Na certeza de que o Pedro Guedes, o BOS e o Corcunda já disseram o essencial, não pode esta "Casa" deixar de assinalar o octogésimo aniversário da morte de António Sardinha, que ontem se comemorou. Figura de referência inevitável na história do pensamento político português do século XX, a sua obra é indubitavelmente a mais importante e brilhante que ao longo desse período medrou na área que se convencionou apelidar da direita nacional. Aqui fica transcrito, em singela homenagem ao Mestre, um texto extraído do seu artigo "Porque Voltámos" (1922), o qual é parte integrante do livro "A Prol do Comum… - Doutrina & História", publicado em Lisboa, pela Livraria Ferin, no ano de 1934:
"Pátria para sempre passada, memória quási perdida! Pois para que não o seja é que nós voltamos ao mais alto exercício do nosso dever de portugueses, que não é senão o de promover entre nós uma restauração da Inteligência. Dum e outro lado da trincheira em que Portugal se corta de cima a baixo, pululam, numa inconsciência torpe de arraial, os mesmos bonecos, os mesmos postiços, cuja genealogia Eça de Queiroz nos traçou na sua obra cheia da mais elevada intenção demolidora. Portugal morre, porque, tal como uma tribo revolta de berberes, deixou secar as raízes que o prendem à alma eterna da história. Cabe-nos a nós por isso, - minoria que por acaso nos julguem - reconstruir, antes de mais nada, a fisionomia moral da Nacionalidade, indo beber ao património das gerações transactas os estímulos sagrados que nos abrirão, de par em par, as portas misteriosas do Futuro.
Assim se define o nosso nacionalismo, que não é nacionalismo somente, porque o tempera, como regra filosófica, o mais rasgado e mais genuíno tradicionalismo. Aceitação das razões fundamentais da Pátria com todas as leis derivadas da Raça e do Meio, nós não nos fechamos, porém, nessa moldura estática, em que por vezes pode tumultuar um forte vento anárquico, como o provam na sua incapacidade conhecida as diversas improvisações nacionalistas provocadas pela guerra europeia. Há que ir mais longe e realizar pela projecção do génio de cada pátria numa consciência maior um ideal de civilização, - o da civilização cristã que formou o mundo e esperamos confiadamente o salvará ainda.
Se o nacionalismo é, deste modo, na vida dos povos um necessário e imprescindível elemento de renovação, como que o plasma originário e criador, só se torna, contudo, duradoiro e fecundo quando depurado pelas disciplinas sociais e intelectuais do tradicionalismo. Consiste, por seu turno, o tradicionalismo no reconhecimento e na prática dum sistema de princípios e de instituições acreditados pela experiência e em que se condensa o fruto duma longa observação na arte de governar e de ser governado. Do consórcio dos dois factores, - nacionalismo e tradicionalismo, resulta, pois, a norma de conduta que a ciência sociológica proclama hoje como a única eficaz, depois das aventuras ruinosas a que as ideologias tentadoras da Revolução arrastaram o Estado e a Sociedade. Lembram-se por acaso do diálogo da Ermida com a Campina na "Colline inspirée", de Maurice Barrés? "O que é um grande pensamento, se o entusiasmo o não anima? O que é um grande entusiasmo, se o pensamento o não coordena?" Eis aqui a fórmula exacta em que o nosso nacionalismo se confunde e amplia com o nosso tradicionalismo.
A colheita adivinha-se como numa seara magnífica. Adivinha-se na aspiração larga de restituirmos à nacionalidade a sua alma adormecida, - porque uma nacionalidade é, sobretudo, uma alma, um valor espiritual, um génio - e, integrando-a em si mesma, levá-la depois a participar da marcha do mundo por mercê da função civilizadora de que a tornarmos capaz.
Todo esse universo de problemas se abriga assim dentro do nosso viático. E porque reflectimos em nós a tragédia imensa do nosso tempo, não nos podemos esquivar às interrogações angustiosas da hora presente. Se em política nos declaramos pela Monarquia, é conveniente sempre acentuar que nos declaramos pela Monarquia-social, regímen que, repelindo como absurdo o sistema actual do Estado, apela para a sindicalização dos interesses e das profissões, como a única garantia eficaz de liberdade, - mas de liberdade orgânica, irmã gémea da competência, da hierarquia e da autoridade."
"Pátria para sempre passada, memória quási perdida! Pois para que não o seja é que nós voltamos ao mais alto exercício do nosso dever de portugueses, que não é senão o de promover entre nós uma restauração da Inteligência. Dum e outro lado da trincheira em que Portugal se corta de cima a baixo, pululam, numa inconsciência torpe de arraial, os mesmos bonecos, os mesmos postiços, cuja genealogia Eça de Queiroz nos traçou na sua obra cheia da mais elevada intenção demolidora. Portugal morre, porque, tal como uma tribo revolta de berberes, deixou secar as raízes que o prendem à alma eterna da história. Cabe-nos a nós por isso, - minoria que por acaso nos julguem - reconstruir, antes de mais nada, a fisionomia moral da Nacionalidade, indo beber ao património das gerações transactas os estímulos sagrados que nos abrirão, de par em par, as portas misteriosas do Futuro.
Assim se define o nosso nacionalismo, que não é nacionalismo somente, porque o tempera, como regra filosófica, o mais rasgado e mais genuíno tradicionalismo. Aceitação das razões fundamentais da Pátria com todas as leis derivadas da Raça e do Meio, nós não nos fechamos, porém, nessa moldura estática, em que por vezes pode tumultuar um forte vento anárquico, como o provam na sua incapacidade conhecida as diversas improvisações nacionalistas provocadas pela guerra europeia. Há que ir mais longe e realizar pela projecção do génio de cada pátria numa consciência maior um ideal de civilização, - o da civilização cristã que formou o mundo e esperamos confiadamente o salvará ainda.
Se o nacionalismo é, deste modo, na vida dos povos um necessário e imprescindível elemento de renovação, como que o plasma originário e criador, só se torna, contudo, duradoiro e fecundo quando depurado pelas disciplinas sociais e intelectuais do tradicionalismo. Consiste, por seu turno, o tradicionalismo no reconhecimento e na prática dum sistema de princípios e de instituições acreditados pela experiência e em que se condensa o fruto duma longa observação na arte de governar e de ser governado. Do consórcio dos dois factores, - nacionalismo e tradicionalismo, resulta, pois, a norma de conduta que a ciência sociológica proclama hoje como a única eficaz, depois das aventuras ruinosas a que as ideologias tentadoras da Revolução arrastaram o Estado e a Sociedade. Lembram-se por acaso do diálogo da Ermida com a Campina na "Colline inspirée", de Maurice Barrés? "O que é um grande pensamento, se o entusiasmo o não anima? O que é um grande entusiasmo, se o pensamento o não coordena?" Eis aqui a fórmula exacta em que o nosso nacionalismo se confunde e amplia com o nosso tradicionalismo.
A colheita adivinha-se como numa seara magnífica. Adivinha-se na aspiração larga de restituirmos à nacionalidade a sua alma adormecida, - porque uma nacionalidade é, sobretudo, uma alma, um valor espiritual, um génio - e, integrando-a em si mesma, levá-la depois a participar da marcha do mundo por mercê da função civilizadora de que a tornarmos capaz.
Todo esse universo de problemas se abriga assim dentro do nosso viático. E porque reflectimos em nós a tragédia imensa do nosso tempo, não nos podemos esquivar às interrogações angustiosas da hora presente. Se em política nos declaramos pela Monarquia, é conveniente sempre acentuar que nos declaramos pela Monarquia-social, regímen que, repelindo como absurdo o sistema actual do Estado, apela para a sindicalização dos interesses e das profissões, como a única garantia eficaz de liberdade, - mas de liberdade orgânica, irmã gémea da competência, da hierarquia e da autoridade."
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