sexta-feira, outubro 05, 2007

Efeitos desagradáveis mas previsíveis


O actual governo português demonstra uma vez mais toda a sua iniquidade, com a pretensão de aprovar um projecto de lei de regulamentação da assistência espiritual e religiosa nos hospitais públicos que, em termos práticos, inviabiliza quase na totalidade a prestação de auxílio religioso aos que neles são internados. De facto, por intermédio do servente de magarefe jacobino que ocupa a pasta de Ministro da Saúde, intenta o executivo de José Sócrates que os ingressados nos estabelecimentos hospitalares estatais recebam assistência religiosa somente nos casos em que a hajam solicitado de forma expressa, mediante declaração pessoal escrita e assinada. Ora, é de senso comum saber que boa parte dos doentes que são internados em hospitais, o são num estado de saúde grave (ou até crítico) que os incapacita naturalmente de produzir a declaração em causa. Assim, deste modo subtil ou nem tanto, bane-se a assistência religiosa dos espaços hospitalares e avança-se um pouco mais na consumação da agenda anticristã governamental.

Trata-se, pois, de um projecto absolutamente abjecto que deve merecer a firme oposição de qualquer pessoa bem formada, e em especial dos católicos dignos desse nome. Uma hipotética lei que com base nele viesse a ser aprovada violaria a mais elementar ordem natural, seria grosseiramente inconstitucional e contrária à Concordata vigente entre Portugal e a Santa Sé, e, acima de tudo e no extremo, permitiria que o governo socrático consumasse o oculto desiderato de colocar em risco o destino eterno das almas de um incontável número de pessoas, ao privá-las da possibilidade de receberem os sacramentos da Penitência e/ou da Extrema-Unção com base em motivos de estrita ordem burocrática!

Sobre este grave tema já se pronunciaram dois bispos portugueses: o Bispo do Porto, D. Manuel Clemente, e o Bispo-Auxiliar de Lisboa, Dom Carlos Azevedo (o mesmo que reputa os devotos da Santa Missa de rito latino-gregoriano de nostálgicos…). Infelizmente, fazem-no em termos tais que revelam imediatamente as suas convicções modernistas, e, por isso, melhor seria que se tivessem mantido calados.

Na verdade, à revelia do magistério tradicional sobre as relações entre o Estado e a Igreja, os senhores bispos não hesitam em defender o secularismo e o laicismo, fazendo uma destrinça absurda entre estas realidades em si mesmas, que reputam de positivas, e os seus excessos, que qualificam de negativos. Prisioneiros que estão dos sofismas progressistas e das falácias da "nova cristandade" propagadas pelo mau Maritain, não compreendem que ao condescender-se que a espada do poder temporal deixe de estar ao serviço do poder eclesiástico; ao aceitar-se a autonomização do bem individual perante o bem comum colectivo; e ao admitir-se a não subordinação do todo colectivo às leis divina e moral, ou seja, ao sufragar-se o secularismo e o laicismo; se fica sujeito a efeitos desagradáveis ainda que previsíveis, pois se aquela espada não assiste mais a Igreja na prossecução do bem, é porque passou a servir outros interesses não cristãos ou até impiamente anticristãos, como os senhores bispos começam a constatar doravante e da pior maneira possível.

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