sexta-feira, fevereiro 11, 2005

Breviário da contra-revolução - 2

"Desta Soberania armada no ar entrei a desconfiar ainda mais quando vi os seus efeitos práticos. Dizia-se que o povo havia de nomear quem lhe fizesse as leis, e que El-Rei devia executá-las à risca. Mas na nomeação de Deputados vi que tudo era ambição e maranha. O povo não sabia ler, e nomeava por escrito quem os mais poderosos e mais manhosos queriam para seus representantes.

(…)

Mas quando eu vi o Salão das Cortes cheio de bandalhos e de petimetres, tão fofos como um sapo inchado, vomitando sandices, e minando os alicerces da Religião e da Monarquia, desenganei-me que a tal Soberania era uma farsa armada para certos fins. Que diabo de Soberania é esta (dizia eu) que traz inquieta a nação, espalha a impiedade, persegue os bons, desmancha a máquina da Monarquia, excita a guerra civil, provoca as tropas ultramontanas, e prepara a anarquia? É para isto que foi proclamada a Soberania do povo?"


Frei Fortunato de São Boaventura - "O Punhal dos Corcundas"

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