segunda-feira, dezembro 31, 2007

Meditações de Fátima


Uma vez mais, um excelente artigo escrito pelo Manuel Azinhal, sempre fiel à verdadeira tradição.

Olhando a nova e a antiga igreja de Fátima ressalta a diferença dos perfis. Uma eleva-se para o céu, a outra agarra-se ao chão. Dei por mim a pensar como isto pode expressar a diferença entre a religião dos homens que construíram as catedrais e a religiosidade destes que dirigem estas construções modernas. Uns tudo faziam a pensar no céu, estes não têm lugar no seu espírito para nada que ultrapasse o plano das coisas da terra. Conta-se daqueles operários que se esmeravam nos cimos das grandes catedrais góticas a esculpir rendilhados de pedra, que ninguém poderia jamais observar da terra, que ao ser-lhes perguntada a razão respondiam muito simplesmente que lhes bastava que o seu trabalho pudesse ser visto do céu.

É perturbante a diferença da atitude religiosa que domina o Ocidente cristão dos tempos actuais e aquela que fez a cristandade gloriosa. Dantes os homens pensavam em Deus para se moldarem à vontade d'Ele; agora os que ainda se dirigem a Deus é frequentemente para lhe exigir que Ele faça a vontade deles; e zangam-se quando o Criador não lhes faz o jeito. Querem pouco mais do que um Deus prestador de serviços.
[Continuar a ler aqui]

domingo, dezembro 30, 2007

Cardeal Stickler


Falecido no passado dia 13 de Dezembro, o Cardeal Alfons Maria Stickler, S.D.B., (1910 - 2007) foi um dos grandes amigos que a tradição católica manteve sempre em Roma, mesmo nos momentos mais negros: sacerdote exemplar de Cristo e autêntico Príncipe da Igreja, defendeu de modo infatigável as virtudes do rito latino-gregoriano, tridentino ou de São Pio V face aos defeitos do rito reformado de Paulo VI.

Em homenagem à sua memória, "A Casa de Sarto" deixa aqui a ligação para dois artigos fundamentais da autoria deste eminente Cardeal, muito estimado pelo Papa Bento XVI, nos quais se demonstra não só o carácter profundamente antitradicional da reforma litúrgica de 1969, mas também que a mesma nem sequer respeitou as intenções dos padres conciliares que aprovaram a Constituição sobre a Sagrada Liturgia durante o V2:

- "Recuerdos de un perito del Concilio Vaticano II";

- "Atractivo de la Misa Tridentina".

Que descanse na Paz do Senhor!

segunda-feira, dezembro 24, 2007

domingo, dezembro 23, 2007

Do Tratado e dos tratantes


Há muito tempo que não abordo neste espaço assuntos que não estejam directamente relacionados com a temática religiosa católica tradicional. A verdade é que a minha paciência para outras matérias é cada vez menor: de facto, estas, por mais importância que aparentem ter, serão sempre efémeras e transitórias face às questões que bulem directamente com o destino eterno de cada um e todos os homens.

Sem prejuízo, abro hoje uma excepção ao que ficou dito no parágrafo anterior, para escrever sobre a polémica surgida à volta da possibilidade de submeter a referendo popular o Tratado de Lisboa, o qual mais não é do que um novo passo - importante e determinado - para a instauração da república universal anticristã, meta última das sociedades discretas, dos clubes de opinião e grupos de pressão que a partir da penumbra impõem a sua ditadura de facto às sociedades ocidentais contemporâneas.

Ouço vários daqueles que fazem frequentes "profissões de fé" democráticas, como são os casos do presidente da comissão europeia ou do primeiro-ministro português, sustentarem a desnecessidade de sujeitar a referendo o novo tratado, não só porque isso colocaria em causa os pressupostos da democracia representativa, mas também porque o eleitorado não se encontra tecnicamente preparado para apreciar as complexas questões que o mesmo tratado aborda.

Por mim, e por uma questão de formação, sempre entendi que a representação - qualquer que ela seja - nunca deve deixar de ser feita nos estritos limites previamente estipulados pelo representado, ocorrendo abuso de representação sempre que aqueles limites sejam ultrapassados pelo representante. Em tal situação, o representado pode e deve avocar a si os poderes temporariamente delegados no representante, o que no caso da representação política se efectuará através do recurso à figura do referendo popular.

Assim, compreende-se a razão pela qual os políticos democratas impolutos que existem por essa Europa fora abominam a possibilidade de referendar o Tratado de Lisboa: porque não concebem que se coloque em causa a sua actuação de serventuários e executores da ditadura partidocrática vigente, cujas grandes linhas de orientação são definidas bem longe do espaço público nos conciliábulos das sociedades, clubes e grupos acima referidos, dos quais os ditos políticos não passam de meras marionetas sem personalidade.

Mais grave ainda é escutar tais abencerragens a sustentar que o eleitorado não está genericamente apto para julgar as difíceis matérias regulamentadas pelo Tratado de Lisboa: eu, que sou católico defensor da tradição e monárquico, que à maneira do grande tomista chileno Padre Osvaldo Lira destrinço entre soberania política e soberania social, que acredito que o poder político tem a sua origem em Deus, que creio que a legitimidade do mesmo poder se afere não só relativamente à sua origem mas também quanto ao seu exercício, até poderia concordar com tal perspectiva; todavia, ao constatá-la sobraçada pelos defensores dos imortais princípios de 1789, incondicionais da soberania popular e fundamentalistas do democratismo, mais do que me sentir encontrar perante hipócritas, julgo estar face a autênticos tratantes desprovidos de quaisquer escrúpulos!

Afinal, os eleitores não têm capacidade para referendar o Tratado, mas possuem-na para eleger aqueles que o negociaram e eventualmente ratificarão! Estranho paradoxo! De facto, os democráticos são gente muito estranha!

Corso carnavalesco em tempo natalício ou o desfile de horrores


O Manuel Azinhal conta-nos que uma vez mais os hereges modernistas e progressistas que abundam no clero português decidiram dar um ar da sua pouca graça, desta vez, após terem sido convidados pelo jornal Semanário a responder à pergunta "O que é que Jesus Cristo hoje denunciaria?". Para tal peça jornalística - um autêntico mimo com o inevitável contributo do Ordinário Torgal -, só faltaram ser ouvidos o Patriarca Policarpo e o Romântico Cleto, ademais de Monsenhor Guerra, do Cónego Rego e do Padre Borga; contudo, então já não estaríamos perante um trabalho de jornalismo, mas frente a um corso carnavalesco antecipado para o tempo natalício ou um autêntico desfile de horrores! E, depois de tudo isto, esta tropa ainda se admira com a monumental repreensão que há bem pouco levou do Santo Padre em pleno Vaticano!

Ediciones San Vicente Ferrer







As cenas tristes feitas recentemente por alguns figurões do liberalismo caseiro, trouxeram-me iniludivelmente à memória a famosa obra do Padre Don Félix de Sardà i Salvany, que São Pio X mandou elogiar publicamente, intitulada "El Liberalismo es Pecado".

Demonstrando que de um mal pode resultar bem maior, eis uma excelente oportunidade para apresentar as "Ediciones San Vicente Ferrer", que se dedicam, tal como a congénere francesa "Editions Saint Remi", a publicar e tornar acessíveis ao leitor contemporâneo autores figuras de proa da reacção católica antiliberal e antimodernista da segunda metade do século XIX e primeira do XX, neste caso, em língua espanhola.

Dos trabalhos já editados, deixo supra uma pequena mas muito interessante amostra. Leiamos mais para sermos católicos verdadeiramente esclarecidos, e não nos deixarmos iludir pelos sofismas dos leões rugidores de heresias que por aí pululam, sempre preparados para nos devorarem espiritualmente à primeira oportunidade de que disponham.

domingo, dezembro 16, 2007

Progress of unbelief

Now is the Autumm of the Tree of Life;
Its leaves are shed upon the unthankful earth,
Wich lets them whirl, a prey to the winds’ strife,
Heartless to store them for the months of dearth.
Men close the door, and dress the cheerful hearth,
Self-trusting still; and in his comely gear
Of precept and of rite, a household Baal rear.

But I will out amid the sleet, and view
Each shrivelling stalk and silent-falling leaf.
Truth after truth, of choicest scent and hue,
Fades, and in fading stirs the Angel’s gfief.
Unanswer’d here; for she, once pattern chief
Of faith, muy Country, now gross hearted grown,
Waits but to burn the stem before her idol’s throne.

Cardinal John Newman

segunda-feira, dezembro 10, 2007

"Spe Salvi", a nova encíclica papal


Acabei de ler a nova encíclica escrita pelo Papa Bento XVI, "Spe Salvi": trata-se de um documento que está muito distante do estilo lacónico, incisivo e directo a que os Papas sociais pré-conciliares nos habituaram, dado ser bastante heterodoxo quanto à forma como se encontra redigido, porém absolutamente ortodoxo quanto à mensagem final que transmite.

Desta, saliento primeiramente a crítica que o Santo Padre faz da idade moderna e subsequentemente do Cristianismo moderno, afirmando a necessidade que este último tem de retornar às suas raízes para se reencontrar, o que não pode deixar de significar um regresso à tradição. Do ponto 22 da encíclica:

É preciso que, na autocrítica da idade moderna, conflua também uma autocrítica do cristianismo moderno, que deve aprender sempre de novo a compreender-se a si mesmo a partir das próprias raízes.

Igualmente merecedor de grande realce, por colidir directa e frontalmente com o espírito do V-2 e a hermenêutica de ruptura a ele associada, é o ensinamento de Sua Santidade de que o homem dito moderno, ao contrário do que se chegou a supor mesmo dentro da Igreja, não é ontológica e axiologicamente distinto dos homens de outras eras históricas, permanecendo antes um ser decaído, atingido pelo pecado original e eventualmente propenso à prática do mal. Do ponto 21, onde de permeio o totalitarismo comunista é explicitamente condenado:

Com a sua vitória, porém, tornou-se evidente também o erro fundamental de Marx. Ele indicou com exactidão o modo como realizar o derrubamento. Mas, não nos disse, como as coisas deveriam proceder depois. Ele supunha simplesmente que, com a expropriação da classe dominante, a queda do poder político e a socialização dos meios de produção, ter-se-ia realizado a Nova Jerusalém. Com efeito, então ficariam anuladas todas as contradições; o homem e o mundo haveriam finalmente de ver claro em si próprios. Então tudo poderia proceder espontaneamente pelo recto caminho, porque tudo pertenceria a todos e todos haviam de querer o melhor um para o outro. Assim, depois de cumprida a revolução, Lenin deu-se conta de que, nos escritos do mestre, não se achava qualquer indicação sobre o modo como proceder. É verdade que ele tinha falado da fase intermédia da ditadura do proletariado como de uma necessidade que, porém, num segundo momento ela mesma se demonstraria caduca. Esta «fase intermédia» conhecêmo-la muito bem e sabemos também como depois evoluiu, não dando à luz o mundo sadio, mas deixando atrás de si uma destruição desoladora. Marx não falhou só ao deixar de idealizar os ordenamentos necessários para o mundo novo; com efeito, já não deveria haver mais necessidade deles. O facto de não dizer nada sobre isso é lógica consequência da sua perspectiva. O seu erro situa-se numa profundidade maior. Ele esqueceu que o homem permanece sempre homem. Esqueceu o homem e a sua liberdade. Esqueceu que a liberdade permanece sempre liberdade, inclusive para o mal. Pensava que, uma vez colocada em ordem a economia, tudo se arranjaria. O seu verdadeiro erro é o materialismo: de facto, o homem não é só o produto de condições económicas nem se pode curá-lo apenas do exterior criando condições económicas favoráveis.

Mas notável, acima de tudo, é o tema de fundo que anima toda a "Spe Salvi": de forma de todo inédita na Igreja pós-conciliar, mas totalmente tradicional, o Papa Bento XVI recorda ao homem de hoje o seu destino último, afinal o destino do homem de sempre: morte, julgamento, céu (a esperança de todos os cristãos) ou inferno. Dos pontos 45, 46, 47 e 48:

Com a morte, a opção de vida feita pelo homem torna-se definitiva; esta sua vida está diante do Juiz. A sua opção, que tomou forma ao longo de toda a vida, pode ter caracteres diversos. Pode haver pessoas que destruíram totalmente em si próprias o desejo da verdade e a disponibilidade para o amor; pessoas nas quais tudo se tornou mentira; pessoas que viveram para o ódio e espezinharam o amor em si mesmas. Trata-se de uma perspectiva terrível, mas algumas figuras da nossa mesma história deixam entrever, de forma assustadora, perfis deste género. Em tais indivíduos, não haveria nada de remediável e a destruição do bem seria irrevogável: é já isto que se indica com a palavra inferno.

(…)

Mas, segundo a nossa experiência, nem um nem outro são o caso normal da existência humana. Na maioria dos homens – como podemos supor – perdura no mais profundo da sua essência uma derradeira abertura interior para a verdade, para o amor, para Deus. Nas opções concretas da vida, porém, aquela é sepultada sob repetidos compromissos com o mal: muita sujeira cobre a pureza, da qual, contudo, permanece a sede e que, apesar de tudo, ressurge sempre de toda a abjecção e continua presente na alma. O que acontece a tais indivíduos quando comparecem diante do Juiz? Será que todas as coisas imundas que acumularam na sua vida se tornarão de repente irrelevantes? Ou acontecerá algo de diverso?

(…)

O encontro com Ele é o acto decisivo do Juízo. Ante o seu olhar, funde-se toda a falsidade. É o encontro com Ele que, queimando-nos, nos transforma e liberta para nos tornar verdadeiramente nós mesmos. As coisas edificadas durante a vida podem então revelar-se palha seca, pura fanfarronice e desmoronar-se. Porém, na dor deste encontro, em que o impuro e o nocivo do nosso ser se tornam evidentes, está a salvação. O seu olhar, o toque do seu coração cura-nos através de uma transformação certamente dolorosa «como pelo fogo». Contudo, é uma dor feliz, em que o poder santo do seu amor nos penetra como chama, consentindo-nos no final sermos totalmente nós mesmos e, por isso mesmo totalmente de Deus. Deste modo, torna-se evidente também a compenetração entre justiça e graça: o nosso modo de viver não é irrelevante, mas a nossa sujeira não nos mancha para sempre, se ao menos continuámos inclinados para Cristo, para a verdade e para o amor. (…) O Juízo de Deus é esperança quer porque é justiça, quer porque é graça. Se fosse somente graça que torna irrelevante tudo o que é terreno, Deus ficar-nos-ia devedor da resposta à pergunta acerca da justiça – pergunta que se nos apresenta decisiva diante da história e do mesmo Deus. E, se fosse pura justiça, o Juízo em definitivo poderia ser para todos nós só motivo de temor. A encarnação de Deus em Cristo uniu de tal modo um à outra, o juízo à graça, que a justiça ficou estabelecida com firmeza: todos nós cuidamos da nossa salvação «com temor e tremor» (Fil 2,12). Apesar de tudo, a graça permite-nos a todos nós esperar e caminhar cheios de confiança ao encontro do Juiz que conhecemos como nosso «advogado», parakletos (cf. 1 Jo 2,1).

(…) nenhum homem é uma mônada fechada em si mesma. As nossas vidas estão em profunda comunhão entre si; através de numerosas interacções, estão concatenadas uma com a outra. Ninguém vive só. Ninguém peca sozinho. Ninguém se salva sozinho. Continuamente entra na minha existência a vida dos outros: naquilo que penso, digo, faço e realizo. E, vice-versa, a minha vida entra na dos outros: tanto para o mal como para o bem. Deste modo, a minha intercessão pelo outro não é de forma alguma uma coisa que lhe é estranha, uma coisa exterior, nem mesmo após a morte. Na trama do ser, o meu agradecimento a ele, a minha oração por ele pode significar uma pequena etapa da sua purificação. E, para isso, não é preciso converter o tempo terreno no tempo de Deus: na comunhão das almas fica superado o simples tempo terreno. Nunca é tarde demais para tocar o coração do outro, nem é jamais inútil. Assim se esclarece melhor um elemento importante do conceito cristão de esperança. A nossa esperança é sempre essencialmente também esperança para os outros; só assim é verdadeiramente esperança também para mim. Como cristãos, não basta perguntarmo-nos: como posso salvar-me a mim mesmo? Deveremos antes perguntar-nos: o que posso fazer a fim de que os outros sejam salvos e nasça também para eles a estrela da esperança? Então terei feito também o máximo pela minha salvação pessoal.

Por todo o exposto, compartilho a opinião dos nossos amigos do "Rorate-Caeli", que, a propósito de um artigo escrito sobre a "Spe Salvi" pelo reputado jornalista católico italiano António Socci, chamam com inteira propriedade a tal encíclica a anti-"Gaudim et Spes", por contraponto ao falso optimismo progressista da constituição pastoral aprovada pelo V-2.

domingo, dezembro 09, 2007

Festa da Padroeira


Naquele tempo: o anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galileia chamada Nazaré, a uma Virgem desposada com um varão, que se chamava José, da Casa de David. O nome da Virgem era Maria. Entrando o anjo onde ela estava, disse-lhe: "Salve, ó cheia de graça! O Senhor está contigo: Bendita és tu entre as mulheres!" (Lc 1, 26-28)

Foto: 8 de Dezembro de 2007, Missa da Imaculada Conceição, Padroeira de Portugal, Casa do Menino Jesus de Praga (Priorado FSSPX), Fátima.

Pobre Portugal!


"Poor Portugal", artigo de leitura imprescindível no "Rorate-Caeli". Eis a forma absolutamente arrasadora como são qualificados os bispos portugueses num dos mais importantes e influentes sítios católicos tradicionais da rede, a propósito da reacção dos mesmos à recente reprimenda que o Santo Padre lhes ministrou em Roma, bem como da posição por eles assumida face ao Motu Proprio "Summorum Pontificum":

Naturally, what is considered the worst episcopate in Western Europe - due to its intellectual indigence and to the unanimous unfriendliness of its Bishops to any measures of restoration by Rome (while Bishops who support Benedict's measures are found even in the Netherlands, Belgium, and Britain) - would not be moved by such words.

Eu não diria melhor. A situação de autêntico escândalo em que se encontra a Igreja em Portugal tem de ser denunciada pública e sonoramente! À consideração de Monsenhor Malcolm Ranjith, de Sua Eminência o Cardeal Castrillón Hoyos, e de Sua Santidade o Papa Bento XVI.

terça-feira, dezembro 04, 2007

Apetências e urticárias modernistas dos bispos portugueses


Durante os últimos quinze dias, durante os quais me foi impossível publicar aqui o que quer que fosse devido a múltiplos afazeres de ordem familiar e profissional, ocorreram duas situações que não posso deixar de comentar e ambas relacionadas - uma vez mais… - com a atitude negativa dos bispos portugueses face à Missa de rito latino-gregoriano.

Primeiramente, durante a visita "ad limina" que fizeram a Roma, e mau-grado a severa repreensão que o Santo Padre Bento XVI justamente lhes ministrou, Suas Excelências Reverendíssimas nem por isso tiveram pejo em afirmar, a propósito da promulgação do Motu Proprio "Summorum Pontificum", que em Portugal existe pouca apetência pela Missa tradicional. Não nego tal factualidade, mas essa pouca apetência é essencialmente imputável aos senhores bispos em razão da concepção doutrinária herética modernista que perfilham sobre a Missa, e não ao desinteresse dos fiéis, como os mesmos pretenderam fazer crer em Roma.

Na verdade, tenho conhecimento de que durante a vigência do Motu Proprio "Ecclesia Dei", do Papa João Paulo II, numa diocese portuguesa, e pelo menos por duas vezes, foram encetadas as necessárias diligências (nas quais, sublinho, não participei) junto do respectivo bispo titular para que este autorizasse a celebração da Missa segundo o rito tradicional; porém, o mesmo não só não deu qualquer provimento a tais diligências, como ao invés as frustrou liminarmente. E, de facto, se existe um rito pelo qual os católicos revelam pouca apetência, esse é seguramente o rito paulino resultante da reforma litúrgica de 1969, responsável - em conjunto com a secularização galopante das sociedades ocidentais - pela queda abrupta da prática religiosa entre os crentes, devido ao completo desprovimento de espírito de fé católica de que padece, cifrando-se por esta razão entre nós, na actualidade, a prática dominical numa média miserável de 20%... Aliás, fosse oficiado nas igrejas portuguesas o rito latino-gregoriano em igualdade de circunstâncias com o rito paulino, e no prazo de seis meses a dois anos o rito tradicional registaria um enorme acréscimo de novos fiéis, especialmente jovens, em detrimento do rito reformado, a exemplo do que tem sucedido no resto do mundo católico, enquanto muitos outros fiéis reatariam a prática entretanto abandonada. De resto, este é exactamente o grande pavor inconfessado dos senhores bispos!

Assim, o cerne desta questão reside no facto de o episcopado lusitano se ter afastado no pós-V2 da teologia tradicional católica sobre o Santo Sacrifício da Missa definida explícita e infalivelmente pelo Concílio de Trento, adoptando antes o oposto daquela decorrente da heresia protestante, e que tão decisivamente influenciou o modernismo. Em consequência, os senhores bispos não conseguem tolerar um rito que afirma explicitamente a Missa como sendo a renovação não sangrenta do sacrifício de Cristo na Cruz, oferecido em apaziguamento não só dos pecados dos fiéis vivos com vista à obtenção das graças que permitam que estes se salvem para a vida eterna e evitem a perdição para sempre no Inferno, mas também a redução das penas e padecimentos dos fiéis defuntos no Purgatório, e muito menos conceber que o mesmo rito no seu momento mais solene - o Cânon Romano - proclame a Igreja Católica como sendo a Igreja de Cristo chefiada visivelmente pelo Papa e constituída por todos os crentes cultores da ortodoxia católica; a intercessão dos santos, muito em especial de Nossa Senhora; e a diferenciação explícita entre o sacerdócio do celebrante ordenado e o sacerdócio comum dos fiéis.

Efectivamente, como compatibilizar estas verdades fundamentais do Catolicismo expressadas pelo rito latino-gregoriano, tridentino ou de São Pio V, com o ecumenismo sincretista jacobino sufragado pelos senhores bispos, ao qual o rito paulino (em si mesmo, válido e não herético, mas teologicamente deficiente e imperfeito) tentou dar acolhimento no seio da Igreja? Impossível de tal ser feito! No rito tradicional não há lugar para a concepção herética protestante de que a Missa é uma mera refeição memorial da paixão e morte de Cristo, ou, quanto muito, um mero sacrifício de louvor sem natureza propiciatória; e, ainda menos, para as heresias da justificação e salvação universal de todos os homens independentemente dos seus méritos, ou do sacerdócio indiferenciado de todos os membros do "Povo de Deus".

Ora, pelo exposto, e não por outra causa, é que os nossos bispos não aceitam o rito tradicional, subjugados que estão pela heresia modernista.

Pelas mesmas razões, e passo à análise da segunda situação objecto deste artigo, conseguem agora compreender-se melhor as deploráveis afirmações produzidas pelo Presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, o Arcebispo Primaz de Braga, D. Jorge Ortiga (foto acima), acerca do rito latino-gregoriano, em entrevista concedida ao "Expresso".

Diz o titular da arquidiocese de Braga, a qual em tempos históricos ainda não distantes costumava ser ocupada por homens que prestavam com frequência serviços relevantes à Igreja e à Pátria, que o Papa Bento XVI estabeleceu no "Summorum Pontificum" várias restrições à celebração da Missa tradicional! Todavia não esclarece quais sejam essas restrições, porque nem sequer pode fazê-lo, dado elas não existirem, bem sabendo que com tal afirmação está a inverter audazmente e por completo as verdadeiras intenções do Sumo Pontífice Romano. Pateticamente, em defesa da sua estranha posição - cujos verdadeiros motivos já se viu quais sejam na primeira parte deste artigo - sustenta que muitos dos sacerdotes ordenados nos anos mais recentes desconhecem a língua latina. Tal ponto de vista seria cómico, não fosse tão trágico e sintomaticamente elucidativo do caótico estado a que chegaram os seminários nacionais, presentemente locais de autêntica heterodoxia anticatólica a merecerem uma demorada e minuciosa visita por parte de uma Cardeal inspector vindo directamente de Roma. É que, tanto quanto sei, o latim continua a ser a língua oficial da Igreja Católica, na qual todos os seus documentos oficiais são redigidos, e ainda a língua litúrgica da Igreja do Ocidente. Parece que aqui os bispos portugueses, com o presidente da Conferência Episcopal à cabeça, se olvidaram do prescrito na encíclica "Veterum Sapientiae", do… Papa João XXIII.

É certo que Dom Jorge Ortiga, ao menos em teoria, não refuta totalmente a possibilidade de a Missa ser celebrada segundo o rito latino-gregoriano, mas sempre acrescenta que tais celebrações não podem ser ocasião de afirmação de uma mentalidade pré-V2. Uma mentalidade pré-V2?!!! Estranho conceito que provocaria legítimas interrogações a Santo Atanásio, Santo Agostinho, São Tomás de Aquino, São Pio V, São Leonardo de Porto Maurício, Santo Afonso Maria do Ligório, São João Maria Vianney ou São Pio X! O que é isso?!!! Na Missa de rito latino-gregoriano acentua-se única e exclusivamente - sim - a essência católica de todos os que nela participam, cada um na sua função! Uma vez mais D. Jorge Ortiga desilude: à revelia do magistério do Santo Padre sobre a hermenêutica da continuidade, supondo-se ainda algures nos anos 60/80, entre os pontificados de Paulo VI e João Paulo II, afirma-se propugnador do "espírito do V-2" e da hermenêutica da ruptura a ele adstrito, como se porventura a tradição inexistisse e a Igreja tivesse começado em tão-só em 1965.

domingo, dezembro 02, 2007

No hay que leer entre líneas

La última Encíclica del Santo Padre sobre la Esperanza da algunos motivos de esperanza.
En primer lugar en toda la Encíclica no hay ni una sola referencia al Vaticano II. Compárese esto, por ejemplo, con las tautologías de la época de Juan Pablo II, donde toda referencia era –única y exclusivamente- del Vaticano II. Está claro que Benedicto XVI tiene una idea clara de que la Iglesia tiene 2000 años o, incluso, 6000. Porque todas las Profecías del Antiguo Testamento tienen su cumplimiento en Cristo. Y es que la Iglesia que Nuestro Señor fundó no empieza en el Vaticano II. Y todo esto dejando de lado la pobreza doctrinal y la anfibología calculada del Vaticano II. Y todo esto dejando de lado que el Concilio Vaticano II es pastoral, no dogmático, como así quiso que fuera Pablo VI. El caso es que para esta Encíclica Benedicto XVI no ha contado con el Vaticano II. ¡Qué Dios le bendiga!
En segundo lugar analiza el Santo Padre en dicha Encíclica la íntima conexión que existe entre el Bautismo y la Esperanza. No es novedoso este tema, pues ya fue tocado por más teólogos en el pasado. Lo que sí es relevante es que Benedicto XVI no sigue la liturgia moderno/modernista al uso, sino que sigue, al desmenuzar concienzudamente la Liturgia del Sacramento del Bautismo, la Liturgia de siempre, la Tridentina. Todo un mensaje de fondo para tanto tóxico en posiciones del Alto Clero cuyo desprecio por la Tradición es hiriente.
Lo mejor de todo es que esta pseudoiglesia modernista se muere. Por falta de vocaciones, por inanición, por falta de sustancia, por ramplonería, por horterada, por feísmo, por protestantización, por falta de principios, por incoherencia ... Esta pseudoiglesia modernista, la misma que desprecia la Liturgia sempiterna, la misma cuyo único leit motiv es el ataque a la Tradición, tiene los años contados. Así reviente. Cuanto antes, tanto mejor.
Benedicto XVI, en su empeño de restaurar la Iglesia, no va a sacar petróleo de liturgias adulteradas. Va a las fuentes de agua viva: a la Tradición misma. Sólo en la Tradición hay Vida.
De los Obispos, particularmente de los Obispos portugueses y españoles, no se debería esperar nada. Empero, del Obispo de Roma, del Santo Padre, cabe seguir teniendo esperanza.
A buen entendedor, pocas palabras sobran. No hay que leer entre líneas.

Rafael Castela Santos