domingo, novembro 03, 2013

Sentinelas em vigília

Ruídos de vozes chegavam.
- Aqui para nós, padre Anselmo, ouvia-se contestar padre Fernando, a frequência excessiva do coro não tem nenhuma utilidade prática.
- Rezar é bom, mas trabalhar é melhor, corroborava o beneficiado Trigueiros.
- Não me surpreende a objecção, ripostou padre Anselmo. É o reparo de muito bom cristão. Não se compreende, não se quer compreender o que é de fácil compreensão. Mas em ministros da Igreja é de pasmar. Pois se há função que o sacerdote execute de mais proveito social é precisamente a oração litúrgica, o ofício divino. Sim, meus amigos.
No claustro, o monge toma sobre si o melindroso encargo do dever social da oração que as solicitações do século e as ocupações profissionais impedem tanto padre de cumprir. Um capítulo de monges, permitam-me o grosseiro da comparação, é como certas fossas modernas, recebe as fezes dos pecados e transforma-os em linfa clara:
A função dos mosteiros é depurar, é decantar, clarificar as impurezas das almas. São sumidoiros do mal. Têm sofrimentos indebeláveis? Endossem-nos às piedosas orações dum claustro que lá lhos desgastam pacientemente. Duvidam? Desgraçada gente de pouca fé!
Manuel Ribeiro, in “A Catedral”, Lisboa, Livraria Renanscença, Edição Especial Ilustrada, 1925, páginas 240 e 241.

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