quinta-feira, agosto 23, 2012

Intrinsecamente perverso







No que respeita ao caso concreto da satânica experiência romena abordada por Michael Voris, e para quem queira aprofundar o conhecimento acerca da mesma, sugiro complementarmente a leitura do impressionante livro “O holocausto das almas”, da autoria de Gregori Dumitrescu, editado pela Antília Editora, no ano de 2008.

quarta-feira, agosto 22, 2012

Pela restauração da cultura católica






O “Roman Forum” referido no segundo programa foi fundado em 1968 por Dietrich von Hildebrand. No mesmo segundo programa, Michael Voris entrevista uma autêntica “equipa de sonho” da tradição católica: Brian Mccall, Christopher Ferrara, John Rao, Michael Matt, John Médaille, Hilary White e Monsenhor Ignácio Barreiro.

segunda-feira, agosto 20, 2012

A propósito de uma manifestação antitauromáquica

Por mero acaso, vi através da televisão as imagens de uma manifestação ocorrida ontem em Viana do Castelo, feita em protesto contra a realização de uma corrida de touros naquela cidade minhota. Reparei que entre os diversos cartazes empunhados pelos manifestantes, num se afirmava “Pelo fim dos crimes sem castigo!”, enquanto noutro se proclamava “Você escolhe, eles não!”, presumindo que “eles” são os touros de lide. Pensei para comigo: eis aqui dois belíssimos motes, susceptíveis de serem aplicados ainda com mais propriedade aos nascituros inocentes e indefesos, eliminados implacavelmente sem qualquer outra opção, por força do aborto, no próprio seio materno.

Estariam de tal factualidade cientes aqueles manifestantes? Estariam os mesmos, em coerência, dispostos a demonstrar igual empenho numa manifestação antiaborto? Ou suporiam antes que um touro de lide tem maior dignidade moral do que um nascituro? Julgariam porventura que uma lide taurina é acto moralmente mais grave do que o provocar a morte a um ser humano inocente e indefeso? É algo que dá que pensar, sobretudo a mim que nunca gostei de corridas de touros, que jamais assisti a uma corrida numa praça (fiquei-me por uma tourada à corda, na Ilha Terceira, nos Açores…) e que creio até ser a tauromaquia uma actividade em franco declínio, à qual a grande maioria dos portugueses fica indiferente.

quinta-feira, agosto 16, 2012

Uma boa análise


Os nossos bispos “conservadores”: por que odeiam eles tanto a Tradição em geral e a Missa de rito latino-gregoriano em especial?

quarta-feira, agosto 15, 2012

Assunção da Santíssima Virgem


O Senhor abençoou-te com a sua fortaleza, pois que, por teu intermédio, reduziu a quase nada os nossos inimigos. Abençoada és tu, minha filha, pelo Senhor, o Deus altíssimo, entre todas as mulheres da terra. Bendito seja o Senhor, criador do céu e da terra, que te levou a cortares a cabeça do chefe dos nossos inimigos. De tal maneira ele hoje glorificou o teu nome, que o teu nome não desaparecerá da boca dos homens, para sempre lembrados do poder do Senhor. Ao veres os sofrimentos e a amargura do teu povo, não quiseste poupar a tua vida; antes nos salvaste da ruína, sob o olhar protector do nosso Deus: Tu és a glória de Jerusalém, a alegria de Israel, a honra do nosso povo.

Epístola extraída do livro de Judite (13, 22-25 e 15, 10), lida a 15 de Agosto, no rito tradicional latino-gregoriano, por ocasião da Festa da Assunção da Santíssima Virgem .

Roberto de Mattei em português - "O Concílio Vaticano II - Uma história nunca escrita"


Depois da publicação de “Dominus Est”, de Monsenhor Athanasius Schneider, e de “Summorum Pontificum - Um problema ou uma riqueza?”, do Padre Manuel Folgar, com a edição de “O Concílio Vaticano II - Uma história nunca escrita”, de Roberto de Mattei, a Editora Caminhos Romanos está de novo de parabéns, por disponibilizar ao público leitor português (e, em especial, aos católicos) uma obra que está no centro do debate presentemente em curso no seio da Igreja Católica acerca da correcta compreensão, alcance e valor do Concílo Vaticano II, e que há não muito foi galardoada em Itália com o prestigiado Prémio Acqui Storia 2011. Leitura recomendadíssima!

terça-feira, agosto 14, 2012

Bernardes

Nos dias de hoje lê-se de tudo. Basta entrar numa livraria para nos depararmos com um número infindável de títulos que interminavelmente se vão renovando a uma velocidade vertiginosa. Ele são best-sellers, ele são prémios nobel, eles são escritores de há muito consagrados, eles são inovadores no estilo, nos temas, nas sensibilidades… A literatura como um maremoto implacável submerge-nos numa ansiedade que freneticamente bulímica quer estar a par de tudo, não descurando nada, pelo menos, daqueles inumeráveis autores que nos são solene e indiscutivelmente apontados como os melhores e os mais autorizados.

E, no entanto, é imensa a palha e as bolotas que nos apresentam como nutrimento intelectual e que por jejum rigoroso de excelência, deliberadamente desdenhada e oculta, nos sabem como delícias do chefe José Avillez.

Já me referi num outro texto ao conselho avisado do excelente escritor P. João Maia, SJ, sobre os livros e autores a ler e a reler: Homero, Dante, Cervantes, Shakespeare, Dostoievski e poucos mais. Hoje porém desejaria indicar alguns autores dotados de uma excelência singularíssima na arte de escrever, tanto na forma como no conteúdo, e que, estranhamente, muitos deles não são tidos em conta na generalidade das apreciações. De facto, como é possível ignorar a correspondência de S. Jerónimo, as obras de S. Cipriano de Cartago, de Tertuliano, de Lactâncio; e que dizer das Confissões ou da Cidade de Deus de Sto. Agostinho? Dos sermões de S. João Crisóstomo? Das Homilias de S. Pedro Crisólogo? Da Moralia in Job de S. Gregório Magno? Das cartas de S. Pedro Damião? Do comentário ao Cântico dos cânticos e aos escritos sobre a Virgem Maria de S. Bernardo de Claravalle? Das poesias e dos comentários aos Evangelhos de S. Tomás d’ Aquino? Da biografia de S. Francisco de Assis por S. Boaventura, do seu Itinerário da Mente em Deus? Do Cântico das criaturas do mesmo S. Francisco? Como é possível fazer tábua rasa das obras de S. João da Cruz? De Santa dos Diálogos de Santa Catarina de Sena? Das obras de Santa Teresa de Jesus? De Frei Luiz de Granada? De Frei Luiz de Leão? Do nosso Frei Luís de Souza? Do P. Manuel Bernardes? Dos Manuscritos Autobiográficos de Santa Teresa do Menino Jesus? Estes, e os mais que podíamos indicar, são desprezados pela intelligentzia contemporânea e mesmo eclesial e no entanto são os alicerces, os fundamentos do que somos como cultura. Felizmente, embora não aparecem nas estatísticas oficiais, muitas destas obras têm tido incomparavelmente mais leitores do que os best-sellers; infelizmente muitos os desconhecem cada vez mais tendo cada vez menos acesso a eles.

As obras do P. Manuel Bernardes, por exemplo, que foram durante muito tempo alimento literário e espiritual de gerações encontram-se esgotadas e não são reeditadas. A Lello que tinha o mérito de as ter editado (apesar dos erros e gralhas), com a grafia actual, em cinco volumes de papel bíblia, de há muito que as não reedita. Hoje, mesmo em alfarrabistas, é extremamente difícil topá-las. Provavelmente, a crítica ferozmente iníqua que Jorge de Sena e outros lhe dirigiram terá contribuído para isso. Castilho, injustamente votado ao esquecimento, provavelmente por causa da “questão coimbrã”, numa página em que só peca por ser demasiado severo para o P. António Vieira, compara Bernardes e Vieira:

“É Vieira sem contradição mestre guapíssimo de nossa língua, e o mesmo Bernardes assim o conceituava; que, porém, a si o propusesse como exemplar, nem o indica, nem consta, nem se pode com indução plausível suspeitar; eram ambos engenhosos no discorrer, puros e esmerados no exprimir; — eis aí a sua única semelhança; — no demais pareciam-se como entre si se podem parecer duas árvores de espécies diversíssimas.

Lendo-os com atenção, sente-se que Vieira, ainda falando do céu, tinha os olhos nos seus ouvintes; Bernardes, ainda falando das criaturas, estava absorto no Criador. Vieira vivia para fora, para a cidade, para a corte, para o mundo, e Bernardes para a cela, para si, para o seu coração. Vieira estudava graças a louçainhas de estilo; achava-as, é verdade, tinha boa mão no afeiçoá-las e uma graça no vesti-las como poucos; Bernardes era como estas formosas de seu natural que se não cansam com alindamentos, a quem tudo fica bem; que brilham mais com uma flor apanhada ao acaso, do que outras com pedrarias de grande custo. Vieira fazia a eloquência; a poesia procurava a Bernardes. Em Vieira morava o génio; em Bernardes o amor, que, em sendo verdadeiro, é também génio. Vieira sacrificava tudo à sua necessidade suprema, ao empenho de ser original e único; sacrificava-lhe a verdade, sacrificava-lhe a verossemelhança; sacrificava-lhe até a possibilidade; não hesitava em propor o princípio mais absurdo, como fosse ou parecesse novo, e como para lá não achava caminho pela lógica, fabricava-o com pontes sobre pontes, através de um oceano de sofismas, de argúcias, de puerilidades, de indecências, de quase heresias, e, contente de lá chegar por entre os aplausos, não se detinha a reflectir se não tinha sido aquilo um grandíssimo abuso da grande alma que Deus lhe dera, uma dúplice vaidade aos olhos da religião e da filosofia, um exemplo ruim, mais perigoso pelo agigantado de quem o dava. Bernardes não tomava tese que da consciência lhe não brotasse, e a desenvolvê-la aplicava todas as suas faculdades intelectuais, que eram muitas, e todas as faculdades morais que eram mais, tresdobradamente. Vieira zomba frequentes vezes da nossa credulidade, podemos desconfiar da convicção de Vieira, ainda quando nos fala certo; Bernardes é um amigo cândido e liso, que, ainda quando nos ilude, não nos mente.

Por tudo isso se admira Vieira: a Bernardes admira-se e ama-se.”

Também Camilo Castelo-Branco, de resto admirador incondicional de Castilho, nutria um carinho muito especial por Bernardes preferindo-o a Vieira.

Acresce que a suculenta e saborosa doutrina ascético-mística, presente nas obras de Bernardes, no seu essencial (tendo embora em conta a mudança dos tempos), é de muitíssimo proveito para as almas cristãs, em particular para Sacerdotes e Religiosos.

Antero de Quental grande amigo de Eça lamentava a sua pobreza de vocabulário e exortava-o a ler os Clássicos. Mais tarde Eça, em Paris, começará a ler Vieira (aliás o seu conto do enforcado é um desenvolvimento de uma narração de Vieira num dos seus sermões do Rosário) e confidencia-o a António Nobre pedindo-lhe que quando voltasse a Portugal recomendasse a todos a leitura dos seus sermões.

A literatura portuguesa, em grande parte, afastou-se de tal modo das suas raízes que nos dias de hoje um leitor comum deparar-se-á com uma enorme dificuldade em compreender e saborear um texto de Bernardes, de Vieira, de Luís de Souza, de Heitor-Pinto. E como lhe servem quotidianamente repasto de ruim qualidade pode inclusive sentir-se enjoado e mesmo tomar asco aos escritos dos autores referidos. Não se deixe porém vencer desistindo pois se for constante e persistir a recompensa será grande. Então encontrará palavras que lhe enchem a alma, que trazem dentro em si as realidades que significam possibilitando-lhe experiências e vivências de transcendência. Eça, não obstante, todo o mérito literário, faz da religião um ornamento, um mero elemento estético. Mesmo o Suave Milagre e a Vida de Santos, não obstante a sua beleza e o facto de representarem claramente um avanço e uma aproximação ao religioso, carecem de densidade e profundidade (Raúl Brandão nas suas Memórias refere que estando com Eça lhe viu bentinhos, medalhas religiosas, no pescoço).

Pelo contrário, quem conhece a obra de Camilo não estranhará os Clássicos nem a sua religiosidade pois que a linguagem dos seus textos está toda ela embebida dos escritos clássicos e religiosos, mesmo quando (ele ou o narrador) se atiça contra a Igreja ou mesmo quando blasfema. Será esta a razão do seu saneamento dos estudos de português? É verdade que nalgumas das suas obras ele recorre à linguagem religiosa para através dela incutir o contrário das suas verdades, por exemplo, a justificação do adultério.

Quanto mais aprofundo os textos e a vida do P. Manuel Bernardes mais me persuado da enorme conveniência de que seja mais conhecido e estudado. Desconfio mesmo que seja Santo, um Santo ainda não canonizado que pediu ao Senhor, com receio de perder a Graça da perseverança final, que o pusesse em estado de inocência antes da morte o que lhe foi concedido, salvo erro, dois anos antes de adormecer em Cristo. Como o pai de Santa Teresa de Lisieux, que também padeceu a mesma cruz, já beatificado, esperemos que Manuel Bernardes também o possa vir a ser.


segunda-feira, agosto 06, 2012

"Liturgy and Personality", de Dietrich von Hildebrand


Publicado originalmente em Março de 1943, “Liturgy and Personality” foi um dos primeiros livros escritos em inglês por Dietrich von Hildebrand depois da sua chegada aos Estados Unidos: trata-se de uma obra brilhante, na qual o seu autor discorre com enorme e intensa elevação espiritual acerca de um tema que lhe era caríssimo - o da liturgia católica, o da absoluta centralidade desta na vida cristã e de todos os efeitos benéficos que da mesma decorrem para quem a vive de forma integral e totalmente consciente. Hoje, decorridos quase setenta anos desde a sua publicação, “Liturgy and Personality” continua a ser uma notável apologia da liturgia da Igreja do Ocidente (uma das mais belas que já li), bem demonstrativa do verdadeiro amor que Dietrich von Hildebrand tinha - entre outras manifestações desta - à Missa Tradicional de rito latino-gregoriano (amor confirmado em pleno nos anos conturbados após o Concílio Vaticano II por um texto absolutamente fulcral como “The Case for Latin Mass”).

Ora, pelas razões acima indicadas, “Liturgy and Personality” é uma obra merecedora da atenta leitura por parte de todos os católicos tradicionalistas, ademais de na actualidade ser um magnífico repositório que lhes permite recapitular toda a essência, todas as razões profundas do combate em defesa da liturgia da tradição.

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The Liturgy is pervaded with this spirit of awakeness. The Liturgy is a vigil in itself in the highest sense of the word and organically draws all who live in it into this spirit. In liturgical prayer, we emerge from the grip of our interests and worries, the tension centered in our labors, the immediate goals of practical life, the importunate “mincing” of being which the visible world offers; we emerge towards the great things that are eternally and invariably important, towards the mysterium Divinitatis, the mysterium Trinitatis, the mysterium Incarnationis, the mysterium misericordiae et caritatis, the magnalia Dei, the great deeds of God, the mystery of the Suffering Christ and the Eucharist. We emerge from the visible, not just to cast a fleeting glance on that world of mysteries, but to abide in it at length, believing, hoping, loving, thanking, praying, asking. All this, is the expressed accomplishment of awakeness. We sacrifice and pray during the Hours of the day, not in order to become awake but in order to glorify God. Yet this deep, broad stream of liturgical prayer before God is the actualization of being awake. Participation in the prayer of Christ means to be awake in the highest sense of the word. The performing of the Liturgy means also being awake to ourselves and our true metaphysical situation. Thanks to the Liturgy, we stand consciously where we objectively stand in truth. Here the cardboard houses of pride collapses; all the illusions of concupiscence, all repression, all flight from God and from oneself, all self-beguilement which is implied in turning away from the reality, all of this falls to pieces. Our sin, our guilt, our responsibility, death, which none of us can escape, the danger of eternal damnation, our nothingness before God, God’s infinite mercy, our redemption through the blood of Christ, all stand revealed before us. In the Liturgy which we perform through, with, and in Christ, who is eternal Truth, we are placed into Truth. All semblance and twilight are dispelled through Lumen Christi; all is laid bare in that light - ourselves, our condition, our vocation.

All earthly goods, our earthly actions and designs, are also placed in their right place in conspectus Dei. To be awake is not only extended to eternal things but also to transient and earthly ones. The Liturgy is in itself awakeness in the highest sense of the world, and it leads, moreover, all who live in it to being awake.

Dietrich von Hildebrand, in “Liturgy and Personality” - New York and Toronto, Longmans, Green and Co., Second edition, 1943 - páginas 120 a 122.