domingo, março 09, 2008

Uma má entrevista de D. José Policarpo


No passado Sábado, dia 1 de Março, tive uma recaída em relação a um velho e mau hábito que julgava ter perdido em definitivo há alguns anos: comprei um jornal de fim-de-semana, mais concretamente "O Sol". Foi a primeira vez que adquiri tal pasquim, ao septuagésimo sétimo número que publica, e em má hora o fiz. Ademais de ter desperdiçado dois euros e meio numa folha que nada traz de novo ao medíocre panorama da imprensa nacional, limitando-se a repetir em traços gerais a linha editorial seguida pelo "Expresso" e "Público" - os jornais portugueses estão cada vez mais semelhantes aos da antiga União Soviética em falta de originalidade; à imagem do que sucedia com o "Pravda" e o "Izvestia", já quase só se distinguem pelo título -, sucedeu que a dita folha, logo no número em causa, publicou uma entrevista ao Cardeal-Patriarca de Lisboa, que passo agora a comentar.

Num trabalho conduzido pela jornalista Margarida Marante, D. José Policarpo surge ao leitor menos prevenido com uma aparência de bispo doutrinariamente ortodoxo, considerando o teor das respostas que dá àquela entrevistadora, nas quais - destaque-se - culpa a secularização hodierna pela quebra da natalidade e falta de vocações sacerdotais, e realça que na sociedade contemporânea dá muito trabalho ser cristão. Pura ilusão, porém, pois o entrevistado não consegue esconder o modernismo de que é notório apaniguado!

De facto, utilizando as palavras do próprio Patriarca de Lisboa, é de um simplismo confrangedor - mas muito conveniente para eclesiocratas alijarem as suas responsabilidades - imputar os males de que a Igreja Católica sofre na actualidade em exclusivo à secularização imperante no mundo moderno. Obviamente que tal secularização existe, imposta por forças poderosas - mais ou menos secretas, mais ou menos discretas - que o magistério papal nos dois séculos e meios anteriores ao Vaticano II denunciou sempre com vigor; todavia, a derrocada de que a Igreja foi vítima no último meio século, deveu-se antes de mais à sua autêntica capitulação face ao mundo, ao seu desarme espiritual perante as modas do dia. Ao prescindir da Realeza Social de Cristo, e ao renunciar à sociedade cristã optando pela maritainiana sociedade de cristãos - olvidando-se de que uma sociedade cristã é necessariamente uma sociedade de cristãos, mas uma sociedade de cristãos não é forçosamente uma sociedade cristã -, os maus homens de Igreja abriram as portas ao desastre cujas causas efectivas Dom José Policarpo tenta agora infrutiferamente esconder! Na verdade, quem semeia ventos, arrisca-se a colher tempestades!

E, de resto, só posso estranhar que o Patriarca de Lisboa surja com tantas lamentações, num tom que roça o farisaísmo. Sem esquecer a deplorabilíssima omissão por ele protagonizada no ano transacto, ao recusar empenhar-se seriamente no combate contra a legalização do aborto a simples pedido em Portugal, sustentando que este não era um problema de foro religioso, no que tange à grave quebra da natalidade, não me lembro de quando é que o episcopado português defendeu publicamente pela última vez o ensinamento tradicional da Igreja que condena o controlo e regulação artificial dos nascimentos, bem plasmado nas fundamentais encíclicas "Casti Connubii", de Pio XI, e "Humanae Vitae", de Paulo VI. Quanto às homílias do comum dos sacerdotes diocesanos, não vale a pena sequer tecer comentários sobre comédias de gosto duvidoso. Por seu turno, no que concerne às vocações, é outro campo onde os maus homens de Igreja vêem medrar os frutos daninhos das opções tomadas nas últimas décadas. Se o padre não é mais um sacerdote que age em nome de Cristo, um outro Cristo, mas antes um homem como qualquer outro, um mero funcionário do "povo de Deus" à maneira protestante, que sentido faz ainda ser padre perante este quadro factual? Nenhum! E não falo sequer da perseguição que é levada a cabo sistematicamente em muitos seminários dominados pelos modernistas contra os candidatos ao sacerdócio que se atrevem ainda a esboçar sinais de um mínimo de ortodoxia doutrinária, tornando-lhes impossível a concretização da sua vocação.

Da entrevista de Dom José Policarpo, também não posso deixar passar em claro o indisfarçável rancor que lhe continua a provocar a acção de Sua Santidade o Papa em matéria de restauração litúrgica. Questionado pela jornalista Margarida Marante que o Papa gosta muito da "Missa em latim" - e aqui a dita jornalista comete um erro grave motivado pela sua ignorância acerca da matéria, reduzindo o problema da oposição entre o rito latino-gregoriano e o rito paulino a uma mera questão de estética linguística, quando o que está em causa é a opção entre um rito que afirma integralmente as verdades da fé católica e um outro que as minimiza -, o Patriarca de Lisboa, com fria astúcia modernista, responde que só viu uma vez Bento XVI celebrar em latim, mais precisamente na Missa que se seguiu à entronização papal. O Cardeal-Patriarca de Lisboa finge ignorar com notória audácia as notícias que lhe chegam do Vaticano, mas afirmar o que ele afirma na semana em que em na diocese de Roma, a cabeça da Igreja, foi constituída uma paróquia pessoal para os fiéis católicos do rito latino-gregoriano, que o Papa pretende exemplar, constitui uma autêntica fífia, um verdadeiro tiro no próprio pé!

Para concluir, apenas mais um comentário sobre um outro ponto da entrevista em análise que não pode ser ignorado: no final da mesma, tecendo longas considerações acerca do Islamismo, D. José Policarpo ousa dizer que reza para que os muçulmanos sejam bons muçulmanos! À boa maneira modernista, não conceberá sequer orar para que os muçulmanos se convertam à única religião verdadeira - a Católica - e adorem o Deus Uno e Trino por eles negado…

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