Agora que a
confusão emocional dos últimos dias abrandou e a poeira começa a assentar, ainda
não vi nenhum espaço, dos poucos que estariam em condições de o fazer, abordar
este ponto: sendo jesuíta e argentino, o Papa Francisco há-de saber bem quem
foi o Padre Leonardo Castellani e conhecer melhor a fabulosa obra literária deste.
Será provável até que os dois se hajam cruzado pessoalmente por mais de uma vez
num muitos dos eléctricos ou autocarros de Buenos Aires. Ora, um conhecedor da
obra de Castellani, sentado no Trono de São Pedro, sob o influxo do Espírito
Santo, poderá agir no mínimo de modo interessante e no máximo de forma
explosiva em defesa da ortodoxia católica, ainda que esse conhecedor tenha respondido anteriormente pelo nome de Cardeal Jorge Mário Bergoglio…
Convirá
sublinhar, no que concerne à obra de Castellani, que um dos seus temas centrais
é o combate ao farisaísmo no interior da Igreja, entendido este como um burocratismo
religioso, um eclesiocratismo desapiedado e desalmado que obnubila o sentido da
fé e subverte a função religiosa, transformando-a numa mera, fria, calculista e
até rentável actividade profissional, em parte não despicienda responsável pela
apostasia das sociedades contemporâneas.
A este
respeito, curiosamente ou não, coincidência ou não, as primeiras intervenções
públicas do Papa Francisco parecem ir no sentido de dar combate a um certo
espírito farisaico que quase eliminou o sentido mais profundo do religioso no
Catolicismo institucional, que se arraigou profundamente no seio do aparelho
dirigente da Igreja e que perturbou tanto quanto pôde, em defesa dos seus
mesquinhos interesses, o pontificado do Papa Bento XVI. Neste contexto,
percebem-se as advertências bem justificadas de Francisco de que a Igreja não pode
ser uma ONG de cariz filantrópico ou humanitário, sendo antes a sua missão anunciar
a Cristo. E compreendem-se também melhor as referências a uma Igreja pobre (que
não uma Igreja minimalista, miserável ou paupérrima), que suponho poderem
interpretar-se no sentido de que a Igreja não pode nunca deixar acomodar-se ao
mundo à maneira dos fariseus; pelo contrário, a Igreja não deve ter medo de se de
expor, de proclamar em público Cristo e as verdades de fé e moral por Ele reveladas
contra os disparates do mesmo mundo.
Por tudo isto,
até ver, creio existirem razões de moderada esperança. Continuemos a rezar pelo
Papa Francisco.
***
- El fariseísmo viene a ser como…
los fariseos son “religiosos professionales”… como el profesionalismo de la
religión - dije -, recordando una frase de Gustavo Thibon.
- Ése es solamente el primer grado
del fariseísmo, en todo caso - reflexionó el viejo -. A ver si podemos
describirlo por sus grados:
El primero: La religión se vuelve meramente
exterior…
El segundo: La religión se vuelve
profesión, métier, gagne-pain.
El tercero: La religión se vuelve
instrumento de ganancia, de honores, poder o dinero.
- ¡Es como una esclerotización del
religioso, un endurecimiento o decaimiento progresivo! - saltó el teólogo.
- Y después una falsificación,
hipocresía, dureza hasta la crueldad… - dije yo.
- Jesucristo en el EVANGELIO condenó
a los fariseos- machacó fray Florecita - y con eso basta.
El judío se había quedado como absorto.
Después prosiguió con una voz hueca y ronca…
- Yo temblo de decir lo que oso
apenas pensar… Mi corazón tiembla delante de Dios como una hoja de árbol al
pensar en el misterio del fariseísmo. Yo no puedo indignarme como el Divino
Maestro; yo, miserable gusano, le tengo miedo - y de hecho se estremeció
bruscamente todo su cuerpo, y dos lágrimas asomaron a sus ojos.
- Los otros grados - prosiguió - ya
son diabólicos. El corazón del fariseo primero se vuelve corcho, después
piedra, después se vacía por dentro, después lo ocupa el demonio. “Y el demonio
entró en él”, dice Juan de Judas.
El cuarto: la religión se vuelve
pasivamente dura; insensible, desencarnada.
El quinto: la religión se vuelve
hipocresía: “el santo” hipócrita empieza a despreciar y aborrecer a los que
tienen religión verdadera.
El sexto: el corazón de piedra se
vuelve cruel, activamente duro.
El séptimo: el falso creyente
persigue de muerte a los veros creyentes, con saña ciega, con fanatismo
implacable… y no se clama ni siquiera ante la cruz ni después de la cruz… “Este
impostor dijo que al tercer día iría resucitar”; de modo que, oh Excelso
Procurador de Judea… Guardias al sepulcro.
Leonardo Castellani, in “Los Papeles
de Benjamín Benavides”, Madrid, Homo Legens, 2012, páginas 278 e 279.
5 comentários:
Um exemplo clássico foi o de Pio IX, cujo Pontificado acabou por desmentir as previsões decorrentes da reputação de Liberalismo que O rodeara, aquando da eleição...
Abraço
Caro Paulo, há quanto tempo! Seja bem vindo!
É bem verdade: o exemplo do Beato Pio IX, simpatizante do liberalismo oitocentista, é o exemplo que devemos ter em mente no tempo presente. E, outrossim, devemos recordar São João Bosco: quando os seus alunos, a exemplo dos jacobinos após a eleição do então novo Papa, gritavam "Viva Pio IX!", o santo costumava retorquir com um "Viva o Papa!".
Boa tarde, Amigo da Casa de Sarto, casa que frequento.
Queria pedir o favor de me indicar onde posso adquirir obras do Padre Castellani, nomeadamente essa que cita.
Muito agradecido.
Jorge.oraetlabora
Caro amigo, pode fazê-lo através da casadellibro.com., da amazon.es ou da iberlibro.com.
Para um primeiro contacto geral com a obra de Castellani, sugiro-lhe que comece por "Como sobrevivir intelectualmente al siglo XXI", a colectânea organizada por Juan Manuel de Prada e deu a conhecer o escritor argentino ao público espanhol. De seguida, passa imediatamente para "Los Papeles" que é simplesmente brilhante, a meu ver a obra em que Castellani atinge o seu ponto mais alto.
Muchas gracias por la referencia a mi blog.
Un saludo.
Bruno Moreno
(Blog Espada de Doble Filo)
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