O Luís Bonifácio, do "Nova Floresta", respondeu com urbanidade a uma crítica algo agreste que lhe deixei numa das caixas de comentários, tudo a propósito da eleição do Papa Bento XVI. Aqui fica a minha réplica ao mesmo:
Caro Luís Bonifácio,
1º) A Igreja não precisa da Teologia da Libertação para defender os pobres, porque sempre considerou a opressão dos pobres e o não pagamento do justo salário, como sendo dois dos pecados que bradam ao Céu, e que clamam pela vingança de Deus; os outros dois, anote-se, são o homicídio (aborto incluído) e o pecado sensual contra a natureza (a homossexualidade). De acordo com os Evangelhos, um dos principais factores que Cristo-Rei há-de ter em conta quando, em toda a glória, regressar à Terra para julgar os vivos e os mortos, é exactamente o modo como estes trataram os pobres. Na sua existência bimilenar, a preocupação com os pobres sempre foi uma das prioridades da Igreja, a qual nunca os deixou de socorrer nos mais variados campos, desde o da alimentação ao da saúde, passando pelo da educação. Recordemos as figuras de um São Francisco de Assis, de um São João de Deus, de um São Vicente de Paulo…
Dito isto, uma coisa é a defesa dos pobres, e outra é, à revelia da fé, da tradição e do magistério social da Igreja, abraçar um evangelismo político-militante de crassa raiz materialista, que, reinterpretando (e, consequentemente, deformando e deturpando) à luz da ideologia marxista conceitos basilares do Cristianismo, tem por fim último a transformação das relações e das estruturas materiais de produção em ordem à realização da sociedade socialista, a qual é absurdamente identificada com o Reino de Deus. A Teologia da Libertação, ao adoptar a agressiva praxis comunista e o seu modelo de acção demagógica baseado na luta de classes, não hesita em tornar-se companheira de jornada de uma doutrina política que tem por motores a inimizade, o ressentimento, a inveja e o ódio, ou seja, radicalmente oposta ao Cristianismo (intrinsecamente perversa, chamou-lhe Pio XI, na "Divini Redemptoris"), promovendo a violação directa dos Sétimo e Décimo Mandamentos da Lei de Deus. É, enfim, lastimável verificar como ela corrompe os fins últimos da Religião, não manifestando a mais leve e aparente preocupação com o bem-estar espiritual das almas dos crentes, com vista à salvação das mesmas para a eternidade. De resto, não é teologia porque não tem por objecto o conhecimento de Deus; nem é da libertação porque se inspira na doutrina marxista-leninista, ideologia totalitária negadora da ordem natural, sem a qual não é possível a existência de qualquer verdadeira liberdade humana, ideologia essa que jamais resolveu quaisquer problemas dos pobres, se não os agravou e ampliou ainda mais. E quando os seus defensores identificam o Reino de Deus com o regime tirânico cubano, é evidente que Roma não pode deixar de intervir e condenar essa postura, como efectivamente o fez (e com extrema permissividade modernista, saliente-se).
2º) No que respeita ao avanço das seitas evangélicas em solo latino-americano, a explicação que V. dá faria sentido se porventura aquelas defendessem a Teologia da Libertação, o que manifestamente não acontece; na verdade, o que sucede é que quando a Igreja Católica, na ressaca do Concílio Vaticano II, na América Latina, se afastou da tradição, atirando pela janela fora com tudo o que é religiosidade, espiritualidade e sacralidade, para se embrenhar na má-política revolucionária, renunciou à sua vocação específica - a cura e o bem-estar espiritual das almas -, deixando esse campo completamente desguarnecido e à mercê das seitas evangélicas, que passaram a dar aos crentes, ainda que de forma circense, aquilo que eles deixaram de encontrar no sucedâneo modernista do Catolicismo. Ora, nessas como noutras paragens, enquanto a Igreja não regressar à tradição, o seu declínio prosseguirá.
3º) Não existem católicos à discrição ou "à la carte": ou se é católico, e se aceita a totalidade do conjunto de verdades de fé e moral divinamente reveladas de que a Igreja é depositária e fiel guardiã, verdades eternas, intemporais e imutáveis, ou não se aceita, e não se é mais católico. Católicos à discrição foram Miguel Cerulário, Henrique VIII, Lutero e Calvino; todos eles acabaram em cisma ou em heresia. Cristo é claríssimo quando diz que é "o Caminho, a Verdade e a Vida", ou ainda mais ao afirmar que "Quem não é por nós, é contra nós".
4º) Seminários tradicionalistas como Econe, da SSPX; Gricigliano, do ICRSP; Wigratzbad, da FSSP; ou Campos, da AASJMV, não acusam minimamente a queda das vocações e estão cheios de candidatos ao sacerdócio. Por que será? Porque aí, ao contrário do que sucede na generalidade dos seminários diocesanos, os alunos defensores da ortodoxia não são sistematicamente perseguidos, nem desencorajados de seguir a sua vocação, ao invés dos restantes onde apenas se protege quem é heterodoxo, modernista, anticatólico e, até, moralmente pervertido.
5º) A Igreja Católica de sempre não tem qualquer culpa da invasão islâmica da Europa. Historicamente, vários santos caracterizaram-se pelo vigor e firmeza com que se opuseram ao Islão: Santiago, São Luís de França, São Bernardo de Claraval, São Francisco de Assis - apoiou as Cruzadas; nunca foi o pateta politicamente correcto retratado pelos modernistas -, São Pio V ou São Vicente de Paulo são magníficos exemplos desse facto. A responsabilidade de tal circunstância deve-se antes aos políticos jacobinos e mundialistas que, com a finalidade inconfessada de alterarem a matriz cultural cristã da Europa, permitiram a entrada de milhões de islamitas no nosso continente. Condescendo que quando o Papa João Paulo II, por causa do seu ecumenismo mal-são, em pleno Vaticano, beijou o Alcorão e disse "Possa São João Baptista proteger o Islão", minou gravemente a resistência católica à invasão muçulmana; que diferença vergonhosa em relação a Monsenhor Lefebvre, que em 1991, à beira da sua morte, sofreu o opóbrio de responder num tribunal de Paris por um "crime racista", acusado por uma coisa chamada Liga Internacional Contra o Racismo e o Antisemitismo, a qual não gostou de que o Santo Atanásio do século XX tivesse dito publicamente que em França já havia muçulmanos a mais…
6º) Finalmente, no que concerne à pessoa do actual Papa Bento XVI, comparada com a de João Paulo II: cada Papa é diferente daquele que o antecedeu, e a Bento XVI não se lhe pede que seja um actor hollywoodesco, cheio de charme, e que arraste multidões que, contudo, fazem total tábua-rasa do que ele prega; o que se quer deste Papa é que seja um fiel e firme defensor do corpo de verdades de fé e moral reveladas de que é guardião, e que as transmita incólumes, tal como as recebeu, ao seu sucessor. Se assim for, Bento XVI será um Santo Papa! Cumpra ele esta tarefa, regresse à Missa de rito latino-gregoriano de sempre, abandone a canga do Vaticano II (ou, pelo menos, releia-a à luz da tradição bimilenar da Igreja) e forçosamente o Catolicismo revigorar-se-á da noite para o dia. É que, ao contrário do que V. parece supor, à Igreja não é possível mudar a doutrina de que é defensora, porque não foi a Igreja que a criou, mas sim Deus. E este prometeu-lhe assistência até ao final dos tempos…
E, por mim, dou por encerrada esta polémica.
Caro Luís Bonifácio,
1º) A Igreja não precisa da Teologia da Libertação para defender os pobres, porque sempre considerou a opressão dos pobres e o não pagamento do justo salário, como sendo dois dos pecados que bradam ao Céu, e que clamam pela vingança de Deus; os outros dois, anote-se, são o homicídio (aborto incluído) e o pecado sensual contra a natureza (a homossexualidade). De acordo com os Evangelhos, um dos principais factores que Cristo-Rei há-de ter em conta quando, em toda a glória, regressar à Terra para julgar os vivos e os mortos, é exactamente o modo como estes trataram os pobres. Na sua existência bimilenar, a preocupação com os pobres sempre foi uma das prioridades da Igreja, a qual nunca os deixou de socorrer nos mais variados campos, desde o da alimentação ao da saúde, passando pelo da educação. Recordemos as figuras de um São Francisco de Assis, de um São João de Deus, de um São Vicente de Paulo…
Dito isto, uma coisa é a defesa dos pobres, e outra é, à revelia da fé, da tradição e do magistério social da Igreja, abraçar um evangelismo político-militante de crassa raiz materialista, que, reinterpretando (e, consequentemente, deformando e deturpando) à luz da ideologia marxista conceitos basilares do Cristianismo, tem por fim último a transformação das relações e das estruturas materiais de produção em ordem à realização da sociedade socialista, a qual é absurdamente identificada com o Reino de Deus. A Teologia da Libertação, ao adoptar a agressiva praxis comunista e o seu modelo de acção demagógica baseado na luta de classes, não hesita em tornar-se companheira de jornada de uma doutrina política que tem por motores a inimizade, o ressentimento, a inveja e o ódio, ou seja, radicalmente oposta ao Cristianismo (intrinsecamente perversa, chamou-lhe Pio XI, na "Divini Redemptoris"), promovendo a violação directa dos Sétimo e Décimo Mandamentos da Lei de Deus. É, enfim, lastimável verificar como ela corrompe os fins últimos da Religião, não manifestando a mais leve e aparente preocupação com o bem-estar espiritual das almas dos crentes, com vista à salvação das mesmas para a eternidade. De resto, não é teologia porque não tem por objecto o conhecimento de Deus; nem é da libertação porque se inspira na doutrina marxista-leninista, ideologia totalitária negadora da ordem natural, sem a qual não é possível a existência de qualquer verdadeira liberdade humana, ideologia essa que jamais resolveu quaisquer problemas dos pobres, se não os agravou e ampliou ainda mais. E quando os seus defensores identificam o Reino de Deus com o regime tirânico cubano, é evidente que Roma não pode deixar de intervir e condenar essa postura, como efectivamente o fez (e com extrema permissividade modernista, saliente-se).
2º) No que respeita ao avanço das seitas evangélicas em solo latino-americano, a explicação que V. dá faria sentido se porventura aquelas defendessem a Teologia da Libertação, o que manifestamente não acontece; na verdade, o que sucede é que quando a Igreja Católica, na ressaca do Concílio Vaticano II, na América Latina, se afastou da tradição, atirando pela janela fora com tudo o que é religiosidade, espiritualidade e sacralidade, para se embrenhar na má-política revolucionária, renunciou à sua vocação específica - a cura e o bem-estar espiritual das almas -, deixando esse campo completamente desguarnecido e à mercê das seitas evangélicas, que passaram a dar aos crentes, ainda que de forma circense, aquilo que eles deixaram de encontrar no sucedâneo modernista do Catolicismo. Ora, nessas como noutras paragens, enquanto a Igreja não regressar à tradição, o seu declínio prosseguirá.
3º) Não existem católicos à discrição ou "à la carte": ou se é católico, e se aceita a totalidade do conjunto de verdades de fé e moral divinamente reveladas de que a Igreja é depositária e fiel guardiã, verdades eternas, intemporais e imutáveis, ou não se aceita, e não se é mais católico. Católicos à discrição foram Miguel Cerulário, Henrique VIII, Lutero e Calvino; todos eles acabaram em cisma ou em heresia. Cristo é claríssimo quando diz que é "o Caminho, a Verdade e a Vida", ou ainda mais ao afirmar que "Quem não é por nós, é contra nós".
4º) Seminários tradicionalistas como Econe, da SSPX; Gricigliano, do ICRSP; Wigratzbad, da FSSP; ou Campos, da AASJMV, não acusam minimamente a queda das vocações e estão cheios de candidatos ao sacerdócio. Por que será? Porque aí, ao contrário do que sucede na generalidade dos seminários diocesanos, os alunos defensores da ortodoxia não são sistematicamente perseguidos, nem desencorajados de seguir a sua vocação, ao invés dos restantes onde apenas se protege quem é heterodoxo, modernista, anticatólico e, até, moralmente pervertido.
5º) A Igreja Católica de sempre não tem qualquer culpa da invasão islâmica da Europa. Historicamente, vários santos caracterizaram-se pelo vigor e firmeza com que se opuseram ao Islão: Santiago, São Luís de França, São Bernardo de Claraval, São Francisco de Assis - apoiou as Cruzadas; nunca foi o pateta politicamente correcto retratado pelos modernistas -, São Pio V ou São Vicente de Paulo são magníficos exemplos desse facto. A responsabilidade de tal circunstância deve-se antes aos políticos jacobinos e mundialistas que, com a finalidade inconfessada de alterarem a matriz cultural cristã da Europa, permitiram a entrada de milhões de islamitas no nosso continente. Condescendo que quando o Papa João Paulo II, por causa do seu ecumenismo mal-são, em pleno Vaticano, beijou o Alcorão e disse "Possa São João Baptista proteger o Islão", minou gravemente a resistência católica à invasão muçulmana; que diferença vergonhosa em relação a Monsenhor Lefebvre, que em 1991, à beira da sua morte, sofreu o opóbrio de responder num tribunal de Paris por um "crime racista", acusado por uma coisa chamada Liga Internacional Contra o Racismo e o Antisemitismo, a qual não gostou de que o Santo Atanásio do século XX tivesse dito publicamente que em França já havia muçulmanos a mais…
6º) Finalmente, no que concerne à pessoa do actual Papa Bento XVI, comparada com a de João Paulo II: cada Papa é diferente daquele que o antecedeu, e a Bento XVI não se lhe pede que seja um actor hollywoodesco, cheio de charme, e que arraste multidões que, contudo, fazem total tábua-rasa do que ele prega; o que se quer deste Papa é que seja um fiel e firme defensor do corpo de verdades de fé e moral reveladas de que é guardião, e que as transmita incólumes, tal como as recebeu, ao seu sucessor. Se assim for, Bento XVI será um Santo Papa! Cumpra ele esta tarefa, regresse à Missa de rito latino-gregoriano de sempre, abandone a canga do Vaticano II (ou, pelo menos, releia-a à luz da tradição bimilenar da Igreja) e forçosamente o Catolicismo revigorar-se-á da noite para o dia. É que, ao contrário do que V. parece supor, à Igreja não é possível mudar a doutrina de que é defensora, porque não foi a Igreja que a criou, mas sim Deus. E este prometeu-lhe assistência até ao final dos tempos…
E, por mim, dou por encerrada esta polémica.
Adenda: o maior Papa do Século XX, como é evidente, foi São Pio X.
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