segunda-feira, setembro 19, 2011

Da caminhada para a concretização da "Experiência da Tradição"

Escrevi este artigo - Da possibilidade de um acordo entre Roma e a FSSPX - há precisamente seis anos. Hoje não vislumbro qualquer razão que me leve a refutar a tese que então defendi e que sustentava a hipótese concreta da celebração de um acordo entre a FSSPX e Roma, com vista à regularização do estatuto canónico daquela primeira no seio da Igreja institucional.

Respigo e destaco do que disse na altura:

(…) relembrando que os artigos publicados neste espaço expressam exclusivamente o ponto de vista dos seus autores, apesar da simpatia assumida que os mesmos têm pelo combate tradicionalista da FSSPX, passo a reflectir sobre a possibilidade de Roma e a Fraternidade chegarem a um acordo que ponha fim às divergências dos últimos trinta anos.

A meu ver, julgo que esse evento será possível, se três condições prévias forem preenchidas:

a) A total liberalização da celebração da Missa tradicional de rito latino-gregoriano, desenleando-a das amarras a que a mesma se encontra presa depois da reforma litúrgica de Paulo VI, num acto que implicaria tão-só a total reconfirmação do conteúdo da bula "Quo Primum", e mais latamente da reafirmação dos cânones 1º a 6º, da XXII Sessão do Concílio de Trento;

b) Levantamento das excomunhões injustas e infames proferidas pelo Papa João Paulo II contra Monsenhor Marcel Lefebvre, Dom António de Castro Mayer e os actuais quatro bispos da Fraternidade, as quais comprovadamente são desprovidas de qualquer fundamento canónico, constituindo um dos baixos momentos do pontificado do antecessor de Sua Santidade Bento XVI;

c) Transformação da Fraternidade numa administração apostólica ou prelatura pessoal exclusivamente dependente do Papa, sem quaisquer interferências dos ordinários locais, e com a garantia de que os respectivos bispos serão sempre escolhidos de entre os seus membros.

É claro que se fizer isto, o Papa Bento XVI muito provavelmente verá ser desencadeada contra a sua autoridade uma guerra sem quartel movida pelos hereges neo-modernistas (…) que fizeram da destruição da fé e tradição católicas, bem como da erecção de uma religião antropolátrica, objectivos principais das suas vidas.

(…)

Assim, estará o Romano Pontífice disposto a correr risco de deixar acontecer o verdadeiro cisma com que os hereges o ameaçam? Talvez, se estiver seguro de quem cerrará fileiras do seu lado. Nessa luta, os sacerdotes da Fraternidade desempenharão seguramente um papel de primeira grandeza e linha, e devido à sua formação estritamente ortodoxa, contribuirão com denodo para a limpeza dos estábulos de Áugias em que a Igreja se transformou após quarenta anos de modernismo desenfreado. Rezo para que as coisas assim se passem. Que Cristo e Sua Mãe assim o queiram!

Por outro lado, a crise da Igreja não acabará imediatamente, circunstância que outrossim não agradará a certos sectores tradicionalistas próximos do chamado sedevacantismo. Há que consciencializarmo-nos de que Roma não abrirá mão, pelo menos no imediato, das suas posições sobre a colegialidade, a liberdade de religião ou o ecumenismo (…). Porém, mau-grado este circunstancialismo, aqui devemos estar esperançados: o pleno resgate da Missa tradicional da catividade em que penava, trará certamente graças extraordinárias à Igreja, e constituirá um profundo golpe no modernismo. Afinal, "lex orandi, lex credendi"... Muitos perderão o receio (infundamentado) que a Fraternidade presentemente lhes provoca, e começarão a frequentar a Missa tradicional. Descobrirão, então, como foram abusadas espiritualmente durante largos anos da sua vida... Tudo o mais começará a vir por acréscimo.

Doravante, passo a acrescentar tão-só mais as seguintes considerações.

Com maiores ou menores subtilezas jurídicas, as condições postas nas alíneas a) e b) acima transcritas já foram respondidas positivamente por Roma. Se a estas duas se vier a acrescentar também a aceitação da imprescindível condição colocada na alínea c) supra, é meu juízo que à Fraternidade não restará outra alternativa que não seja a de aceitar a sua imediata regularização canónica por Roma, e sem ter a preocupação de solucionar à pressão questões doutrinárias e de magistério que apenas o tempo - médio e longo prazo - resolverá.

Outrossim, e como referi há não muito numa troca de correspondência com um amigo tradicionalista brasileiro a propósito deste assunto, Roma (o Santo Padre) precisa da Fraternidade para pôr ordem dentro da Igreja, mas a Fraternidade também necessita de Roma (do Santo Padre) para ser coerente consigo própria e com aquilo que prega.

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