quarta-feira, março 17, 2004

Zapaterias e cobardias

As eleições espanholas fizeram com que o senhor Aznar abandonasse a cadeira do poder e o senhor Zapatero se apoderasse da mesma, ou seja, verdadeiramente não mudaram nada no país vizinho.

Ou acaso, com o novo inquilino da Moncloa, não vai o mundialismo de matriz jacobina-capitalista continuar a ser o verdadeiro rei e senhor de Espanha, mantendo, por intermédio dessa autêntica polícia política de facto que são os meios de comunicação social ditos de referência por si dominados, o exercício do seu discreto mas eficaz e férreo controlo sobre a opinião pública espanhola?

Não vai o PSOE, uma vez mais, ser um fiel executor das suas vontades, tal como anteriormente o foi o PP, aferrado que está à Internacional Socialista e aos lóbis mais ou menos discretos que na penumbra desta pululam?

Com Zapatero, é fácil de se adivinhar, a Espanha vai ter mais aborto - e, diariamente, já são aí abortadas uma média de duzentas pessoas, curiosamente o exacto número de mortos da matança de Madrid; mais laxismo com a criminalidade comum, mormente a provocada pelos toxicodependentes que são legião entre “nuestros hermanos”; mais leniência com o terrorismo, através da busca de novos diálogos com quem só sabe impor totalitária e brutalmente a sua falta de escrúpulos; mais permissividade com as parelhas de homossexuais e de lésbicas, equiparadas aos casais heterossexuais e à família tradicional; mais imigracionismo, muito especialmente islâmico; mais e intensa guerra cultural aos valores religiosos e culturais cristãos que fizeram da Espanha um dos principais pilares do Ocidente - a chegar a bom porto, Zapatero terá realizado o sonho perverso de Dom Manuel Azaña, mas poderá também estar a invocar demónios violentamente exorcizados há sessenta e cinco anos; enfim, mais “mano dura” com quem se atreva a denunciar e enfrentar tal estado de coisas, aliás a única “mano dura” que esta gente sabe mostrar.

Poderíamos, ainda, falar do desastre financeiro que a nova administração socialista irá certamente trazer a Espanha, refém que está do “Lendakari” basco e do “President de la Generalitat” catalão, gente cujos apetites pseudo-independentistas costumam ser saciados a troco de grossas fatias provenientes do bolo orçamental…

Por outro lado, no que concerne às preocupações que o extremo-centro manifesta em relação a uma eventual cobardia do povo espanhol face ao terrorismo islâmico, em virtude do resultado final das eleições do passado Domingo, não me parece aceitável essa tese, pelos pontos que passo a expor.

Primeiramente, o Médio-Oriente jamais foi uma zona de influência histórica de Espanha, ao contrário da Europa, do Norte de África e, sobretudo, da América Latina; portanto, a aventura iraquiana de Aznar não passou de uma bravata somente possível pelo carácter em simultâneo desonesto e megalómano do Primeiro-Ministro espanhol cessante - lembremo-nos das falácias que sufragou sobre a existência de armas de destruição maciça iraquianas, para legitimar o desencadear da guerra, imaginando-se já um novo Carlos V, com peso à escala mundial -, aventura iraquiana essa que o eleitorado espanhol nunca deixou de reprovar esmagadoramente em todas as sondagens realizadas sobre o assunto; aliás, os espanhóis tiveram sempre a clara percepção de que no Iraque se estavam batendo em nome de potências terceiras, alheios ao verdadeiro interesse nacional do seu país.

Em segundo lugar, a cobardia e o laxismo, de que certos extremistas de centro só agora se apercebem, travestidos que estão em súbitos e apressados belicistas de pacotilha postos a rufar os tambores da guerra, tem sido uma constante da Europa nos últimos trinta anos face ao mundo islâmico, nomeadamente na forma como aquela (não) tem encarado o fundamental problema da imigração muçulmana, dando neste campo, sinais de permanente e consistente fraqueza perante o dito mundo islâmico, traduzidos na falta de vontade de controlar - e erradicar, sublinhe-se - essa autêntica invasão silenciosa que tem alterado radicalmente a estrutura populacional do continente europeu, bem como as suas principais características culturais, com os resultados que estão à vista de toda a gente com olhos para ver e cabeça para pensar.

Nesta postura, é que esse mundo apreendeu o primeiro e principal sinal de pusilanimidade do Ocidente. Alguns exemplos práticos: em Roma constrói-se uma mesquita, mas em Meca aos não-muçulmanos nem sequer é permitido o franquear a cidade, quanto mais pensar em erigir uma simples ermida; em Bruxelas, o edifício religioso mais próximo da sede da União Europeia é a Grande Mesquita (não muito longe, é certo, encontramos desafiadora e altaneira a Igreja de São José, da SSPX); em Córdova, os muçulmanos querem transformar a Catedral - a antiga mesquita, com o simbolismo que isso implica - num templo de oração comum com os católicos, mas no Paquistão um cristão que, por acaso, entre numa mesquita arrisca-se a severas penas de prisão; em Itália, um líder islâmico apela à remoção dos crucifixos das escolas públicas e à destruição de frescos do interior de uma igreja católica de Bolonha, mas em boa parte do mundo islâmico, o ensino continua a ser de matriz essencialmente corânica, confundindo-se o Estado completamente com a religião; um pouco por todas as grandes cidades europeias, quarteirões inteiros transformaram-se paulatinamente em autênticas medinas, em lugares de não-direito onde as autoridades policiais se recusam a penetrar e o extremismo político-religioso aliado à criminalidade de delito comum clássica medra em toda a impunidade.

E, pergunta-se: onde estava o extremo-centro enquanto tudo isto foi sucedendo nas últimas décadas? Em nome da sua ambiguidade intelectual e doutrinária, a fingir que nada sucedia ou materialisticamente preocupado com as cotações bolsistas, quando não a denegrir e insultar o único político europeu que durante todo este tempo, consistentemente, tentou pôr um freio a esta situação. Escuso-me de recuar mais no tempo e falar da guerra da Argélia…

E agora, com os bárbaros dentro da cidade, quais hipócritas fingindo-se de vestais ofendidas, põem-se a gritar “Aqui d’El-Rei” e a falar em guerras civilizacionais! Melhor seria terem um pouco de vergonha e estarem calados…

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