Em Portugal, o romance católico é tido como coisa francesa, própria de escritores à maneira de Georges Bernanos ou François Mauriac, ainda que eu pessoalmente - como modelos de escritores católicos - prefira os argentinos Hugo Wast e Leonardo Castellani, os ingleses Robert Hugh Benson e J.R.R. Tolkien, o italiano Giovanni Papini e o brasileiro Gustavo Corção. Porém, cumpre realçar, também o nosso país, na sua literatura do século XX, possui um notável romancista católico, ainda que este seja hoje em dia um desconhecido para a maioria do público comum e a sua obra se encontre, de modo imerecidíssimo, quase totalmente esquecida: refiro-me à pessoa do sintrense Francisco Costa, que viveu entre 1900 e 1988 e cujo esforço criativo literário teve o seu epicentro entre o começo das décadas de 1940 e 1970.
Católico integral e monárquico legitimista, e por isso mesmo dotado de intensa sensibilidade social e profundo amor ao próximo, Costa é autor de uma obra que merece ser resgatada do olvido com toda a urgência, ao menos pelos defensores da Tradição, já que nela a inspiração católica vibra intensa e plenamente.
Em trabalhos como “A Garça e a Serpente”, “Primavera Cinzenta”, “A Revolta do Sangue” e “Cárcere Invisível”, autênticas obras-primas presentemente ao alcance do leitor que se digne procurá-las apenas em alfarrabistas e numa ou outra biblioteca pública, Costa transmite de forma magistral o drama de uma existência humana privada de Deus e por isso quase sempre enveredada pelos trilhos escuros do pecado, mas que nem por esse facto deixa de procurar - ainda que nem sempre frutiferamente… - um caminho alternativo de luz que apenas a graça da conversão (ou reversão) à religião de Cristo permite percorrer por inteiro.
Católico integral e monárquico legitimista conforme já salientei, mas também simpatizante da pessoa de Oliveira Salazar, fustigador implacável dos vícios, da futilidade e da mesquinhez desprovida de tacto social de muitos dos membros das classes ditas superiores, bem como de todo o tipo de arrivistas sem escrúpulos (um quarto de século quase decorrido desde a sua morte, o que Costa escreveria acerca da actual sociedade portuguesa, se a contemplasse!...), ademais de acérrimo crítico da ideologia marxista-leninista, custou-lhe tal postura de homem verdadeiramente livre e descomprometido o ostracismo a que a sua obra está hoje votada.
Ora, também por esta razão, redescubramo-la agora e leiamo-la com a justiça que lhe é devida, desfrutando em simultâneo do intenso prazer espiritual que a mesma propicia a quem dela se abeira.
Deo quae a Deo!
1 comentários:
De facto, Francisco Costa é um nome bastante esquecido das nossas Letras, mas tal aconteceu também com outros três escritores de inspiração católica que tivemos no século XX: Manuel Ribeiro, Antero de Figueiredo e Nuno de Montemor.
Penso que o caso de maior injustiça será mesmo o de Antero de Figueiredo (1866-1953), a única figura não-eclesiástica autorizada pela Hierarquia da Igreja a entrevistar a vidente de Fátima, Irmã Lúcia, no seu convento de Tuy, nos anos 30 - entrevista essa que deu origem a um belíssimo livro “Fátima : graças, segredos, mistérios”, que urge reeditar.
Para alem dos livros de temática religiosa que escreveu entre as décadas de 20 a 50 do século XX (tais como “O Ultimo olhar de Jesus”, “Fatima, graças segredos, mistérios,”, “pessoas de bem”, “Amor Supremo” e “Non son dignus”), Antero de Figueiredo na sua longuíssima carreira literária (iniciada em finais do século XIX) foi também autor de livros de viagens, romances históricos e novelas de recorte camiliano.
Em todos os seus livros se revelou sempre um grande cultor da Língua portuguesa, com um estilo riquíssimo e opulento.
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