Por estes dias, a propósito do 50º aniversário do começo do Concílio Vaticano II, tenho lido uns poucos artigos na comunicação social, ora escritos por leigos, ora escritos por sacerdotes, defendendo a necessidade de a Igreja se manter fiel ao Concílio Vaticano II (por exemplo, aqui, onde o colunista curiosamente define como uma mera “constipação” aquilo a que o próprio Papa Paulo VI chamou “fumo de Satanás”).
Não posso deixar de achar piada quando leio tais apelos, sendo caso para perguntar: fidelidade a quê? A um Concílio mítico e irreal que só existe na imaginação daqueles articulistas e quase sem qualquer correspondência efectiva tanto com a letra dos autênticos documentos conciliares, como sobretudo com o espírito de continuidade a que a interpretação dos mesmos deve ser sempre submetida (e não ao espírito de ruptura obviamente sufragado por tais opinadores)? E esta fidelidade ao Concílio Vaticano II implica, ou não, a infidelidade à ortodoxia do corpo doutrinário de fé e moral católicas de que a Igreja é depositária desde os tempos apostólicos, bem como a todo o magistério eclesial extraordinário e ordinário constante (mormente, o magistério pré-1962)? Acarreta porventura, ou não, o desprezo pelos restantes vinte concílios ecuménicos, nomeadamente pelo Concílio de Trento e pelo Concílio Vaticano I?
Passo a responder: caso a fidelidade ao Concílio Vaticano II implique o rompimento com todas e qualquer uma das realidades que mencionei no parágrafo anterior, a um católico digno desse nome não restará outra alternativa que não seja a de ser radical, absoluta e totalmente infiel ao Concílio Vaticano II. Para continuar a ser católico e não qualquer outra coisa!
Porém, como bem tem recordado o nosso querido Papa Bento XVI em intervenções públicas efectuadas nos últimos dias, não parece ser este o caso e o que deve prevalecer sempre é o espírito da continuidade. E para que tal prevalência se consolide, acrescento eu, vai sendo tempo de se passar das proposições para as imposições e de se fixar definitivamente, em conformidade com a hermenêutica da continuidade, a interpretação autêntica dos pontos controvertidos do Concílio Vaticano II e que tanto mal provocaram no seio da Igreja nos últimos cinquenta anos. De resto, conforme o defendem cada vez mais vozes autorizadas no interior da Igreja também.
4 comentários:
Caro Miles:
El problema de fondo es que hay algunos puntos que no hay manera de poderlos interpretar a la luz del Depósito de la Fe, ni de la Tradición que lo ha mantenido. Otros muchos, que son ambiguos, sí que pueden ser interpretados a la luz de la Tradición.
Inevitablemente algún Papa tendrá que hacer alguna poda del Vaticano II. Quizás no lo veamos nosotros, pero ...
Rafael Castela Santos
Caro amigo, eu sei que a “coisa”, em certos pontos, é muito dificilmente alindável: se estes, por intervenção papal, fossem expurgados e desaparecessem, tanto melhor! Porém, enquanto tal não sucede, ao menos minimizemo-los tanto quanto seja possível, com recurso à hermenêutica da continuidade, anulando ao máximo a influência progressista. Há que ir por aí!
Blogger mto bom. Deus e Nossa Senhora o abçoe
Para vosso conhecimento:
http://juliosevero.blogspot.com.br/2012/10/eua-nao-tem-mais-maioria-protestante.html
Aliás, os temas que esse blogueiro protestante aborda é de altíssimo nível, sugiro conhecê-lo, inclusive lendo o seu perfil.
Att.
Eduardo - MG
Mas há soluções do concílio vaticano II que são inconciliáveis com a tradição, e era tempo de ter coragem para o dizer. A tudo isto acresce o facto de o concílio ter criado o caos na igreja. Hoje não há rei nem roque, cada um faz o que quer. O santo padre tem que cortar o mal da secularização no seio da igreja pela raíz, não podemos exigir aos outros aquielo que não fazemos na nossa casa.
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