segunda-feira, outubro 06, 2008

As Sete Igrejas e as sete idades

Pelo Cardenal Billot, maestro do Pai Castellani e muito admirado dele. Fonte original.

«O Apocalipse relata o estado das sete igrejas da Ásia, para as quais São João teve de escrever, com o fim de lhes comunicar advertências para sua salvação. Ora, as sete igrejas figuram as sete épocas ou sete idades da Igreja universal, desde a Ascensão do Senhor até o Segundo Advento. Todas se denominam por nomes místicos que designam profeticamente o traço característico de cada uma das épocas.
A primeira igreja é a de EFÉSIO (2, 1-7). Em grego, Efésio significa impulso, o princípio da expansão ou do direcionamento a uma finalidade. Esse nome convém à idade apostólica, pois que os apóstolos pregaram por todo o mundo, com crescente êxito, após receberem o sopro impetuoso do Espírito Santo; Deus os ajudava, confirmando suas palavras com sinais. Mas a advertência epistolar convém igualmente, nesta época de que falamos, aos falsos apóstolos mencionados amiúde por São Paulo, e à seita dos nicolaítas, fonte primeva do gnosticismo impuro, criada por um dos sete primeiros diáconos. “Escrito ao anjo a Igreja de Éfeso: Conheço tuas obras e teu trabalho... tu provaste os que se declaravam apóstolos e não o eram, apanhaste-os em mentira... Contudo, tens em testemunho de teu fervor o ódio pela obras dos Nicolaítas, obras que eu também odeio etc.”
A segunda igreja é a de ESMIRNA (2, 8-11). Este termo designa a mirra, e também a idade durante a qual, em razão da crueldade das perseguições e da grande amargura das tribulações, se cumpriu na Igreja o que predissera a boca profética: “a mirra caiu gota a gota de minhas mãos, e meus dedos estão cheios da mais excelente mirra” (Ct 5, 5). Por isso, afirma o anjo à igreja de Esmirna: “Eis que o diabo vai lançar alguns dentre vós no cárcere, para vos pôr à prova, e vossa aflição durará dez dias”, significando claramente as dez perseguições gerais.
A terceira igreja é a de PÉRGAMO (2, 12-17). Célebre por sua literatura profana, Pérgamo é a cidade que deu origem ao pergaminho, batizando-o com seu nome. Quando alguém se refere à “pele de Pérgamo”, mais conhecida sob o nome de pergaminho, logo vem ao espírito os livros publicados e os embates e controvérsias travados com a pluma. Corresponde a igreja de Pérgamo à terceira idade, à época de Constantino, em que cessaram as perseguições cruéis aos santos e doutores, e se propagaram também as grandes heresias que satã perpetrara – os arianos, os maniqueus, os pelagianos, os nestorianos etc.. Deus suscitou grandes homens para defender a verdade, homens dignos de eterna memória: Atanásio, Basílio, Gregório Nazianseno, Ambrósio, Jerônimo, Agostinho, os dois Cirilos, e muitos outros ainda, que ilustraram magnificamente a fé católica em seus escritos. Logo, é de justiça que Pérgamo represente a terceira idade. É de justiça que se enviasse a advertência ao anjo desta igreja que, apesar de louvada pela constância da fé, está de contínuo exposta a grandes perigos, visto que habita na sé do trono de satã, havendo de se defender do sítio das doutrinas heréticas: “Escrito ao anjo da igreja de Pérgamo: eu sei que habitais na sé do trono de satã, e que preservastes meu nome e não renegastes a fé etc ...”
Em quarto lugar, sucede à igreja de Pérgamo a de TIATIRA (2, 18-29). Esta palavra significa esplendor do triunfo e solenidade pomposa, tendo origem nas festas celebradas em honra de Baco, e depois empregada para designar toda e qualquer festa ou desfile triunfal. Logo, a igreja de Tiatira representa a quarta idade, iniciada sob Carlos Magno, com a instituição do Sacro Império Romano, cuja duração exprimira o número milenar (de 800 a 1800). A instituição do Sacro Império Romano sela a subordinação da sociedade temporal à espiritual, a coroação da organização social de Nosso Senhor Jesus Cristo, predita por Isaías: “De pé, Jerusalém, que brilha tua glória! Eis que vem tua luz, e a glória do Senhor se eleva sobre ti... As nações marcharão em direção à luz, e os reis à claridade de tua aurora... Sucederás a nata das nações, sucederás ao púbere dos reis, e saberás que eu, o Senhor, sou teu salvador, e que teu redentor é o Forte de Israel” (Is 60, 1,3 e 16). A profecia corresponde às festas solenes, ao fulgor do triunfo e, geralmente, a tudo que diz respeito a esta época: “Ao anjo da igreja de Tiatira escreveu: Conheço tuas obras, teu amor, tua fé, tua boa vontade; são tuas últimas obras mais abundantes que as primeiras”. Entretanto, não faltaram maus, pois que o mistério de iniqüidade está sempre com as mãos à obra e, enquanto durar a vida presente, o triunfo da Igreja Militante não será maior do que convém. Na figura de Jezabel se anunciam os cismas funestos e as heresias que assolaram, nesta época, a Cidade de Deus, por exemplo, o cisma dos gregos no séc. XI, a heresia dos albigenses no séc. XII, e sobretudo a impiedade dos protestantes no séc. XVI, data a partir da qual o império cristão entra em decadência, se preparando a pouco e pouco, sem que ninguém percebesse, a idade da Revolução.
Por isso, teve fim Tiatira, sucedendo-lhe a quinta igreja, a de SARDES (3, 1-6). Sem dúvida, Sardes é a célebre cidade da Lídia, onde reina Crésus. Ela sugere assim a abundância de ouro e prata, de riquezas seculares a excitar as paixões, a ostentação e a prosperidade material. Daí, o que se refere a essa igreja sabe à decadência. Por todos os lados, vê-se a defecção, a apostasia; são poucos os que conservam a fé em Jesus Cristo, enquanto muitos se afastam da religião. “Em Sardes, existem pessoas que não mancharam seus vestidos”. E ainda: “passas por vivo, mas estás morto!” Passas por vivo, já que possuis a ciência, a liberdade, a civilização e o progresso; mas estás morto e te assentas nas trevas, à sombra da morte, pois que rejeitas a luz da vida, o Cristo Senhor. Por tal razão, disseram ao anjo desta igreja: “Sede vigilante, e confirmai os que iam morrer”, ordenando-lhe instantemente de continuar fiel aos ensinamentos dos santos apóstolos, e de não se afastar muito, sob o pretexto duma melhor compreensão, do sentir comum dos santos padres. “Recorda-te de como escutaste e recebeste: guarda-o e comunica-o”. Eis o que respeita à quinta idade. Mas o que se segue é mais animador.
Após a igreja de Sardes, surgiria a sexta igreja, a de FILADÉLFIA (3, 7-13). Tudo que se diz dela é bom, sobretudo por causa da chegada do momento capital, o mais insigne e singular dos todos os momentos desde o começo da história até os dias de hoje: a conversão em massa dos judeus, e sua entrada na Igreja dos gentios, de sorte que povos até então separados por um muro claustral tornam-se um só povo, servo do Cristo – assim, Jacó se reconcilia do Esaú, e Isaque com Ismael, conforme predissera o Apóstolo (Rm 25-32). Daí denominarem esta igreja de Filadélfia, que quer dizer amor aos irmãos ou reconciliação dos irmãos. “Se sua queda (refere-se aos judeus) foi a riqueza do mundo, que não será seu resgate em massa... Se sua recusa foi a reconciliação do mundo, que será sua reintegração, senão a ressurreição dos mortos?” (Rm 11, 12; 15). Quando vier este tempo, deve-se esperar uma admirável expansão da vida cristã em todo o mundo, a insigne vitória do Cristo e da Igreja sobre a Revolução subjugada. Subjugada, disse eu, não destruída; sob a batuta de satã, a Revolução neste entrementes recupera suas forças e inflama-se de intenso furor, aprestando-se para a batalha, para a guerra definitiva contra seu adversário, o Cristo. Daí o aviso ao anjo da igreja de Filadélfia sobre a proximidade da hora da provação, “que vai se abater sobre todo o mundo, para provar os habitantes da terra”.
Assim, resta a sétima e última igreja, a de LAODICÉIA (3, 14-22). Laodicéia significa “julgamento dos povos”, indicando com clareza a época da consumação do séculos, quando o Cristo virá por sobre as nuvens do céu para julgar os vivos e os mortos.
As considerações acerca das sete igrejas do Apocalipse, ou as sete idades da Igreja do Cristo, amigo leitor, talvez não te pareçam improváveis! Concluímos que a idade em que vivemos é a quinta – a idade da defecção, da apostasia e do liberalismo, idade medianeira entre Tiatira e Filadélfia, entre o fim do Sacro Império Romano e a renovação, que o Apóstolo não hesita em comparar à “ressurreição dos mortos” (Rm 11, 15). Tomara nossa interpretação não se afaste da verdade! Em meio ao males presentes – tão numerosos e graves - de que padecemos, ela faz-nos nascer a esperança da restauração futura (se se pode falar assim) e da contra-revolução.
[...]
Busquemos pois o Reino de Deus e sua justiça, não desprezando o mais a que devemos prestar atenção, nem esquecendo que é possível aplicar à influência salutar a Igreja o que já se escreveu sobre a piedade: ela é a todos útil, tendo em si a promessa de vida, presente e futura.»

Cardeal Billot, Prophéties de l’Histoire, Éditions L’Homme Nouveau

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