolorosa; A morte na cruz -; demonstra-o, outrossim, a forma como encara a Missa, ou seja, na sua dimensão sacrificial de renovação não-sangrenta do sacrifício de Cristo na cruz e, daí, a alternância de imagens que faz entre a cena da crucificação no Gólgota e a da Última Ceia, na qual Cristo celebrou a primeira Missa.

Em suma: um filme que merece a classificação máxima de vinte valores, a necessitar de ser visto urgentemente, não só pelos Cristãos, mas por todos aqueles que prezam, admiram e apreciam o verdadeiro cinema, a arte feita imagem.

Finalmente, não lhe fujo, a questão do anti-semitismo. Vou ser breve: não há no filme nenhum anti-semitismo; o anti-semitismo, aqui, não passa de um mero espantalho agitado por mentes mesquinhas e tacanhas, eivadas de ódio, cujo único desiderato é dar vazão à sua fúria anticristã de modernos fariseus hipócritas, sejam eles judeus ou gentios, apostados que estão em erradicar do mundo ocidental, na guerra cultural que contra ele lançaram, os valores civilizacionais que o fundamentam, isto é, os valores da civilização judaico-cristã. E como o próprio Cristo diz, a dado passo na obra-prima de Gibson: "Não vos admireis que o mundo (Mal) vos odeie, porque primeiro ele Me odiou." Infelizmente para eles, "non prevalaburunt"!

sexta-feira, março 12, 2004

Por que é que eles não gostam de "A Paixão de Cristo"

Irei assistir ao filme “A Paixão de Cristo” este Sábado, e, de seguida, explanarei neste espaço as minhas impressões sobre o mesmo. Até lá, deixo os meus parcos e pacientes leitores com Steven Greenhut, um judeu convertido ao Cristianismo (Ortodoxia), o qual nos explica em magnífico artigo por que razão certa escória inominável que pontifica um pouco por toda a parte, e também na blogosfera, abomina e odeia, só pode abominar e odiar, um filme como “A Paixão de Cristo”. A ler aqui.

Portugal e Espanha

Num final de dia já muito longo, não posso deixar de prestar a minha homenagem às vítimas inocentes dos atentados terroristas de Madrid. Em memória das mesmas, esperando que Santiago Maior interceda por elas junto de Deus, aqui fica este texto:

"Se a civilização é essencialmente o Cristianismo, ninguém a dilatou e serviu como os povos naturais da antiga Hispânia. É o traço dominante da sua alma, - o selo que lhes imprime grandeza e individualidade Por esse prisma o génio peninsular é universal como nenhum outro. A vocação apostólica constitui a sua determinante mais poderosa. E, pelo nosso amor ao Absoluto, é fácil de se abranger a razão por que o Cristianismo na Península se revela e radica, não só como confissão religiosa, mas, sobretudo, como uma íntima e veemente afirmação social.

Compreende-se já porque portugueses e castelhanos foram no mundo missionários e descobridores e como apenas eles se glorificam com o raro título de fundadores de nacionalidades! Ninguém ignora a lenda-negra que infama a Península como inútil para as conquistas superiores da humanidade. É uma calúnia do século XVIII, principalmente, - da estreita e sectária mentalidade dos Enciclopedistas, que não podendo separar o Catolicismo da vida da Península, a denegriram por sistema, cobrindo-a de diatribes e de aleives sem conto. No entanto, metade do mundo devia às Espanhas a sua entrada na civilização, - e a paz da Europa, perturbada, dum lado, pela ameaça crescente do Turco e, pelo outro, pelo alastramento da heresia protestante, salvou-se duma catástrofe mortal, por virtude ainda do esforço heróico dos reis e soldados peninsulares".


ANTÓNIO SARDINHA - O Génio Peninsular - 1920

quinta-feira, março 11, 2004

Não me causa o mínimo espanto

Observo a reacção indignada de Manuel Azinhal relativamente à anunciada destruição de um troço do Aqueduto das Águas Livres: parece-me que, efectivamente, essa é a única atitude que se pode tomar num caso como este; porém, não me causa o mínimo espanto aquele intento arrasador. Afinal, ele vem dos mesmos que há muito, fiéis ao mundialismo e ao multiculturalismo - as novas roupagens nas quais se embrulham a velha ideologia jacobina e os seus fins, ou seja, a instauração de uma república universal e a concomitante reconstituição da pretensa unidade original da humanidade -, prosseguem empenhados na destruição da identidade da nação portuguesa, através da transformação de Portugal num mero ponto geográfico sem soberania e dos portugueses em estrangeiros na sua própria terra. Perante esta situação, como pretender que tais pessoas se detenham perante algo que, para elas, autênticos bárbaros destes tempos ditos modernos, não passa de um monte de pedras velhas?... Não me causa o mínimo espanto.

terça-feira, março 09, 2004

William Cobbett e José Agostinho de Macedo

Numa autêntica surpresa daquelas que sucedem apenas aos que têm o prazer de frequentar as livrarias alfarrabistas, descobri recentemente um exemplar em língua portuguesa da obra de William Cobbett, "História da Reforma Protestante em Inglaterra e Irlanda; fazendo ver que este acontecimento abateu e empobreceu a maior parte dos habitantes destes países; em uma colecção de cartas, dedicadas a todos os ingleses justos e sensíveis" , impressa em Lisboa, no ano de 1828, na Tipografia de Bulhões, com licença da Mesa do Desembargo do Paço.

Confesso que desconhecia que esta obra estivesse vertida para a nossa língua: atraiu-me, na sua lombada em couro, o título "Reforma Protestante". De que se trataria? Abri o livro e deparo com o célebre estudo de Cobbett. Instantaneamente, pensei: é meu! Os € 40 que paguei por tal maravilha pareceram-me um preço absolutamente justo, daqueles que não se discutem.

Neste livro, que serve de contraponto às falácias de cariz weberiano que certos pretensos liberais, ainda hoje, do alto da sua pomposa fatuidade, tanto gostam de invocar para denegrir o Catolicismo, Cobbett, de forma crua e imparcial, num conjunto de cartas escritas aos seus concidadãos, escalpeliza o desastre político, económico e social que constituiu a Reforma Protestante nas Ilhas Britânicas, atirando a totalidade da sua população para perto de três séculos de feroz tirania política como jamais existira previamente, e uma enorme parcela da mesma para uma miséria atroz e ignominiosa, resultado final do confisco dos bens eclesiásticos, anteriormente afectos à satisfação das necessidades dos estratos populacionais mais carenciados, em proveito de sórdidos interesses particulares e egoístas.

Voltando ao exemplar em análise, o mesmo tem o grande atractivo suplementar de as três informações censórias que o apreciam serem subscritas - nada mais, nada menos - pelo Padre José Agostinho de Macedo.

Transcrevamos alguns excertos da terceira informação, em que este ilustre pensador da contra-revolução nacional avisa:

"Subsistem os motivos por que se licenciaram pela Autoridade Ordinária as nove precedentes Cartas, e por eles se podem licenciar as de que esta petição trata: eu as li, e examinei com aquela atenção de que sou capaz, pede, e manda matéria de tanta gravidade, e de tanta importância. Quando o Autor anuncia, que as desgraças, a indigência, e a miséria da maior parte da população da Grã-Bretanha, Escócia, e Irlanda, provêm imediatamente da obilação do Catolicismo, e estabelecimento do Protestantismo, o comprova com tanta exuberância de razões, que os mais pertinazes inimigos da Igreja Católica se conhecem convencidos;

(…)

O Código Penal da Inglaterra contra os Católicos, que o Autor transcreve, é horroroso, ainda que modificado em diferentes reinados desde a ímpia Isabel até agora, é a mais terminante resposta que se pode dar aos que tanto exageram a intolerância da Igreja Católica. Na história das dez maiores perseguições do Cristianismo, não se descobrem quadros mais abomináveis. Tudo quanto os Revolucionários niveladores têm encarecido, e exagerado sobre os procedimentos da Inquisição, não é mais que uma ligeira sombra das barbaridades da Inquisição Protestante contra os Católicos dos três Reinos Unidos da Grã-Bretanha. É pois muito útil a leitura deste Livro, e será de consolação para os verdadeiros Fiéis, vendo a sua causa tão vitoriosamente advogada por um Protestante, e por isso é muito digno este Livro de se lhe conceder a Licença que pede para se imprimir; porém Vossa Senhoria mandará o que for servido. Lisboa, 23 de Agosto de 1827 - José Agostinho de Macedo".


Para quem quiser tomar conhecimento com esta obra de William Cobbett através de uma edição recente em língua inglesa, recomendo a da Tan Books, o maior editor norte-americano, e talvez do mundo, de livros católicos tradicionais.

domingo, março 07, 2004

Dom Prosper Gueranguer e a heresia antilitúrgica - 5

"5º) La réforme de la Liturgie étant entreprise par les sectaires dans le même but que la réforme du dogme dont elle est la conséquence, il s'ensuit que, de même que les protestants se sont separés de l'unité afin de croire moins, ils se sont trouvés amenés à retrancher, dans le culte, toutes les cérémonies, toutes les formules qui expriment des mystères. Ils ont taxé de susperstition, d'idolâtrie, tout ce qui ne leur semblait pas purement rationnel, restreignant ainsi les expressions de la foi, obstruant, par le doute et même la négation, toutes les voies qui ouvrent sur le monde surnaturel.

Ainsi plus de sacrements, hors le baptême, en attendant le socianisme, qui en affranchira ses adeptes; plus de sacramentaux, de bénédictions, d'images, de reliques de saints, de processions, de pélerinages, etc. Il n'y a plus d'autel, mais seulement une table; plus de sacrifice, comme dans toute religion, mais seulement une céne; plus d'église, mais seulement un temple, comme chez les Grecs et les Romains...".


Dom Prosper Gueranguer e a heresia antilitúrgica - 4

"4º) On ne doit pas s'étonner de la contradiction que l'hérésie présente ainsi dans ses oeuvres, quand on saura que le quatrième principe, ou si l'on veut la quatrième necessité imposée aux sectaires par la nature même de leur état de révolte, est une habituelle contradiction avec leurs propres principes.

Ainsi, tous les sectaires, sans exception, commencent par revendiquer les droits de l'antiquité. Ils veulent dégager le christianisme de tout ce que l'erreur et les passions des hommes y ont mêlé de faux et d'indigne de Dieu. Ils ne veulent rien que de primitif, et prétendent reprendre au berceau l'institution chrétienne. A cet effet, ils élaguent, ils effacent, ils retranchent; tout tombe sous leurs coups. Et lorsqu'on s'attend à voir reparaître dans sa première pureté le culte divin, il se trouve qu'on est encombré de formules nouvelles qui ne datent que de la veille et qui sont incontestablement humaines.

Tout secte subit cette nécessité; nous l'avons vu chez les monophysites, chez les nestoriens; nous retrouvons la même chose dans toutes les branches des protestants.

Remarquons encore une chose caractéristique dans le changemente de la Liturgie par les hérétiques. C'est que, dans leur rage d'innovation, ils ne se contentent pas d'élaguer les formules de style ecclésiastique qu'ils flétrissent du nom de parole humaine, mais ils étendront leur réprobation aux lectures et aux prières même que l'Eglise a emprunté à l'Ecriture. Ils changent, ils substituent, craignant jusqu'à la moindre parcelle d'orthodoxie qui a présidé au choix de ces passages".

quinta-feira, março 04, 2004

De novo, "A Paixão"

O meu amigo Juan Matías Santos, actualmente a viver nos Estados Unidos, já teve a felicidade de assistir ao filme "A Paixão" , de Mel Gibson: aqui deixo a ligação para o artigo que, sobre essa experiência, ele escreveu no "ElSemanalDigital".

Leitura indispensável

Este livro, "ProLife Answers to ProChoice Arguments", é um autêntico dicionário da réplica contra todos os lugares comuns que o esquerdismo, e não só, utiliza falaciosamente no debate da questão do aborto. É uma leitura indispensável para pôr de vez no seu lugar certa rataria radicalmente analfabeta que por aí insiste em pulular.

O liberalismo

"Não designa aqui, como na linguagem comum, o partido ou o estado de espírito propenso à defesa das liberdades. Nesse sentido todos nós somos liberais, desde que não apreciemos a coerção totalitária. No sentido filosófico, porém, liberalismo designa todo um universo de critérios e valores produzidos pelo triunfo do empirismo. É uma Weltanschauung composta de cientificismo, progressismo, ceticismo metafísico e religioso, e principalmente caracterizado por uma tolerância larga, tida com alta virtude, que vem do desapreço da verdade e do bem tomados como critérios absolutos. Pilatos era um liberal do século XIX quando lavou as mãos talvez sorrindo da embaraçosa pergunta que fizera ao pobre "rei dos judeus". As composições principais do liberalismo são:

O RELATIVISMO INTELECTUAL
O RELATIVISMO MORAL

Debaixo de seu aspecto bonachão "o liberalismo é o pecado", como diz o espanhol Sarda y Salvani; é a manifestação do orgulho primitivo, da soberba elementar, em linguagem filtrada pelo enlightment e pelo cientificismo. É, em suma, a filosofia do individualismo, pela qual cada um vive segundo as próprias leis".



GUSTAVO CORÇÃO - Dois Amores, Duas Cidades - Rio de Janeiro, Agir, 1967

Dom Prosper Gueranguer e a heresia antilitúrgica - 2 e 3

"2º) C'est le seconde principe de la secte antiliturgique, de remplacer les formules de style ecclésiastique par des lectures de l'Ecriture Sainte. Elle y trouve deux avantages: d'abord celui de faire taire la voix de la Tradition qu'elle craint toujours; ensuite un moyen de propager et d'appuyer ses dogmes, par voie de négation ou d'affirmattion. Par voie de négation en passant sous silence, au moyen d'un choix adroit, les textes qui expriment la doctrine opposée aux erreurs qu'on veut faire prévaloir; par voie d'affirmation, en mettant en lumiére des passages tronqués qui, ne montrant qu'un des côtés de la verité, cachent l'autre aux yeux du vulgaire.
On sait, depuis bien de siècles, que la préférence donnée, par tous les hérétiques, aux Ecritures Saintes sur les définitions ecclésiastiques, n'a pas d'autre raison que la facilitée qu'ils ont de faire dire à la parole de Dieu tout ce qu'ils veulent, en la laissant paraître ou en l'arrêtant à propos...

3º) La troisième principe des hérétiques sur la réforme de la Liturgie est, aprés avoir expulsé les formules ecclésiastiques et proclamé la necessité absolue de n'employer que les paroles de l'Ecriture dans le service divin, voyant ensuite que l'Ecriture ne se plie pas toujours, comme ils le voudraient, à toutes leurs volontés, leur troisiéme principe, disons-nous, est de fabriquer et d'introduire des formules diverses, pleines de perfidie, par lesquelles les peuples sont plus solidement encore enchaînés à l'erreur, et tout l'édifice de la reforme impie sera consolidé pour des siécles".

terça-feira, março 02, 2004

Telegráficas sobre o aborto

1º) O aborto, eufemisticamente denominado pelos extremismo de esquerda e oportunismo de direita como interrupção voluntária da gravidez, não passa do assassinato no próprio ventre materno de um ser humano inocente e indefeso;

2º) Porque o aborto acarreta sempre a eliminação de uma vida humana, não existe um aborto a apoiar - o legal - e um aborto a criticar - o clandestino; o aborto é sempre um acto intrinsecamente mau, independentemente das situações concretas em que seja praticado, e, portanto, deve ser liminarmente rejeitado;

3º) O aborto nunca deixa de ser objectivamente errado e censurável, apesar de, em circunstâncias bem específicas e concretas, a culpa moral subjectiva das mulheres que abortam poder ser mínima e até inexistente;

4º) Porém, é aos tribunais - se necessário, em julgamentos à porta fechada - que incumbe apurar caso a caso tal circunstancialismo redutor ou eliminador da responsabilidade criminal da mulher que abortou; o legislador, vocacionado para ordenar em termos gerais e abstractos a vida da sociedade tendo em vista o seu bem comum, está, por um lado, naturalmente impossibilitado de apurar a factualidade prática que rodeia cada caso de aborto, e, por outro, não se encontra em condições de pressupor que todas as mulheres que abortem o façam em estado de necessidade desculpante, na medida em nada de nada sustenta esse lugar comum esquerdista;

5º) Um mal - as más condições de vida de certas franjas populacionais - não se resolve com outro mal - o aborto; soluciona-se, antes, com a promoção a jusante de uma sexualidade consciente e responsável, baseada nos ensinamentos tradicionais da moral cristã, e a montante com a adopção de políticas que possibilitem o efectivo desenvolvimento económico e social do país e a melhoria do nível de vida de tais camadas da população;

6º) Estranha-se que a esquerda, pretensamente amiga dos desfavorecidos, surja a apoiar o aborto como modo de combater a pobreza, pois paradoxalmente, da postura por ela sustentada, retira-se que todos aqueles que são gerados por mães pobres são potencialmente abortáveis. Isto é eugenismo: afinal, quem é verdadeiramente hipócrita aqui? Ou será antes, para quem acaso ainda não se tivesse apercebido, que a esquerda, ao defender o aborto, deixou cair a máscara do cinismo com que habitualmente se resguarda, mostrando a sua verdadeira face de propugnadora de uma ideologia niilista de ressentimento, inimizade e ódio para com toda a ordem moral natural, isto é, cristã?

7º) E, finalmente, percebe-se qual o verdadeiro objectivo dos defensores do aborto a simples pedido: sob o pretexto da defesa das mulheres socialmente desfavorecidas, eles mais não pretendem do que impor uma medida legislativa que os ponha a salvo do seu comportamento profundamente leviano, promíscuo, debochado e, sobretudo, egoísta, comportamento típico de escravos dos seus próprios vícios, desresponsabilizando-os e desculpabilizando-os das consequências dos seus actos, mesmo que para tal tenham de recorrer a uma "ultima ratio" "anticonceptiva", ou seja, o homicídio de um ser humano inocente e indefeso.

segunda-feira, março 01, 2004

Dom Prosper Gueranguer e a heresia antilitúrgica - 1

Durante os próximos dias, será visita habitual da "Casa de Sarto" Dom Prosper Gueranguer, restaurador da Ordem de São Bento em França, fundador da Abadia de Solesmes e um dos principais pensadores contra-revolucionários católicos do país além Pirinéus durante o período da Restauração e do Segundo Império. Entre 1840 e 1851 escreveu a sua obra monumental "Institutions Liturgiques", onde procede à análise dos grandes princípios que norteiam a liturgia católica (uma edição condensada pode ser encomendada junto de Diffusion de la Pensée Française, SA D.P.F., B.P. 1, 86190 Chiré-en-Montreuil, França, o maior e mais dinâmico distribuidor de obras católicas tradicionais em língua francesa). Aí, num interessante capítulo, sintetizou os doze elementos definidores da heresia antilitúrgica. Enunciá-los-emos um a um. Assim:

"1º) Le premier caractère de l'heresie antiliturgique est la haine de la Tradition dans les formules du culte divin. Tout sectaire voulant introduire une doctrine nouvelle, se trouve infailliblement en présence de la Liturgie, qui est la Tradition à sa plus haute puissance, et il ne saurait avoir de repos qu'il n'ait fait taire cette voix, qu'il n'ait déchiré ces pages qui recèlent la foi des siècles passés. En effet, comment le luthérianisme, le calvinisme, l'anglicanisme se sont-ils établis et maintenus dans la messe? Il n'a fallu pour cela que la substitution de livres nouveaux et de formules nouvelles, aux formules et aux livres anciens, et tout a eté consommé. Rien ne gênait plus les nouveaux docteurs; ils pouvaient prêcher tout à leur aise: la foi des peuples était désormais sans défense".