sábado, janeiro 30, 2010

Um exercício útil e interessante

Cotejar a carta de proclamação do ano sacerdotal por ocasião do centésimo quinquagésimo aniversário da morte de São João Maria Vianney, Cura d'Ars, escrita pelo Santo Padre Bento XVI, com estoutro artigo intitulado "A Imagem do Padre", de autoria de D. Carlos Azevedo, Bispo Auxiliar de Lisboa, publicado há quinze dias no jornal "Correio da Manhã", é um exercício útil e interessante que permite aquilatar, uma vez mais, o estado de desvario doutrinário a que chegou a hierarquia católica em Portugal.

Naquela, o Papa propõe a pessoa do Santo Cura d'Ars como exemplo a ser seguido por todos os sacerdotes pelo seu amor ao Santo Sacrifício da Missa, pelo seu cuidado com a cura de almas, pela santidade modelar da sua vida; neste, D. Carlos Azevedo, em contradição directa com o Papa, não hesita em afirmar entre muitas outras barbaridades saídas directamente da vulgata progressista: Partiram-se, quebraram--se os modelos presbiterais do passado. Não podemos crer que se possa voltar a posições e perspectivas do passado, ainda que renovada a fachada e realizadas acomodações de emergência. Não, definitivamente. O amanhã não será continuação pacífica do ontem.

Percebe-se perfeitamente quem é que D. Carlos Azevedo pretende atacar com estas linhas e sobretudo com estas entrelinhas. Esse alguém mais não é do que o próprio Bento XVI e a sua obra de restauração católica ao nível da hermenêutica da continuidade, da reforma da reforma litúrgica e da defesa da Santa Missa tradicional de rito latino gregoriano. Em contraposição, com característica falta de imaginação progressista e em autêntica hermenêutica da ruptura (o amanhã não será a continuação pacífica do ontem), propõe sacerdotes abertos ao mundo (sabemos aonde conduziu essa abertura a um dos inimigos da alma nestes últimos cinquenta anos, e o Santo Padre lamenta-o amargamente na sua carta…), quiçá sacerdotes mundanos, provavelmente trajados de fato e gravata ou pólo "Lacoste", com voz afectada e modos efeminados, capazes das piores cedências perante os disparates do mesmo mundo, sendo tudo menos outros Cristos. De permeio, o Bispo Auxiliar de Lisboa faz ainda uma capciosa defesa da pluralidade de espiritualidades (que sempre existiu na Igreja), a qual, neste contexto, devidamente decifrada, não passa de uma apologia do relativismo e até do indiferentismo religioso. Com D. Carlos Azevedo estamos, de facto, muito longe do sim, sim, não, não evangélico.

Em resumo, o Patriarcado de Lisboa continua a ser uma praça-forte do modernismo e do progressismo em Portugal. Numa altura em que D. José Policarpo se aproxima do limite de idade para o exercício de funções episcopais, seria bom que Roma, ao mais alto nível, começasse a pensar inverter a situação deplorável que persiste na principal diocese portuguesa. A exemplo do que sucedeu recentemente com a arquidiocese de Malines-Bruxelas, na Bélgica.

sexta-feira, janeiro 29, 2010

Destrinçar o estrutural do conjuntural

Concordo globalmente com o teor dos artigos (aqui e aqui) que o Padre Gonçalo Portocarrero tem escrito a propósito da questão dos emparelhamentos homossexuais. De facto, como já sublinhei anteriormente, a partir do momento em que a lei humana positiva deixa de estar subordinada à ordem superior plasmada nas leis divina e moral que a antecedem, fica aberta a porta para o legislador se transformar num demiurgo que supõe com arrogância ter o poder de modificar a verdade e a realidade à medida dos seus caprichos de cada momento. Ora, neste plano, tal como nada o impede de decretar hoje que o casamento possa ser uma união entre duas pessoas do mesmo sexo, nada o impedirá de determinar amanhã que casamentos possam ser também as uniões entre três ou mais pessoas de qualquer sexo, as relações incestuosas, de pederastia e bestialidade, porquanto o único limite à vontade do dito legislador passa a ser a capacidade de alcance da sua imaginação perversa. E eis como em nome da liberdade humana é criado um mecanismo totalitário que nega essa liberdade da forma mais absoluta e que, num plano diverso mas paralelo ao que agora analiso, conforme outros já alertaram, trar-nos-á igualmente a liberalização total do aborto até aos noves meses da gravidez, o infanticídio discricionário de recém-nascidos, a eutanásia arbitrária de doentes e idosos, e, enfim, a perseguição pública do Catolicismo.

Por outro lado, não tenhamos a ilusão de que o actual poder político socialista socrático age deste modo com o fito de desviar a atenção da chamada opinião pública da situação calamitosa em que o país se encontra ao nível económico, financeiro e social. Supor tal é um erro em que incorre a falsa direita dos interesses, em Portugal personificada no PSD e CDS, adversa a combater numa guerra cultural cuja importância a sua tacanha mentalidade materialista de guarda-livros não atinge de todo em todo, parecendo incorrer no mesmo erro, ainda que apenas em parte, num dos seus artigos, o próprio Padre Gonçalo Portocarrero. Repito: não tenhamos tal ilusão! Bem pelo contrário, o poder socialista age com plena consciência e sem intenções secundárias. O seu objectivo principal é simples, directo e imediato: erradicar o que ainda resta por inércia da antiga ordem social cristã e substitui-la por uma nova ordem social jacobina e anticristã. De outro modo, como compreender a revolução imoral sofrida por Portugal, no curto período de quatro anos, com a consagração legislativa sucessiva do aborto a simples pedido, do divórcio por vontade unilateral de um dos cônjuges, da amoral instrução sexual nas escolas com distribuição gratuita de preservativos e anticonceptivos, e do emparelhamento de homossexuais?

Passo a relembrar uma verdade esquecida pela maior parte dos católicos contemporâneos estupidificados pelas heresias modernista e progressista, mas não olvidada pelos inimigos destes: a história, toda a história, é um combate religioso permanente entre dois exércitos personificados na cidade de Deus e na cidade dos homens, os quais se enfrentam numa luta sem quartel nem tréguas. É neste contexto que tem de ser percebida a ofensiva socialista, tanto mais que os mentores efectivos desta sabem que o seu tempo começa a escassear, pois o regresso do Rei aproxima-se, como o indiciam todos os sinais exteriores do mundo contemporâneo, desde a sucessão de catástrofes naturais que têm vindo a ocorrer nos anos mais recentes (a última, o terramoto haitiano) até à apostasia generalizada das sociedades ocidentais outrora cristãs (o esfriamento da caridade entendida cristãmente como a atracção irresistível pela verdade).

Deste modo, há que destrinçar o estrutural do conjuntural: o défice orçamental, o endividamento externo, o desemprego, as condições de vida muito difíceis de parte não despicienda da população portuguesa são problemas gravíssimos, frutos eles próprios da terrível desordenação anticristã da nossa sociedade dominada pela agiotagem e ganância, mas apesar de tudo reversíveis e solucionáveis com um maior ou menor esforço colectivo; porém, muito pior é o roubo da nossa essência mais profunda, da nossa alma, contra a qual acomete o poder socialista, pois esse é irreversível e fatal. Não permitamos que o mesmo suceda!

segunda-feira, janeiro 18, 2010

Deus no Haiti


Aqui deixo o trecho de um belíssimo artigo, cuja leitura integral recomendo, publicado no magnífico blogue "Ex Orbe", local que ultimamente estou a visitar com regularidade quase quotidiana:

Volviendo a la catástrofe de Haití, estoy seguro de que quienes hoy se escandalizan y blasfeman contra Dios por el terremoto, anteayer ni sabían ni tenían en su mente la miseria atávica de Haití y la culpable omisión de los estados a la hora de solucionar o atender los endémicos problemas estructurales de naciones y sociedades como esa. Quiero decir que no se escandalizan del Haití que se muere miserablemente dia a dia, pero sí del que sufre un terremoto.

Si la catástrofe hubiera sido de la misma trágica magnitud en una urbe acomodada y opulenta, el escándalo de los incrédulos hubiera sido mayor, con más profunda rabia. Serían los "tecnócratas" que no son capaces de agradecer a Dios los bienes que disfrutan pero se rebelan contra Dios (en Quien no creen, a Quien han expulsado de su mundo, de su mente, de su personal universo) en cuanto el mundo no les sonrie, o les falla algo, o les surje el dolor o la muerte en su camino. Son los agnósticos post-modernos que profesan un "credo natural" pero no aceptan/no encajan una "catástrofe natural". Viven encima de un torrente seco y se desesperan cuando llueve torrencialmente y el torrente se desborda y les arrastra. Viven sin creer y se revuelven cuando se les viene encima el mundo al que ellos mismos le han negado el Cielo, ¡y culpan al Cielo!

(...)

Cuando en casos como este u otros de mayor tragedia y desconcierto me lanzan la pregunta tópica de - "¿Dónde está Dios, dónde estaba?!!!", yo respondo (si me dejan, si me escuchan)que:

Dios (mi Dios) está en un pesebre
Dios (el único Dios) está crucificado

Y estuvo también "muerto y sepultado". Y vive y reina glorioso por los siglos de los siglos, eternamente feliz, omnisciente y omnipotente. Y lo ve todo y lo sabe todo y nada pasa sin que su voluntad lo quiera o lo consienta. Y proclamo todo esto con esa capacidad de responder y comprender y expresar lo inexpresable que me da la Fe para decir-verbalizar el Misterio de Dios que se hizo carne, que se hizo hombre, y que subió al Cielo y vive y reina con un cuerpo sacrificado que lleva como prueba del dolor cinco llagas en pies, manos y costado. Cinco llagas que no se han cerrado y que siguen abiertas y ofreciendose en acto por cada herida que sangra hoy en Haití y todos los días en todo el mundo sufriente y doliente, que Él sabe como nadie sabe y conoce como ninguno conoce.

Así es Dios, ese es mi Dios, en el que creo, por Quien no me escandalizan los dolores y las penas del mundo porque Él los lleva a cuestas, a todos, sin escandalizarse de ninguno ni por ninguna causa o cosa de este mundo que sí se escandaliza de Él.

¡Bienaventurado quien no se escandalice de Él! Porque siguen siendo un escándalo para el mundo el Dios Crucificado y el misterio del dolor que nosotros creemos y sabemos que es Misterio de la Cruz.


Quem quiser, pode ajudar as vítimas da tragédia haitiana através da Fundação AIS (Ajuda à Igreja que Sofre).

Sobre o assunto, a ler também: Haiti - do terror à beleza, e desta à hipocrisia.

Fotos: retiradas do blogue de Andrew Cusack.

terça-feira, janeiro 12, 2010

Em defesa da obra do Criador

Prosseguindo a nossa reflexão, é necessário evidenciar a complexidade da problemática do ambiente; poder-se-ia dizer que se trata de um prisma plurifacetado. As criaturas são diferentes umas das outras e podem ser protegidas ou, pelo contrário, colocadas em perigo de diversas maneiras, como no-lo demonstra a experiência diária. Um destes ataques provém das leis ou dos projectos que, em nome da luta contra a discriminação, atentam contra o fundamento biológico da diferença entre os sexos. Refiro-me, por exemplo, a países europeus ou do continente americano. «Se tiras a liberdade, tiras a dignidade»: diz São Columbano (Epist. n. 4 ad Attela, in S. Columbani Opera, Dublim, 1957, p. 34). Todavia a liberdade não pode ser absoluta, porque o homem não é Deus, mas imagem de Deus, sua criatura. Para o homem, o caminho a seguir não pode ser fixado pelo que é arbitrário ou apetecível, mas deve, antes, consistir na correspondência à estrutura querida pelo Criador.

Papa Bento XVI, em notável discurso ao corpo diplomático acreditado junto da Santa Sé

Da deriva totalitária secularista

Com a consagração legislativa dos emparelhamentos de homossexuais, o actual poder político socialista confirma - depois da aprovação na anterior legislatura do divórcio por vontade unilateral de um dos cônjuges e do aborto a simples pedido - haver enveredado por uma deriva totalitária secularista e anticristã, cujo fundamento basilar é a crença supersticiosa e irracional no poder absoluto e ilimitado da lei positiva humana. Libertada esta última de qualquer subordinação a uma ordem superior plasmada na existência das leis divinas e moral, o legislador, mais do que em engenheiro social, transforma-se num demiurgo que supõe com arrogância ter o poder de modificar a verdade e a realidade à medida dos seus caprichos de cada momento. Deste modo, e perante esta ordem de coisas, o mesmo legislador tanto pode decretar hoje que o casamento é a união entre duas pessoas independentemente do seu sexo, como amanhã determinar que uma figura geométrica com dois lados é um triângulo. E assim sucessivamente, subindo cada vez mais degraus da escadaria do absurdo.

Ora, é fácil de constatar aonde conduz a crença em análise: foi ela que gerou os totalitarismos revolucionários nacional-socialista e comunista que marcaram o século XX com milhões de mortos; é também ela que dará origem - caso a Providência Divina não se lhe oponha - à futura nova ordem mundial que dominará ferreamente o século XXI, numa base totalitária neo-ateísta e com muitos milhões de mortos mais (ver aqui e aqui), e que outra coisa não será do que a república universal do Anticristo, da qual apenas o Rei, em pessoa e em reclamação do seu Reino, nos conseguirá libertar.

segunda-feira, janeiro 11, 2010

Rumiando sobre el divorcio

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La base de la sociedad no es el individuo, sino la familia. Los gobiernos se han hartado en estas últimas décadas de dinamitar la familia con leyes permisivas del divorcio, con penalizaciones económicas a la familia, con no favorecer fiscalmente a las familias numerosas, con suprimir el derecho de reunificación de familias por motivos laborales, etc, etc.

La situación actual, donde los gobiernos dinamitan en la base –en la familia- a la misma sociedad en la que se estriban y apoyan no tiene parangón histórico. Es, simplemente, un suicidio en toda regla alentado por todos los áulicos del Enemigo.

El epítome moderno es la consideración económica. Ahora nos dicen que el divorcio es caro, que las familias monoparentales ocasionan mucho gasto al Estado. ¡Para este viaje no se necesitaban estas alforjas! Pero no paran mientes en ello. En todo caso, si el divorcio ocasiona tantos males, ¿por qué legislarlo de un modo tan permisivo? Pero no paran mientes ahí. Su actitud es perversa: prefieren el aborto al parto porque es más caro este último. O eso dicen las aseguradoras médicas norteamericanas. Es odio a la vida: es odio al futuro.

En otro orden de cosas se acusa a la Iglesia de varios latrocinios tan infundados como exitosos. Entre ellos que el que tiene dinero consigue la anulación y el que no lo tiene, no. El Matrimonio católico es indisoluble, por más que les pese a algunos. El problema, el verdadero problema, es que hoy día hay muchas bodas y pocos Matrimonios. Espero que el Padre Gómez Jaubert, autorizada voz en estas lides, deshaga estos mitos y nos ayude a desfacer el entuerto.

La sociedad civil, pervertida por los gobiernos, sí está sufriendo un proceso de divorcio profundo.

De divorcio de la realidad.

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Rafael Castela Santos