domingo, outubro 14, 2012

Fidelidades

Por estes dias, a propósito do 50º aniversário do começo do Concílio Vaticano II, tenho lido uns poucos artigos na comunicação social, ora escritos por leigos, ora escritos por sacerdotes, defendendo a necessidade de a Igreja se manter fiel ao Concílio Vaticano II (por exemplo, aqui, onde o colunista curiosamente define como uma mera “constipação” aquilo a que o próprio Papa Paulo VI chamou “fumo de Satanás”).

Não posso deixar de achar piada quando leio tais apelos, sendo caso para perguntar: fidelidade a quê? A um Concílio mítico e irreal que só existe na imaginação daqueles articulistas e quase sem qualquer correspondência efectiva tanto com a letra dos autênticos documentos conciliares, como sobretudo com o espírito de continuidade a que a interpretação dos mesmos deve ser sempre submetida (e não ao espírito de ruptura obviamente sufragado por tais opinadores)? E esta fidelidade ao Concílio Vaticano II implica, ou não, a infidelidade à ortodoxia do corpo doutrinário de fé e moral católicas de que a Igreja é depositária desde os tempos apostólicos, bem como a todo o magistério eclesial extraordinário e ordinário constante (mormente, o magistério pré-1962)? Acarreta porventura, ou não, o desprezo pelos restantes vinte concílios ecuménicos, nomeadamente pelo Concílio de Trento e pelo Concílio Vaticano I?

Passo a responder: caso a fidelidade ao Concílio Vaticano II implique o rompimento com todas e qualquer uma das realidades que mencionei no parágrafo anterior, a um católico digno desse nome não restará outra alternativa que não seja a de ser radical, absoluta e totalmente infiel ao Concílio Vaticano II. Para continuar a ser católico e não qualquer outra coisa!

Porém, como bem tem recordado o nosso querido Papa Bento XVI em intervenções públicas efectuadas nos últimos dias, não parece ser este o caso e o que deve prevalecer sempre é o espírito da continuidade. E para que tal prevalência se consolide, acrescento eu, vai sendo tempo de se passar das proposições para as imposições e de se fixar definitivamente, em conformidade com a hermenêutica da continuidade, a interpretação autêntica dos pontos controvertidos do Concílio Vaticano II e que tanto mal provocaram no seio da Igreja nos últimos cinquenta anos. De resto, conforme o defendem cada vez mais vozes autorizadas no interior da Igreja também.

4 comentários:

Anónimo disse...

Caro Miles:

El problema de fondo es que hay algunos puntos que no hay manera de poderlos interpretar a la luz del Depósito de la Fe, ni de la Tradición que lo ha mantenido. Otros muchos, que son ambiguos, sí que pueden ser interpretados a la luz de la Tradición.
Inevitablemente algún Papa tendrá que hacer alguna poda del Vaticano II. Quizás no lo veamos nosotros, pero ...

Rafael Castela Santos

Miles disse...

Caro amigo, eu sei que a “coisa”, em certos pontos, é muito dificilmente alindável: se estes, por intervenção papal, fossem expurgados e desaparecessem, tanto melhor! Porém, enquanto tal não sucede, ao menos minimizemo-los tanto quanto seja possível, com recurso à hermenêutica da continuidade, anulando ao máximo a influência progressista. Há que ir por aí!

Anónimo disse...

Blogger mto bom. Deus e Nossa Senhora o abçoe

Para vosso conhecimento:

http://juliosevero.blogspot.com.br/2012/10/eua-nao-tem-mais-maioria-protestante.html

Aliás, os temas que esse blogueiro protestante aborda é de altíssimo nível, sugiro conhecê-lo, inclusive lendo o seu perfil.

Att.

Eduardo - MG

Anónimo disse...

Mas há soluções do concílio vaticano II que são inconciliáveis com a tradição, e era tempo de ter coragem para o dizer. A tudo isto acresce o facto de o concílio ter criado o caos na igreja. Hoje não há rei nem roque, cada um faz o que quer. O santo padre tem que cortar o mal da secularização no seio da igreja pela raíz, não podemos exigir aos outros aquielo que não fazemos na nossa casa.