Os trabalhos de Hércules da lenda antiga, entre homens
semideuses, são brinquedos de crianças comparados com os do homem cristão,
mísero mortal de carne, sangue e nervos a violentarem-lhe o espírito, ou, com
os de sensibilidade poética, deslumbrada de estesia, a desvairá-lo em suas
visões belas, aladas, livres e… temerárias!
Lutador de agora, tudo conspira conta ti: a época irreligiosa
e arreligiosa; o absorvente, o obcecado gozo pagão em que os sentidos
tiranizam; os versáteis caracteres que te cercam, adaptáveis a tudo - às
opiniões e às circunstâncias - como betume, quebradiços como fios de vidro; o
cepticismo frio e quiçá negador; o indiferentismo estéril de mistura com
sorrisos levianos!
No entanto, tudo isto se desfaz em estilhas de encontro à
fortaleza das almas bem formadas, ao heroísmo das que se dominam por crerem em
si próprias, seguras de possuir a “natureza do Bem” (PASCAL) - a capacidade da
beleza ética. E este é o arranco interior por que suspira o homem desamparado,
o homem caído.
Ah, que falta que faz no mundo de hoje o exemplo contagioso
de uma maioria de límpidas consciências, de valentes caracteres, em almas
imbuídas de Graça - Sobrenatural Força!
Que falta faz no mundo de hoje essa portentosa lição viva!
Antero de Figueiredo, in “Non Sum Dignus”*, Porto, Livraria
Tavares Martins, 4ª edição revista, 1948, páginas 331 e 332.
* Em próximo artigo, escreverei acerca deste livro.
* Em próximo artigo, escreverei acerca deste livro.
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