Numa autêntica surpresa daquelas que sucedem apenas aos que têm o prazer de frequentar as livrarias alfarrabistas, descobri recentemente um exemplar em língua portuguesa da obra de William Cobbett, "História da Reforma Protestante em Inglaterra e Irlanda; fazendo ver que este acontecimento abateu e empobreceu a maior parte dos habitantes destes países; em uma colecção de cartas, dedicadas a todos os ingleses justos e sensíveis" , impressa em Lisboa, no ano de 1828, na Tipografia de Bulhões, com licença da Mesa do Desembargo do Paço.
Confesso que desconhecia que esta obra estivesse vertida para a nossa língua: atraiu-me, na sua lombada em couro, o título "Reforma Protestante". De que se trataria? Abri o livro e deparo com o célebre estudo de Cobbett. Instantaneamente, pensei: é meu! Os € 40 que paguei por tal maravilha pareceram-me um preço absolutamente justo, daqueles que não se discutem.
Neste livro, que serve de contraponto às falácias de cariz weberiano que certos pretensos liberais, ainda hoje, do alto da sua pomposa fatuidade, tanto gostam de invocar para denegrir o Catolicismo, Cobbett, de forma crua e imparcial, num conjunto de cartas escritas aos seus concidadãos, escalpeliza o desastre político, económico e social que constituiu a Reforma Protestante nas Ilhas Britânicas, atirando a totalidade da sua população para perto de três séculos de feroz tirania política como jamais existira previamente, e uma enorme parcela da mesma para uma miséria atroz e ignominiosa, resultado final do confisco dos bens eclesiásticos, anteriormente afectos à satisfação das necessidades dos estratos populacionais mais carenciados, em proveito de sórdidos interesses particulares e egoístas.
Voltando ao exemplar em análise, o mesmo tem o grande atractivo suplementar de as três informações censórias que o apreciam serem subscritas - nada mais, nada menos - pelo Padre José Agostinho de Macedo.
Transcrevamos alguns excertos da terceira informação, em que este ilustre pensador da contra-revolução nacional avisa:
"Subsistem os motivos por que se licenciaram pela Autoridade Ordinária as nove precedentes Cartas, e por eles se podem licenciar as de que esta petição trata: eu as li, e examinei com aquela atenção de que sou capaz, pede, e manda matéria de tanta gravidade, e de tanta importância. Quando o Autor anuncia, que as desgraças, a indigência, e a miséria da maior parte da população da Grã-Bretanha, Escócia, e Irlanda, provêm imediatamente da obilação do Catolicismo, e estabelecimento do Protestantismo, o comprova com tanta exuberância de razões, que os mais pertinazes inimigos da Igreja Católica se conhecem convencidos;
(…)
O Código Penal da Inglaterra contra os Católicos, que o Autor transcreve, é horroroso, ainda que modificado em diferentes reinados desde a ímpia Isabel até agora, é a mais terminante resposta que se pode dar aos que tanto exageram a intolerância da Igreja Católica. Na história das dez maiores perseguições do Cristianismo, não se descobrem quadros mais abomináveis. Tudo quanto os Revolucionários niveladores têm encarecido, e exagerado sobre os procedimentos da Inquisição, não é mais que uma ligeira sombra das barbaridades da Inquisição Protestante contra os Católicos dos três Reinos Unidos da Grã-Bretanha. É pois muito útil a leitura deste Livro, e será de consolação para os verdadeiros Fiéis, vendo a sua causa tão vitoriosamente advogada por um Protestante, e por isso é muito digno este Livro de se lhe conceder a Licença que pede para se imprimir; porém Vossa Senhoria mandará o que for servido. Lisboa, 23 de Agosto de 1827 - José Agostinho de Macedo".
Para quem quiser tomar conhecimento com esta obra de William Cobbett através de uma edição recente em língua inglesa, recomendo a da Tan Books, o maior editor norte-americano, e talvez do mundo, de livros católicos tradicionais.
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