Realizou-se, hoje, um dos meus grandes sonhos destes últimos dois anos, desde que tomei conhecimento de que Mel Gibson estava a produzir e dirigir um filme em que narrava a paixão de Cristo: finalmente, há umas escassas horas atrás, numa sala de cinema de Lisboa, visionei o tão falado trabalho daquele actor e realizador australiano.
Sem pretensiosismos e grandes profundidades, que para isso existem os críticos de cinema, deixo aqui a minha opinião sobre aquilo que me foi dado ver: Mel Gibson assina uma obra absolutamente inebriante, dona de um ritmo tonitruante, que domina esmagadoramente o espectador logo desde o projectar das primeiras imagens e durante duas horas até ao seu final; o tempo voa e não se dá pelo seu passar, enquanto decorre a exibição do filme.
Este constitui uma soberba recriação das últimas doze horas da paixão e morte de Cristo, numa estrita, absoluta e ortodoxa concordância com a verdade histórica narrada pelos Evangelhos e corroborada pela tradição cristã. Neste último campo, inserem-se as duas comoventes cenas retrospectivas da infância e juventude de Jesus, bem como o auxílio prestado por Verónica a Cristo durante a caminhada para o Gólgota. Desta maneira, o realizador, para além de traduzir eximiamente em imagens os textos evangélicos, mostra-se um perfeito conhecedor e dominador dos dois livros que, supletivamente, o auxiliaram na criação do seu trabalho: "A Dolorosa Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo" , de Anne Catherine Emmerich; e "A Mística Cidade de Deus" , fabulosa obra da freira visionária carmelita espanhola do século XVII, Maria Agreda (1602 - 1665), que narra a vida da Mãe de Cristo, desde o Seu nascimento até à Sua coroação como Rainha do Céu. Saliente-se que estes textos se encontram devidamente aprovados pela Igreja e que o seu conteúdo em nada contradiz as narrações dos evangelistas, complementando-os somente em pequenas questões de pormenor. Os processos de beatificação de Anne Catherine Emmerich e Maria Agreda estão a decorrer no Vaticano.
Prosseguindo, Gibson transmite-nos a imagem de um Cristo que, para além da Sua natureza divina, assume hipostaticamente a Sua condição humana, com todo o sofrimento inerente a esta, em consequência da totalidade dos pecados de uma humanidade decaída que Ele se propõe resgatar para todo o sempre, livrando-a da escravidão do mal - fabulosa a cena do Diabo, no momento imediato após a morte de Cristo, a urrar desesperado, em total solidão, nas profundezas do Inferno.
O realizador mostra bem as suas firmes convicções de católico de tradição, que não renega a sua fé e que não transige com todas as cedências e rendições modernistas ocorridas no seio da Igreja após o termo Concílio Vaticano II: comprova-o a profunda devoção mariana que ele manifesta durante o decurso de todo o filme - aliás, este pode ser visto como uma transposição para celulóide de uma reflexão gibsoniana dos Mistérios Dolorosos do Rosário - A agonia no horto; A flagelação; A coroação de espinhos; A via sacra dolorosa; A morte na cruz -; demonstra-o, outrossim, a forma como encara a Missa, ou seja, na sua dimensão sacrificial de renovação não-sangrenta do sacrifício de Cristo na cruz e, daí, a alternância de imagens que faz entre a cena da crucificação no Gólgota e a da Última Ceia, na qual Cristo celebrou a primeira Missa.
Em suma: um filme que merece a classificação máxima de vinte valores, a necessitar de ser visto urgentemente, não só pelos Cristãos, mas por todos aqueles que prezam, admiram e apreciam o verdadeiro cinema, a arte feita imagem.
Finalmente, não lhe fujo, a questão do anti-semitismo. Vou ser breve: não há no filme nenhum anti-semitismo; o anti-semitismo, aqui, não passa de um mero espantalho agitado por mentes mesquinhas e tacanhas, eivadas de ódio, cujo único desiderato é dar vazão à sua fúria anticristã de modernos fariseus hipócritas, sejam eles judeus ou gentios, apostados que estão em erradicar do mundo ocidental, na guerra cultural que contra ele lançaram, os valores civilizacionais que o fundamentam, isto é, os valores da civilização judaico-cristã. E como o próprio Cristo diz, a dado passo na obra-prima de Gibson: "Não vos admireis que o mundo (Mal) vos odeie, porque primeiro ele Me odiou." Infelizmente para eles, "non prevalaburunt"!
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