Durante os últimos quinze dias, durante os quais me foi impossível publicar aqui o que quer que fosse devido a múltiplos afazeres de ordem familiar e profissional, ocorreram duas situações que não posso deixar de comentar e ambas relacionadas - uma vez mais… - com a atitude negativa dos bispos portugueses face à Missa de rito latino-gregoriano.
Primeiramente, durante a visita "ad limina" que fizeram a Roma, e mau-grado a severa repreensão que o Santo Padre Bento XVI justamente lhes ministrou, Suas Excelências Reverendíssimas nem por isso tiveram pejo em afirmar, a propósito da promulgação do Motu Proprio "Summorum Pontificum", que em Portugal existe pouca apetência pela Missa tradicional. Não nego tal factualidade, mas essa pouca apetência é essencialmente imputável aos senhores bispos em razão da concepção doutrinária herética modernista que perfilham sobre a Missa, e não ao desinteresse dos fiéis, como os mesmos pretenderam fazer crer em Roma.
Na verdade, tenho conhecimento de que durante a vigência do Motu Proprio "Ecclesia Dei", do Papa João Paulo II, numa diocese portuguesa, e pelo menos por duas vezes, foram encetadas as necessárias diligências (nas quais, sublinho, não participei) junto do respectivo bispo titular para que este autorizasse a celebração da Missa segundo o rito tradicional; porém, o mesmo não só não deu qualquer provimento a tais diligências, como ao invés as frustrou liminarmente. E, de facto, se existe um rito pelo qual os católicos revelam pouca apetência, esse é seguramente o rito paulino resultante da reforma litúrgica de 1969, responsável - em conjunto com a secularização galopante das sociedades ocidentais - pela queda abrupta da prática religiosa entre os crentes, devido ao completo desprovimento de espírito de fé católica de que padece, cifrando-se por esta razão entre nós, na actualidade, a prática dominical numa média miserável de 20%... Aliás, fosse oficiado nas igrejas portuguesas o rito latino-gregoriano em igualdade de circunstâncias com o rito paulino, e no prazo de seis meses a dois anos o rito tradicional registaria um enorme acréscimo de novos fiéis, especialmente jovens, em detrimento do rito reformado, a exemplo do que tem sucedido no resto do mundo católico, enquanto muitos outros fiéis reatariam a prática entretanto abandonada. De resto, este é exactamente o grande pavor inconfessado dos senhores bispos!
Assim, o cerne desta questão reside no facto de o episcopado lusitano se ter afastado no pós-V2 da teologia tradicional católica sobre o Santo Sacrifício da Missa definida explícita e infalivelmente pelo Concílio de Trento, adoptando antes o oposto daquela decorrente da heresia protestante, e que tão decisivamente influenciou o modernismo. Em consequência, os senhores bispos não conseguem tolerar um rito que afirma explicitamente a Missa como sendo a renovação não sangrenta do sacrifício de Cristo na Cruz, oferecido em apaziguamento não só dos pecados dos fiéis vivos com vista à obtenção das graças que permitam que estes se salvem para a vida eterna e evitem a perdição para sempre no Inferno, mas também a redução das penas e padecimentos dos fiéis defuntos no Purgatório, e muito menos conceber que o mesmo rito no seu momento mais solene - o Cânon Romano - proclame a Igreja Católica como sendo a Igreja de Cristo chefiada visivelmente pelo Papa e constituída por todos os crentes cultores da ortodoxia católica; a intercessão dos santos, muito em especial de Nossa Senhora; e a diferenciação explícita entre o sacerdócio do celebrante ordenado e o sacerdócio comum dos fiéis.
Efectivamente, como compatibilizar estas verdades fundamentais do Catolicismo expressadas pelo rito latino-gregoriano, tridentino ou de São Pio V, com o ecumenismo sincretista jacobino sufragado pelos senhores bispos, ao qual o rito paulino (em si mesmo, válido e não herético, mas teologicamente deficiente e imperfeito) tentou dar acolhimento no seio da Igreja? Impossível de tal ser feito! No rito tradicional não há lugar para a concepção herética protestante de que a Missa é uma mera refeição memorial da paixão e morte de Cristo, ou, quanto muito, um mero sacrifício de louvor sem natureza propiciatória; e, ainda menos, para as heresias da justificação e salvação universal de todos os homens independentemente dos seus méritos, ou do sacerdócio indiferenciado de todos os membros do "Povo de Deus".
Ora, pelo exposto, e não por outra causa, é que os nossos bispos não aceitam o rito tradicional, subjugados que estão pela heresia modernista.
Pelas mesmas razões, e passo à análise da segunda situação objecto deste artigo, conseguem agora compreender-se melhor as deploráveis afirmações produzidas pelo Presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, o Arcebispo Primaz de Braga, D. Jorge Ortiga (foto acima), acerca do rito latino-gregoriano, em entrevista concedida ao "Expresso".
Diz o titular da arquidiocese de Braga, a qual em tempos históricos ainda não distantes costumava ser ocupada por homens que prestavam com frequência serviços relevantes à Igreja e à Pátria, que o Papa Bento XVI estabeleceu no "Summorum Pontificum" várias restrições à celebração da Missa tradicional! Todavia não esclarece quais sejam essas restrições, porque nem sequer pode fazê-lo, dado elas não existirem, bem sabendo que com tal afirmação está a inverter audazmente e por completo as verdadeiras intenções do Sumo Pontífice Romano. Pateticamente, em defesa da sua estranha posição - cujos verdadeiros motivos já se viu quais sejam na primeira parte deste artigo - sustenta que muitos dos sacerdotes ordenados nos anos mais recentes desconhecem a língua latina. Tal ponto de vista seria cómico, não fosse tão trágico e sintomaticamente elucidativo do caótico estado a que chegaram os seminários nacionais, presentemente locais de autêntica heterodoxia anticatólica a merecerem uma demorada e minuciosa visita por parte de uma Cardeal inspector vindo directamente de Roma. É que, tanto quanto sei, o latim continua a ser a língua oficial da Igreja Católica, na qual todos os seus documentos oficiais são redigidos, e ainda a língua litúrgica da Igreja do Ocidente. Parece que aqui os bispos portugueses, com o presidente da Conferência Episcopal à cabeça, se olvidaram do prescrito na encíclica "Veterum Sapientiae", do… Papa João XXIII.
É certo que Dom Jorge Ortiga, ao menos em teoria, não refuta totalmente a possibilidade de a Missa ser celebrada segundo o rito latino-gregoriano, mas sempre acrescenta que tais celebrações não podem ser ocasião de afirmação de uma mentalidade pré-V2. Uma mentalidade pré-V2?!!! Estranho conceito que provocaria legítimas interrogações a Santo Atanásio, Santo Agostinho, São Tomás de Aquino, São Pio V, São Leonardo de Porto Maurício, Santo Afonso Maria do Ligório, São João Maria Vianney ou São Pio X! O que é isso?!!! Na Missa de rito latino-gregoriano acentua-se única e exclusivamente - sim - a essência católica de todos os que nela participam, cada um na sua função! Uma vez mais D. Jorge Ortiga desilude: à revelia do magistério do Santo Padre sobre a hermenêutica da continuidade, supondo-se ainda algures nos anos 60/80, entre os pontificados de Paulo VI e João Paulo II, afirma-se propugnador do "espírito do V-2" e da hermenêutica da ruptura a ele adstrito, como se porventura a tradição inexistisse e a Igreja tivesse começado em tão-só em 1965.
Primeiramente, durante a visita "ad limina" que fizeram a Roma, e mau-grado a severa repreensão que o Santo Padre Bento XVI justamente lhes ministrou, Suas Excelências Reverendíssimas nem por isso tiveram pejo em afirmar, a propósito da promulgação do Motu Proprio "Summorum Pontificum", que em Portugal existe pouca apetência pela Missa tradicional. Não nego tal factualidade, mas essa pouca apetência é essencialmente imputável aos senhores bispos em razão da concepção doutrinária herética modernista que perfilham sobre a Missa, e não ao desinteresse dos fiéis, como os mesmos pretenderam fazer crer em Roma.
Na verdade, tenho conhecimento de que durante a vigência do Motu Proprio "Ecclesia Dei", do Papa João Paulo II, numa diocese portuguesa, e pelo menos por duas vezes, foram encetadas as necessárias diligências (nas quais, sublinho, não participei) junto do respectivo bispo titular para que este autorizasse a celebração da Missa segundo o rito tradicional; porém, o mesmo não só não deu qualquer provimento a tais diligências, como ao invés as frustrou liminarmente. E, de facto, se existe um rito pelo qual os católicos revelam pouca apetência, esse é seguramente o rito paulino resultante da reforma litúrgica de 1969, responsável - em conjunto com a secularização galopante das sociedades ocidentais - pela queda abrupta da prática religiosa entre os crentes, devido ao completo desprovimento de espírito de fé católica de que padece, cifrando-se por esta razão entre nós, na actualidade, a prática dominical numa média miserável de 20%... Aliás, fosse oficiado nas igrejas portuguesas o rito latino-gregoriano em igualdade de circunstâncias com o rito paulino, e no prazo de seis meses a dois anos o rito tradicional registaria um enorme acréscimo de novos fiéis, especialmente jovens, em detrimento do rito reformado, a exemplo do que tem sucedido no resto do mundo católico, enquanto muitos outros fiéis reatariam a prática entretanto abandonada. De resto, este é exactamente o grande pavor inconfessado dos senhores bispos!
Assim, o cerne desta questão reside no facto de o episcopado lusitano se ter afastado no pós-V2 da teologia tradicional católica sobre o Santo Sacrifício da Missa definida explícita e infalivelmente pelo Concílio de Trento, adoptando antes o oposto daquela decorrente da heresia protestante, e que tão decisivamente influenciou o modernismo. Em consequência, os senhores bispos não conseguem tolerar um rito que afirma explicitamente a Missa como sendo a renovação não sangrenta do sacrifício de Cristo na Cruz, oferecido em apaziguamento não só dos pecados dos fiéis vivos com vista à obtenção das graças que permitam que estes se salvem para a vida eterna e evitem a perdição para sempre no Inferno, mas também a redução das penas e padecimentos dos fiéis defuntos no Purgatório, e muito menos conceber que o mesmo rito no seu momento mais solene - o Cânon Romano - proclame a Igreja Católica como sendo a Igreja de Cristo chefiada visivelmente pelo Papa e constituída por todos os crentes cultores da ortodoxia católica; a intercessão dos santos, muito em especial de Nossa Senhora; e a diferenciação explícita entre o sacerdócio do celebrante ordenado e o sacerdócio comum dos fiéis.
Efectivamente, como compatibilizar estas verdades fundamentais do Catolicismo expressadas pelo rito latino-gregoriano, tridentino ou de São Pio V, com o ecumenismo sincretista jacobino sufragado pelos senhores bispos, ao qual o rito paulino (em si mesmo, válido e não herético, mas teologicamente deficiente e imperfeito) tentou dar acolhimento no seio da Igreja? Impossível de tal ser feito! No rito tradicional não há lugar para a concepção herética protestante de que a Missa é uma mera refeição memorial da paixão e morte de Cristo, ou, quanto muito, um mero sacrifício de louvor sem natureza propiciatória; e, ainda menos, para as heresias da justificação e salvação universal de todos os homens independentemente dos seus méritos, ou do sacerdócio indiferenciado de todos os membros do "Povo de Deus".
Ora, pelo exposto, e não por outra causa, é que os nossos bispos não aceitam o rito tradicional, subjugados que estão pela heresia modernista.
Pelas mesmas razões, e passo à análise da segunda situação objecto deste artigo, conseguem agora compreender-se melhor as deploráveis afirmações produzidas pelo Presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, o Arcebispo Primaz de Braga, D. Jorge Ortiga (foto acima), acerca do rito latino-gregoriano, em entrevista concedida ao "Expresso".
Diz o titular da arquidiocese de Braga, a qual em tempos históricos ainda não distantes costumava ser ocupada por homens que prestavam com frequência serviços relevantes à Igreja e à Pátria, que o Papa Bento XVI estabeleceu no "Summorum Pontificum" várias restrições à celebração da Missa tradicional! Todavia não esclarece quais sejam essas restrições, porque nem sequer pode fazê-lo, dado elas não existirem, bem sabendo que com tal afirmação está a inverter audazmente e por completo as verdadeiras intenções do Sumo Pontífice Romano. Pateticamente, em defesa da sua estranha posição - cujos verdadeiros motivos já se viu quais sejam na primeira parte deste artigo - sustenta que muitos dos sacerdotes ordenados nos anos mais recentes desconhecem a língua latina. Tal ponto de vista seria cómico, não fosse tão trágico e sintomaticamente elucidativo do caótico estado a que chegaram os seminários nacionais, presentemente locais de autêntica heterodoxia anticatólica a merecerem uma demorada e minuciosa visita por parte de uma Cardeal inspector vindo directamente de Roma. É que, tanto quanto sei, o latim continua a ser a língua oficial da Igreja Católica, na qual todos os seus documentos oficiais são redigidos, e ainda a língua litúrgica da Igreja do Ocidente. Parece que aqui os bispos portugueses, com o presidente da Conferência Episcopal à cabeça, se olvidaram do prescrito na encíclica "Veterum Sapientiae", do… Papa João XXIII.
É certo que Dom Jorge Ortiga, ao menos em teoria, não refuta totalmente a possibilidade de a Missa ser celebrada segundo o rito latino-gregoriano, mas sempre acrescenta que tais celebrações não podem ser ocasião de afirmação de uma mentalidade pré-V2. Uma mentalidade pré-V2?!!! Estranho conceito que provocaria legítimas interrogações a Santo Atanásio, Santo Agostinho, São Tomás de Aquino, São Pio V, São Leonardo de Porto Maurício, Santo Afonso Maria do Ligório, São João Maria Vianney ou São Pio X! O que é isso?!!! Na Missa de rito latino-gregoriano acentua-se única e exclusivamente - sim - a essência católica de todos os que nela participam, cada um na sua função! Uma vez mais D. Jorge Ortiga desilude: à revelia do magistério do Santo Padre sobre a hermenêutica da continuidade, supondo-se ainda algures nos anos 60/80, entre os pontificados de Paulo VI e João Paulo II, afirma-se propugnador do "espírito do V-2" e da hermenêutica da ruptura a ele adstrito, como se porventura a tradição inexistisse e a Igreja tivesse começado em tão-só em 1965.
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