sexta-feira, setembro 24, 2004

A sabedoria de Dom António de Castro Mayer - 4

Proposição falsa: A democracia cristã consiste no governo do povo, isto é, da maioria.

Proposição verdadeira: "Democracia cristã" é expressão usada para indicar qualquer governo que promova o bem comum sobre a lei de Deus, seja esse governo monárquico, aristocrático ou democrático. É o que ensina Leão XIII quando diz que que a democracia cristã "não deve absolutamente ter em vista preparar e preferir uma forma de governo em substituição a outra" (Encíclica "Graves de Communi"). A forma democrática de governo é compatível com a doutrina da Igreja na medida em que significa a participação do povo nos negócios públicos. Mas por "povo" a Igreja não entende a maioria numérica, anorgânica, isto é, a massa; porém, toda a população, atendidas as legítimas diferenciações de classe, de região, etc.. Assim, a democracia legítima não é o domínio das classes mais numerosas sobre as menos numerosas, da massa sobre o escol, mas a justa e proporcionada influência das classes, famílias, regiões e grupos sociais, nos negócios públicos.

Explanação
: A diferença entre a concepção católica e a concepção corrente da democracia procede de uma maneira diferente de entender a palavra "povo". Para a Igreja, o povo é em certo sentido o contrário da massa. Pio XII diz: "Povo e multidão amorfa, ou como se costuma dizer, massa, são dois conceitos diversos. O povo vive e se move por vida própria; a massa é por si mesma inerte e não pode ser movida senão do exterior. O povo vive da plenitude da vida dos homens que o compõem, cada um dos quais - em sua própria posição e segundo o seu modo próprio - é uma pessoa cônscia das respectivas responsabilidades e convicções. A massa, pelo contrário, espera o impulso do exterior, fácil joguete nas mãos de quem quer que lhe explore os instintos e as impressões, pronta a seguir, alternadamente, hoje esta bandeira e amanhã aquela. Da exuberância de vida de um verdadeiro povo a vida se difunde, abundante, rica, no Estado e em todos os seus organismos, comunicando-lhes com vigor incessantemente renovado a consciência de sua própria responsabilidade, o verdadeiro sentido do bem comum" (Alocução de Natal de 1944).

Ora, para o comum dos democratas o povo é precisamente o que Pio XII chama de massa. É o que se deduz das palavras do Papa (…): "Por toda a parte, atualmente, a vida das nações está desagregada pelo culto cego do valor numérico. O cidadão é eleitor. Mas, como tal, não é ele na realidade senão umas das unidades cujo total constitui uma maioria ou uma minoria, que o simples deslocamento de algumas vozes, quando não de uma só, basta para inverter. Do ponto de vista dos partidos, o eleitor não conta senão pelo seu poder eleitoral, pelo concurso que o seu voto dá; de sua situação, e de seu papel na família e na profissão não se cogita" (…).

Escrevendo sobre a democracia no sentido aceitável da palavra, convém acrescentar que ela jamais se identifica com o mito revolucionário da soberania popular. Todo o poder vem de Deus. O povo - e por "povo" entenda-se o que acima foi definido em oposição à massa - apenas pode escolher os que governarão com a autoridade que lhes vem de Deus.

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