quinta-feira, junho 24, 2004

Suspiro na Noite em Guerra (Poemas da Guerra de Espanha - II)

Conforme o prometido a este amigo, e atendendo ao excelente recebimento que teve a publicação do "Romance de Onésimo Redondo", prossegue-se com a divulgação da poesia nacionalista da Guerra Civil de Espanha, apresentando-se "Suspiro na Noite em Guerra", da autoria de Frederico Urrutia, com tradução portuguesa de António Manuel Couto Viana:

Assomada ao parapeito
a noite morre de frio.
Há labirintos de chumbo
pelo ar e pelo rio,
a Morte vai desmaiada
plos campos adormecidos
- Rumores de sangue e de fogo
dão às árvores arrepios -,
vem do silêncio da aldeia
o ladrar dos cães vadios.

Roncam roncos os canhões
com as bocas enlutadas.
E nos campos de papoilas,
entre espigas mutiladas,
bailam e beijam os mortos
estrelas despenteadas.

Borda camisas azuis
- metralha e loiros - a Guerra,
enquanto dormem soldados
enlaçados com a terra.
Salmo de almas em vigília;
Cantigas que o vento leva:
"… Ó Mãe, voltarei cantando,
Mãe, não chores mais, espera.
As flechas desta camisa
serão prà tua bandeira…".

Areia presa defende
os que dormem céu aberto.
De espanto secos, os montes
abraçam a sentinela.

Crânios mongólicos temem
A manhã que já se acerca,
sobre tanques desventrados
nos altos picos da serra.

Este é o último suspiro
Ao pé de um choupo que treme:
"… Ó Mãe, voltarei cantando,
Mãe, não chores mais, espera.
As flechas desta camisa
serão prà tua bandeira…".

Fogem, lívidas as sombras
que navegam pelo rio.
E a noite, cega e louca,
morre de sono e de frio.

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