Embora jamais tenha falado neste espaço de futebol, e as minhas intervenções sobre esse assunto na blogosfera se hajam cingido a umas míseras observações nas caixas de comentários de alguns blogues amigos, a verdade é que sempre apreciei tal jogo, nunca deixando de seguir os seus principais eventos nacionais e internacionais - e, como tal, também o corrente Euro 2004 -, ainda que a maior parte das vezes de forma pouco mais do que discreta, passando-se mesmo anos a fio sem que ponha os pés num estádio. Este meu desânimo com o pontapé na bola, qual microcosmos do mundo actual, decorre da notória degradação que a modernidade lhe veio trazer, introduzindo nele o espírito de mercenarismo, corrupção, imoralidade e escândalo tão típico de uma realidade crassamente materialista onde o dinheiro - Mammon - é rei e senhor incontestado. Apesar disso, por o futebol ter um qualquer resquício de beleza mágica que me continua a atrair, tenho conseguido evitar um corte total de relações com ele, não podendo por isso deixar de manifestar a minha satisfação com a vitória obtida pela selecção nacional portuguesa contra a Inglaterra, num jogo cujo desenrolar, paradoxalmente, só me recordou uma afirmação ouvida a Wellington no rescaldo da batalha de Waterloo: mais terrível do que a vitória, apenas a derrota.
Posto isto, se calhar surpreendendo alguns dos meus benévolos leitores, acrescento que a onda de patriotismo - melhor dizendo, de patrioteirismo - inócuo que correntemente varre Portugal pouco ou nada me diz. Fenómeno em não despicienda parcela artificial, resultante do condicionamento exercido pelos meios de comunicação social sobre multidões acéfalas, incapazes de reflexão introspectiva e, portanto, facilmente manipuláveis, provocado com a anuência de um sistema a quem este tipo de patriotismo não põe minimamente em causa, qual "pão e circo" dos antigos romanos, esta euforia lusófila alimentada a litradas de cerveja visa alienar o vulgo das questões que qualquer verdadeiro patriota não pode deixar de colocar no presente relativamente ao destino futuro de Portugal, mormente quanto à dissolução do País no magma federalista da União Europeia, uma das antecâmaras da Nova Ordem tão desejada pelos lóbis mundialistas inimigos das pátrias-nações, e quanto à descaracterização identitária da nação portuguesa.
Em suma, sem me alongar mais, desejo sinceramente que Portugal vença o Euro-2004, mas não contem comigo para desempenhar o papel de idiota útil em histerias colectivas, ou por outra, que o futebol me faça perder a noção das proporções das coisas.
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