quarta-feira, maio 18, 2005

Os Pecados Capitais

Pe. Emmanuel-André


Prometemos lançar um olhar detalhado sobre as chagas da natureza. Teremos como guia São Gregório Magno e nos bastará escutar o incomparável doutor.
Explicando as palavras de Jó: «Ele sente de longe o odor da guerra, a arenga dos capitães, o ulular do exército» (Jó,XXXIX,25)ele diz:
«Entre os vícios que combatem invisivelmente contra nós, sob o império do orgulho, há alguns que marcham na frente como capitães, outros que seguem como simples sodados. Porque os pecados não dominam o coração da mesma maneira. Quando os pecados principais, que são em menor número, se apoderam de uma alma que se descuida, os menores, que são em número infinito, caem sobre ela em tropel. Quando o rei dos vícios, que é o orgulho, se apodera inteiramente de um coração vencido, ele o entrega, imediatamente, à devastação dos sete vícios capitais, como se fossem capitães às suas ordens. Esses são seguidos de um grande exército porque é deles que nascem todos os outros vícios. Explicaremos isso mais claramente, fazendo uma enumeração detalhada desses chefes e de seu exército.
A raiz de todo o mal é o orgulho, do qual está escrito: O começo de todo pecado é o orgulho (Ecl.X,15). Suas primeiras produções são os sete pecados capitais que nascem dessa raiz empesteada, a saber: a vã glória, a inveja, a cólera, a tristeza, a avareza, a gula e a luxúria. (1).
Cada um desses vícios tem contra nós seus exércitos. A vã glória é seguida pela desobediência, a jactância, a hipocrisia, as discussões, a teimosia, as discórdias e a curiosidade pelas novidades.
A inveja é seguida do ódio, da maledicência secreta, da difamação pública, do contentamento com os males do próximo, da raiva por sua prosperidade.
A cólera engendra as rixas, a inchação do espírito, as injúrias, os clamores, a indignação, as blasfêmias.
A tristeza é seguida da malícia, do rancor, da timidez, do desespero, da tibieza diante dos mandamentos divinos e do extravio do espírito na direção das coisas ilícitas.
A avareza engendra a traição, a mentira, a falsidade, o perjúrio, a inquietação, a viiolência, o endurecimento do coração contra a misericordia.
A gula é seguida dos prazeres loucos, das bufonarias, do impudor, da tagarelice, do embrutecimento intelectual.
A luxuria engendra a cegueira da alma, o alheamento, a inconstância, a precipitação, o amor de si mesmo, o ódio de Deus, a afeição pelo mundo presente e a aversão ou o desespero pelo mundo futuro.
E esses sete vícios capitais são ligados entre si por tão grande afinidade que se engendram uns aos outros. Assim, a primeira produção do orgulho, que é a vã glória, mal comunicou sua corrupção à alma, logo engendra a inveja, por que aquele que aspira ao poder ou a dignidade é atormentado pelo medo de que algum outro o obtenha antes dele. Por seu lado, a inveja engendra a cólera: quanto mais a alma é interiormente roída pela inveja, mais ela perde a doçura e a tranqüilidade, ela só se alimenta com o desgosto nascido de sua perturbação. A tristeza degenera também em avareza, poque o coração, caído na confusão e tendo perdido o dom da alegria interior, vai procurar fora com que se consolar, e sai atrás dos bens exteriores com tanto mais ardor quanto menos tenha em si mesmo motivos de alegria a que possa recorrer. Depois desses restam os dois vícios da carne, a saber a gula e a luxúria, e ninguém ignora que a gula engendra a luxúria...» (1)
São Gregório nota que, dos sete pecados capitais, há cinco que são vícios do espírito e dois são vícios da carne. E segundo ele, pode-se reduzi-los a dois: o orgulho e a impureza. O que é o orgulho senão a impureza do espírito? E o que é a impureza senão o orgulho da carne?
«Esses dois vícios – diz ainda São Gregório – exercem um duro domínio sobre todos os homens.
O orgulho rebela o espírito, a luxúria corrompe a carne: o antigo inimigo oprime a natureza humana ou pelo orgulho ou pela impureza, submetendo o homem condenado ao jugo de sua tirania pela vã elevação do espírito ou pela corrupção da carne. Há mesmo alguns a quem ele possui por esses dois vícios ao mesmo tempo». (2)
Estando a natureza, depois da queda original, no estado que conhecemos, o naturalismo chega e anuncia seu grande princípio: A natureza se basta! Nós o veremos pondo-se à obra e cedo ele pretenderá nos ensinar a moral.

Texto original.

(RCS)

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