domingo, novembro 28, 2004

A segunda vinda de Cristo

Embora entremos já este Domingo no período adventício, não poderíamos deixar de abordar e comentar brevemente neste blogue, pelo assunto de que trata, o Evangelho com que se encerra o ano litúrgico no calendário católico tradicional e que profetiza a segunda vinda de Cristo, temática apocalíptica tão querida à figura e ao pensamento do Padre Leonardo Castellani, S.J., cuja influência decisiva esta "Casa" reclama.

Comecemos por transcrever as palavras proferidas por Cristo no capítulo 24, do Evangelho segundo São Mateus, versículos 3 a 14:

"Estando Ele sentado no Monte das Oliveiras, os discípulos aproximaram-se e perguntaram-lhe em particular. "Diz-nos quando acontecerá tudo isto e qual o sinal da tua vinda e do fim do mundo".

Jesus respondeu-lhes: "Tomai cuidado para que ninguém vos desencaminhe. Porque virão muitos em meu nome, dizendo: "Sou eu o Messias". E hão-de enganar muita gente. Ouvireis falar de guerras e de rumores de guerras, mas não vos assusteis. Isso tem de acontecer, mas ainda não será o fim. Há-de erguer-se povo contra povo e reino contra reino, e haverá fomes, pestes e terramotos em vários sítios. Tudo isto será apenas o princípio das dores.

Então, irão entregar-vos à tortura e à morte e, por causa do meu nome, todos os povos irão odiar-vos. Nessa altura, muitos sucumbirão e hão-de trair-se e odiar-se uns aos outros. Surgirão muitos falsos profetas, que hão-de enganar a muitos. E, porque se multiplicará a iniquidade, vai resfriar o amor de muitos; mas aquele que se mantiver firme até ao fim será salvo. Este Evangelho do Reino será proclamado em todo o mundo, para se dar testemunho diante de todos os povos. E então virá o fim".

Para os últimos tempos, Cristo anuncia uma perseguição generalizada contra a Igreja à escala mundial. Pergunta-se: que outra força teria capacidade para desencadear um ataque de tal porte e dimensão, que não um poder organizado a um nível global, estribado numa ideologia e em obras profundamente anticristãs? Não denuncia Ele afinal, para quem O quiser ouvir, a ascensão da nova ordem mundialista e jacobina, inimiga denodada dos valores tradicionais do Ocidente e empenhada na eliminação destes por quaisquer meios necessários, como hoje já começamos a vislumbrar nitidamente?

Exagero, dirão alguns dos nossos leitores: como sabemos que os tempos descritos por Cristo são estes que vivemos? Retornemos ao mesmo capítulo do Evangelho segundo São Mateus, agora aos versículos 15 a 22:

"Por isso, quando virdes a abominação da desolação, de que falou o profeta Daniel, instalada no lugar santo, - o que lê entenda - então, os que se encontrarem na Judeia fujam para os montes; aquele que estiver no terraço não desça para tirar as coisas de sua casa; e o que se encontrar no campo não volte atrás para buscar a capa. Ai das que estiverem grávidas e das que andarem amamentando nesse dias! Rezai para que a vossa fuga não se verifique no Inverno ou em dia de sábado, pois nessa altura a aflição será tão grande como nunca se viu desde o princípio do mundo até ao presente, nem jamais se verá. E, se não fossem abreviados esses dias, criatura algum se poderia salvar; mas, por causa dos eleitos, esses dias serão reduzidos".

O que é esta abominação da desolação? Para acharmos a resposta, temos de ir até ao Antigo Testamento, ao livro de Daniel, capítulo 8, versículos 5 a 14, no qual esse Profeta nos conta:

"Enquanto eu pensava atentamente, eis que um bode novo veio do ocidente e percorreu a terra toda sem tocar no chão; tinha entre os dois olhos um chifre muito saliente. Chegou até junto do carneiro de duas hastes, que eu tinha visto deter-se em frente do rio, e correu contra ele num acesso de furor.

Vi-o aproximar-se do carneiro Cheio de fúria e raiva contra ele, agrediu-o, partiu-lhe os dois chifres, sem que o carneiro tivesse tido a força de lhe resistir. O bode lançou por terra o carneiro e calcou-o com as patas e ninguém interveio para livrar o carneiro do seu adversário.

O bode, então, cresceu extraordinariamente. Mas quando se tornou forte, o chifre grande partiu-se e foi substituído por quatro outros chifres, alongados na direcção dos quatro ventos do céu.

De um destes chifres, aliás o mais pequeno saiu um outro chifre, que consideravelmente se desenvolveu na direcção do sul, na direcção do oriente e na direcção da nação gloriosa. Cresceu até atingir o exército dos céus, do qual fez cair para a terra muitas estrelas e calcou-as com as patas. Levantou-se mesmo contra o chefe deste exército, cujo sacrifício perpétuo aboliu e arrasou o santuário e o exército de Deus. Em vez do altar dos sacrifícios, introduziu a iniquidade e atirou por terra a verdade. O chifre pequeno teve bom êxito na sua empresa.

Vi um santo que falava, a quem um outro santo perguntou: "Quanto tempo durará o que anuncia a visão, a propósito do holocausto perpétuo, da abominação devastadora, do abandono do santuário e do exército dos fiéis calcada aos pés?"Aquele respondeu-lhe: "Duas mil e trezentas tardes e manhãs. Depois disso, o santuário será restaurado.
"
[destaques nossos]

Como não ver no carneiro atacado pelo bode uma metáfora da Igreja agredida, seviciada e ocupada pelo erro modernista, que não hesita em substituir a verdadeira religião católica e o culto prestado a Deus, por uma pseudo-religião antropolátrica, idolatradora do mundo e das suas falsidades, consubstanciada na eliminação da Missa de rito latino-gregoriano ou tridentina - a abolição do sacrifício perpétuo do chefe do exército [Cristo] e a destruição do santuário -, e na sua troca por um novo rito - a Missa de Paulo VI - de cunho profundamente ambíguo, a roçar o herético? E como não concluir que as estrelas caídas do céu mais não são do que a maior parte dos homens de Igreja, que depois do V2, cegados pelo orgulho e conquistados pelo modernismo, não hesitaram em abjurar a Fé e a Tradição bimilenares, dando preferência à mentira mundana? Que outra coisa é a multiplicação da iniquidade a que Cristo alude, na primeira passagem supra transcrita?

De resto, este juízo é corroborado por São Paulo, na 2ª Carta aos Tessalonicenses (capítulo 2, versículos 1 a 14), onde o grande Apóstolo expressamente nos diz:

"Acerca da vinda de Nosso Senhor Jesus Cristo e da nossa reunião junto dele, pedimo-vos irmãos, que não percais tão depressa a presença de espírito, nem vos aterrorizeis com uma revelação profética, uma palavra ou uma carta atribuída a nós, como se o dia do Senhor estivesse iminente. Ninguém, de modo algum, vos engane.

Com efeito, antes deve vir a apostasia e manifestar-se o homem da iniquidade, o filho da perdição, o adversário, aquele que se ergue contra tudo o que se chama Deus ou é objecto do culto, até a ponto de ele próprio se sentar no templo de Deus e de se ostentar a si mesmo como Deus. Não vos lembrais de que, quando ainda estava convosco, vos dizia estas coisas? E agora sabeis o que o detém para que se manifeste no momento que lhe toca.

Com efeito, o mistério da iniquidade já está em acção; basta que seja afastado aquele que agora o detém. Então é que se manifestará o iníquo que o Senhor destruirá com o sopro da sua boca e aniquilará com o fulgor da sua vinda. A vinda do iníquo dá-se por obra de Satanás, com toda a espécie de milagres, prodígios enganadores, com todo o tipo de seduções de injustiça para os que se perdem, porque não acolheram o amor da verdade para serem salvos. Por isso, Deus manda-lhes uma força que leva ao erro para que acreditem na mentira, e sejam condenados todos os que não acreditarem na verdade mas sentirem prazer na injustiça.

Nós, porém, devemos dar continuamente graças a Deus por vós, irmãos amados do Senhor, pois Deus vos escolheu desde o princípio para a salvação na santificação do Espírito e na fé da verdade. A isto Ele vos chamou por meio do nosso Evangelho: à posse da glória de Nosso Senhor Jesus Cristo."

Em face do exposto, parece notório que entramos nos tempos apocalípticos, aqueles que antecedem a segunda vinda de Cristo à Terra; saibamos estar à altura desta circunstância histórica absolutamente excepcional. Apesar desta mensagem possuir elementos que podem deixar uma pessoa desprevenida à beira de um ataque de pânico, para um católico crente ela mais não é do que um motivo de esperança: ademais de nos auxiliar a melhor ultrapassar tais dias, prevenindo-nos perante estes e minimizando os estragos que os mesmos de outra maneira causariam, ela acima de tudo assevera-nos o triunfo da verdade sobre a mentira, da liberdade sobre o pecado, da vida sobre a morte, do bem sobre o mal, da Igreja sobre a sinagoga e as portas do Inferno.

Voltemos a São Mateus, capítulo 24, versículos 29 a 44:

"Logo após a aflição daqueles dias, o Sol irá escurecer-se, a Lua não dará a sua luz, as estrelas cairão do céu e os poderes dos céus serão abalados. Então, aparecerá no céu o sinal do Filho do Homem e todos os povos da terra se lamentarão e verão o Filho do Homem vir sobre as nuvens do céu, com grande poder e glória. Ele enviará os seus anjos, com uma trombeta altissonante, para reunir os seus eleitos desde os quatro ventos, de um extremo ao outro do céu.

Aprendei da comparação tirada da figueira: quando os seus ramos se tornam tenros e as folhas começam a despontar, sabeis que o Verão está próximo. Assim também, quando virdes tudo isto, ficai sabendo que Ele está próximo, à porta. Em verdade vos digo: Esta geração não passará sem que tudo isto aconteça. O céu e a terra passarão, mas as minhas palavras não hão-de passar.

Quanto àquele dia e àquela hora, ninguém o sabe: nem os anjos do Céu nem o Filho; só o Pai. Como foi nos dias de Noé, assim acontecerá na vinda do Filho do Homem.

Nos dias que precederam o dilúvio, comia-se, bebia-se, os homens casavam e as mulheres eram dadas em casamento, até ao dia em que Noé entrou na Arca; e não deram por nada até chegar o dilúvio, que a todos arrastou. Assim será também a vinda do Filho do Homem. Então, estarão dois homens num campo: um será levado e outro deixado; duas mulheres estarão a moer no mesmo moinho: uma será levada e outra deixada.

Vigiai, pois, porque não sabeis em que dia virá o vosso Senhor. Ficai sabendo isto: Se o dono da casa soubesse a que horas da noite viria o ladrão, estaria vigilante e não deixaria arrombar a casa. Por isso, estai também preparados, porque o Filho do Homem virá na hora em que não pensais."
[destaques nossos]

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