quarta-feira, janeiro 31, 2007

Llegará el día ...

“Llegará el día en que el mundo civilizado renegará de su Dios, y la Iglesia dudará como dudó San Pedro. La Iglesia sentirá la tentación de creer que el hombre se ha convertido en Dios, que su Hijo es sólo un símbolo, una filosofía como tantas otras, y en los templos buscarán los cristianos la lamparita roja donde les espera, como la pecadora que gritaba ante la tumba vacía ‘¿Dónde lo han puesto?’.”

Pío XII, extractado del libro Un Papa ante la historia, de G. Roche (Caralt, pg. 48)

(RCS)

domingo, janeiro 28, 2007

Aborto, imagens e palavras - 12


Deus conhece a atenção, o cuidado, a engenhosidade e o zelo que cada um pode consagrar para um maior êxito dos seus negócios.

Quem não se forma e informa nesse domínio? Quem não se documenta? Quem não recorre a técnicos preparados? Por vezes, dias e noites decorrem na pesquisa de uma fórmula capaz de permitir um aumento de lucros ou ultrapassar um concorrente.

Mas quando se trata do destino da sociedade (da qual depende, no entanto, a prosperidade durável dos negócios privados), a rotina, a negligência, a irreflexão, a incoerência e a preguiça transformam-se na lei desses homens, cuja sabedoria e espírito de iniciativa são, no entanto, admirados.

Passageiros que limpam a humidade do seu camarote mas que recusam a interessar-se pela possibilidade do seu navio soçobrar num instante.

A verdade é que perdemos o nosso tempo com ninharias e que concedemos aos "tabus" mundanos mais tempo do que aquele que seria necessário para trabalhar vitoriosamente pela salvação da cidade.

Uma preocupação obsessiva pelo conforto chega mesmo a constituir entre nós um clima de materialismo inexpugnável. Materialismo que já não se exibe, como outrora, através de máximas vis e provocantes. O que tinha a vantagem de alertar os melhores. Mas um materialismo de facto, inteiramente implícito, que sem nos impedir de ir à missa não deixa por isso de realizar menos o maior fenómeno político de absenteísmo verificado desde a queda do Império Romano. E esse morreu.

Cristãos que se pretendem excelentes maridos, excelentes pais de família, excelentes empregados, excelentes paroquianos.

Todos podem contar com eles.

Salvo a sua cidade. Salvo a sua Pátria!

(…)

Portanto, à acção!

Ela constitui o grande dever desta hora.

Não há tempo a perder, já proclamava Pio XII. O tempo de reflexão e dos projectos já passou. Estamos na hora da acção! Estais prontos para ela? As frentes opostas, no domínio religioso e moral, delimitam-se cada vez mais claramente. É o momento de prova. A dura corrida de que fala São Paulo já começou. É a hora do esforço intenso. Alguns instantes chegam para decidir a vitória.

Nunca, talvez, a salvação da sociedade dependeu do esforço de um número de pessoas tão pequeno.

É preciso ainda que esse pequeno número queira e saiba querer.

Alguns sobressaltos ou alguns movimentos de cólera tardia para nada servirão.

Tenhamos cuidado para não merecermos ouvir dizer aquilo que a mãe do último rei mouro de Granada lançou contra o seu filho, quando teve de abandonar a sua capital: "É inconveniente chorar e barafustar como uma mulher, quando se está em vias de perder aquilo que não se teve vontade de defender como um homem".

Jean Ousset - 1974

JSarto

sábado, janeiro 27, 2007

Aborto, imagens e palavras - 11

O meu amigo Pedro Guedes só pode sentir-se honrado pelo ataque canalha e desleal que uma tal de Pinto aborcionista, deputada do bloco da extrema-esquerda, lhe fez numa conferência que deu em pleno Parlamento. De certeza muitíssimo incomodada com os frutos cada vez mais visíveis do notável trabalho que o Pedro tem feito em prol da defesa da vida e contra o aborto, os quais no próximo dia 11 de Fevereiro irão contribuir decisivamente para a vitória do "Não" no referendo, a megera deputada de modos avarinados, incapaz - por impossível - de contradizê-lo com argumentos sólidos e bem estruturados, não achou melhor forma de denegri-lo do que lhe chamar "nazi". Táctica velha e estafada a desta turba, que de tal forma - na impossibilidade de eliminarem os seus opositores com o clássico tiro na nuca comunista - tentam apoucá-los, diminuí-los e até desumanizá-los com o recurso a tal chavão da velha "agit-prop", na vã tentativa de evitarem os argumentos destes últimos. Foi chão que deu uvas e à Pinto o tiro saiu-lhe pela culatra, pois só conseguiu espicaçar ainda mais para este combate todos aqueles que recusam o aborto, todos os que não aceitam como natural a prática abominável de assassinar um ser humano inocente e indefeso no próprio seio materno por razões meramente utilitárias!

Ao Pedro, de que me orgulho de considerar amigo, com um grande abraço, dedico este pequeno extracto do célebre "Sermon del cura loco", do grande Leonardo Castellani, S.J.:

A los que no admitimos esta sublimación ilegítima de un sistema político en dogma religioso, nos llaman peralistas o nazis o cristóbales. El ser "nazi"corresponde a uma nueva categoría de crímen, peor que el robo, el asesinato, el adulterio y cualquier delito común; no de balde a la polícia que lo persigue llaman Sección Especial. En realidad, corresponde al delito que en otro tiempo se llamó "herejía"; por éso dije que este "Liberalismo" triunfante ahora es una cosa religiosa: es una religión falsa, peor que el mahometanismo.


JSarto

Há muito, muito tempo - 3



Estas são mesmo imagens de há muito, muito tempo; nem supunha que existissem e encontrei-as quase por acaso nas minhas andanças pela blogosfera. Nuns curtíssimos vinte segundos, podemos ver uma rara filmagem do Papa Leão XIII - autor de encíclicas fundamentais para a doutrina tradicional como a "Diuturnum Illud", a "Humanum Genus", a "Libertas Praestantissimum" ou a célebre "Rerum Novarum" - que nela surge acompanhado por membros da Guarda Nobre Pontifícia, corpo de defesa papal dissolvido por Paulo VI em 1968.

Dedico tais imagens aos meus leitores Pimenta e Paulo Rocha, que certamente as saberão apreciar.

JSarto

Perdidos e Achados


Um destes dias, enquanto arrumava alguns livros numa das prateleiras da estante da minha camarata de trabalho, redescobri quase perdidos uns velhinhos panfletos impressos em papel amarelecido pela passagem dos anos, adquiridos em tempos num alfarrabista de Lisboa, e de cuja existência já mal me lembrava. Mirei-os e congratulei-me com o achado: às vezes, as melhores descobertas bibliográficas jazem literalmente esquecidas na posse. À minha frente tinha, nada mais, nada menos, do que quatro preciosidades cuja leitura promete ser viva e intensa: do Padre José Agostinho de Macedo (na imagem acima), o "Sermão sobre a Verdade da Religião Católica", o "Sermão de Acção de Graças pelo Restabelecimento da Monarquia Independente", e um "A Voz da Justiça, ou o Desaforo Punido"; de Frei Fortunato de São Boaventura, um comentário a um "Documento Original da Maçonaria Portuguesa ou Terceiro Ensaio Anti-Religioso, que um sacerdote pedreiro-livre dirigiu em data de 20 de Abril de 1826 para Lisboa ao Excelentíssimo Senhor A.P.".

Havendo tempo, farei por citar aqui neste espaço qualquer coisa retirada destas obras; mas para já, consigo imaginar o festival de merecida bordoada corcunda que se vai abater em cheio sobre os costados da cáfila liberal, da corja jacobina e da trupe malhada, cujos directos herdeiros espirituais continuam desgraçadamente a azucrinar-nos o espírito quase duzentos anos depois.

JSarto

A Arte dos Jesuítas


E porque se falou neles, eis este magnífico "L'Art des Jésuites": para ler e, sobretudo, contemplar toda a antiga glória da Companhia de Jesus, antes do furacão progressista ter levado quase tudo à sua frente.

JSarto

quinta-feira, janeiro 25, 2007

Polonia, año de Nuestro Señor del 2007

Habiendo visitado Irlanda varias veces en estos últimos meses estoy perdiendo mi admiración por la isla de San Patricio. La caída de la Fe en aquella tierra es terrible. Como terrible es la manera en que España se ha precipitado en el abismo.
En estos tiempos de hierro que nos toca sufrir Polonia y Portugal nos ofrecen probablemente los últimos bastiones de esperanza a todos los europeos. Algo de Fe todavía se guarda en el extremo occidental de la Península Ibérica y en las tierras sitas entre rusos y alemanes.
La sonada dimisión del Arzobispo Wielgus, colaborador de la KGB, ha sido una gran vergüenza para la Iglesia Católica. Pero más vergonzosa, aún, ha sido la actuación del Vaticano. Pedro Rizo, literalmente imperdible, nos ilustra de las vicisitudes polacas, de todo este entramado de mentiras, de diplomacias torticeras, de intereses escondidos, de un clero lleno de traidores y prestos a adorar al hombre pero ciertamente no a reconocer al Hijo del Hombre.
Al final siempre es lo mismo: la lucha del mal contra el bien.
Es hora de que los buenos hagan violencia al mal.
Entretanto: ¡Viva Polonia! ¡Adelante, polacos!

Rafael Castela Santos

domingo, janeiro 21, 2007

Contra el aborto: Un libro cerrado (por abrir)

Con permiso de Alameda Digital voy a colgar aquí, en A Casa de Sarto, mi artículo en español que ya salió en portugués en Alameda Digital. Para quienes me quieran leer en portugués no tienen más que clicar sobre este hipervínculo. A continuación, para nuestra clientela castellanoparlante, reproduzco ese mismo artículo.

“Compré recientemente un libro sobre Murillo, el gran pintor de la Santísima Virgen María. Está ahí, cerrado. Contemplándome desde el anaquel y, simultáneamente, yo le contemplo desde mi cama, mientras escribo con el portátil. Realmente no he tenido tiempo de mirarlo mucho todavía. Sabía que era un libro, un buen libro, cuando lo compré. Un buen amigo de toda confianza, bibliófilo a ultranza, me lo recomendó. Desde mi ubicación veo la sobrecubierta en papel couché, blanca. Las letras del título en el lomo son delicadas. El libro tiene, me lo han garantizado, un texto excelente sobre Murillo. Incluso analiza la época en que vivió, tanto desde el punto de vista histórico, como de las ideas. Todavía no lo he leído, pero sé que es así. La calidad de las litografías es impresionante. No las puedo ver desde la cama, pero sé que gozaré mucho deleitándome en contemplar esas litografías cuando pueda. Incluso sé que tiene tablas cronológicas e incluso diagramas de algunos de sus cuadros, explicando ciertas técnicas pictóricas. Tampoco los veo, pero sé positivamente que están ahí.
No por estar cerrado, no por no estar entre mis manos, no por no ser leído en este preciso instante, no por no ser visto en un momento dado deja de ser libro. Es y será un libro. Más incluso: es un libro excelente. Desde el mismo momento en que el autor lo concibió. Un gran libro. Cierto. Aunque ahora esté cerrado.
Un hombre y una mujer han hecho el amor. Un óvulo recibe a un espermatozoide, entre millones, y sólo a ése. En ese milagro de la fecundación dos células se transforman en un ser humano. Porque en el momento en que esas dos células (óvulo y espermatozoide), cada una con 23 cromosomas, se unen y se transforman en una célula con 46 cromosomas, ya hay ahí un ser humano. Su estatura, su color de pelo y de ojos. Aunque todavía no se le vea. Sus vulnerabilidades a ciertas enfermedades. Aunque todavía no las haya sufrido. Su coeficiente intelectual. Aunque todavía no sepa ni una palabra. Su metabolismo y toda su bioquímica. Aunque ahora todavía dependa enteramente del aparato metabólico de su madre. Incluso un porcentaje nada desdeñable de su personalidad está codificado en esos genes. Aunque todavía no haya dicho esta boca es mía. En ese libro cerrado del ADN se recogen todos esos datos e instrucciones. Y millones más. Son todas características de un nuevo ser humano. Todas ya ahí, aunque todavía no se hayan “leído”.
A diferencia de mi libro cerrado del cual existen unos centenares o millares de copias idénticas, esta nueva persona (literalmente, recién concebida) es única. Ni ha habido ni habrá otra como ella en toda la historia de la humanidad, por más que ésta se prolongase.
Si decimos que mi libro cerrado es libro, ¿cómo es que algunos se niegan a reconocer que ese nuevo ser humano no es ser humano por el mero hecho de todavía no haber empezado a “leerse”, a verse, a crecer, a hacer de todas sus potencias –que ya están en ese óvulo fecundado- acto, por emplear la terminología aristotélica?
No por estar todavía no diré cerrada, sino encerrada en el vientre materno, es por ello menos persona o deja de serlo. Tampoco mi libro, por estar cerrado y en la estantería, deja de ser libro por ello.
Esa persona es persona desde el mismo momento en que fue concebida. Ni un momento antes ni otro después.
Y, amén de lo dicho, esta nueva persona tiene libertad. Libertad de escoger. Libertad de optar por lo bueno o por lo malo. Libertad de hacer el bien o de servir a su contrario.
¡Ah! ¡Se me olvidaba! Y desde ese momento de la concepción esa persona tiene alma. Alma eterna. Pero eso ya es otra historia: la de un libro abierto con las páginas en blanco por escribir.”

Rafael Castela Santos

Aborto, imagens e palavras - 10


Quando fiz o balanço do pontificado do Papa João Paulo II, escrevi neste mesmo espaço o seguinte: "(…) se por vezes demais João Paulo II pareceu comprometer a tradição, no absolutamente imprescindível salvaguardou com denodo notável a fé e moral católicas, erguendo-se em principal adversário da guerra cultural que o esquerdismo niilista declarou contra os valores basilares do Ocidente. Elogiemos, pois, o combate sem concessões que dirigiu contra o divórcio, o aborto, a eutanásia, a homossexualidade e as uniões legais entre pessoas do mesmo sexo, em defesa da família e da vida, em suma, das leis divina e moral, e da ordem natural superior a elas adstrita. Em tal combate, teve João Paulo II o ponto mais saliente do seu pontificado!"

Como paradigma desse combate, e com plena oportunidade a respeito da questão do aborto, transcrevo de seguida um trecho fundamental da encíclica "Evangelium Vitae", em que João Paulo II demonstra à exaustão a perversidade do aborto e a absoluta contradição de tal prática com a tradição da Igreja:

Dentre todos os crimes que o homem pode realizar contra a vida, o aborto provocado apresenta características que o tornam particularmente grave e abjurável. O Concílio Vaticano II define-o, juntamente com o infanticídio, «crime abominável».

Mas hoje, a percepção da sua gravidade vai-se obscurecendo progressivamente em muitas consciências. A aceitação do aborto na mentalidade, nos costumes e na própria lei, é sinal eloquente de uma perigosíssima crise do sentido moral que se torna cada vez mais incapaz de distinguir o bem do mal, mesmo quando está em jogo o direito fundamental à vida. Diante de tão grave situação, impõe-se mais que nunca a coragem de olhar frontalmente a verdade e chamar as coisas pelo seu nome, sem ceder a compromissos com o que nos é mais cómodo, nem à tentação de auto-engano. A propósito disto, ressoa categórica a censura do Profeta: «Ai dos que ao mal chamam bem, e ao bem, mal, que têm as trevas por luz e a luz por trevas» (Is 5, 20). Precisamente no caso do aborto, verifica-se a difusão de uma terminologia ambígua, como «interrupção da gravidez», que tende a esconder a verdadeira natureza dele e a atenuar a sua gravidade na opinião pública. Talvez este fenómeno linguístico seja já, em si mesmo, sintoma de um mal-estar das consciências. Mas nenhuma palavra basta para alterar a realidade das coisas: o aborto provocado é a morte deliberada e directa, independentemente da forma como venha realizada, de um ser humano na fase inicial da sua existência, que vai da concepção ao nascimento.

A gravidade moral do aborto provocado aparece em toda a sua verdade, quando se reconhece que se trata de um homicídio e, particularmente, quando se consideram as circunstâncias específicas que o qualificam. A pessoa eliminada é um ser humano que começa a desabrochar para a vida, isto é, o que de mais inocente, em absoluto, se possa imaginar: nunca poderia ser considerado um agressor, menos ainda um injusto agressor! É frágil, inerme, e numa medida tal que o deixa privado inclusive daquela forma mínima de defesa constituída pela força suplicante dos gemidos e do choro do recém-nascido. Está totalmente entregue à protecção e aos cuidados daquela que o traz no seio. E todavia, às vezes, é precisamente ela, a mãe, quem decide e pede a sua eliminação, ou até a provoca.

É verdade que, muitas vezes, a opção de abortar reveste para a mãe um carácter dramático e doloroso: a decisão de se desfazer do fruto concebido não é tomada por razões puramente egoístas ou de comodidade, mas porque se quereriam salvaguardar alguns bens importantes como a própria saúde ou um nível de vida digno para os outros membros da família. Às vezes, temem-se para o nascituro condições de existência tais que levam a pensar que seria melhor para ele não nascer. Mas estas e outras razões semelhantes, por mais graves e dramáticas que sejam, nunca podem justificar a supressão deliberada de um ser humano inocente.

A decidirem a morte da criança ainda não nascida, a par da mãe, aparecem, com frequência, outras pessoas. Antes de mais, culpado pode ser o pai da criança, não apenas quando claramente constringe a mulher ao aborto, mas também quando favorece indirectamente tal decisão ao deixá-la sozinha com os problemas de uma gravidez: desse modo, a família fica mortalmente ferida e profanada na sua natureza de comunidade de amor e na sua vocação para ser «santuário da vida». Nem se podem calar as solicitações que, às vezes, provêm do âmbito familiar mais alargado e dos amigos. A mulher, não raro, é sujeita a pressões tão fortes que se sente psicologicamente constrangida a ceder ao aborto: não há dúvida que, neste caso, a responsabilidade moral pesa particularmente sobre aqueles que directa ou indirectamente a forçaram a abortar. Responsáveis são também os médicos e restantes profissionais da saúde, sempre que põem ao serviço da morte a competência adquirida para promover a vida.

Mas a responsabilidade cai ainda sobre os legisladores que promoveram e aprovaram leis abortistas, e sobre os administradores das estruturas clínicas onde se praticam os abortos, na medida em que a sua execução deles dependa. Uma responsabilidade geral, mas não menos grave, cabe a todos aqueles que favoreceram a difusão de uma mentalidade de permissivismo sexual e de menosprezo pela maternidade, como também àqueles que deveriam ter assegurado — e não o fizeram — válidas políticas familiares e sociais de apoio às famílias, especialmente às mais numerosas ou com particulares dificuldades económicas e educativas. Não se pode subestimar, enfim, a vasta rede de cumplicidades, nela incluindo instituições internacionais, fundações e associações, que se batem sistematicamente pela legalização e difusão do aborto no mundo. Neste sentido, o aborto ultrapassa a responsabilidade dos indivíduos e o dano que lhes é causado, para assumir uma dimensão fortemente social: é uma ferida gravíssima infligida à sociedade e à sua cultura por aqueles que deveriam ser os seus construtores e defensores. Como escrevi na Carta às Famílias, «encontramo-nos defronte a uma enorme ameaça contra a vida, não apenas dos simples indivíduos, mas também de toda a civilização». Achamo-nos perante algo que bem se pode definir uma « estrutura de pecado » contra a vida humana ainda não nascida.

Alguns tentam justificar o aborto, defendendo que o fruto da concepção, pelo menos até um certo número de dias, não pode ainda ser considerado uma vida humana pessoal. Na realidade, porém, «a partir do momento em que o óvulo é fecundado, inaugura-se uma nova vida que não é a do pai nem a da mãe, mas sim a de um novo ser humano que se desenvolve por conta própria. Nunca mais se tornaria humana, se não o fosse já desde então. A esta evidência de sempre a ciência genética moderna fornece preciosas confirmações. Demonstrou que, desde o primeiro instante, se encontra fixado o programa daquilo que será este ser vivo: uma pessoa, esta pessoa individual, com as suas notas características já bem determinadas. Desde a fecundação, tem início a aventura de uma vida humana, cujas grandes capacidades, já presentes cada uma delas, apenas exigem tempo para se organizar e encontrar prontas a agir». Não podendo a presença de uma alma espiritual ser assinalada através da observação de qualquer dado experimental, são as próprias conclusões da ciência sobre o embrião humano a fornecer «uma indicação valiosa para discernir racionalmente uma presença pessoal já a partir desta primeira aparição de uma vida humana: como poderia um indivíduo humano não ser uma pessoa humana?».

Aliás, o valor em jogo é tal que, sob o perfil moral, bastaria a simples probabilidade de encontrar-se em presença de uma pessoa para se justificar a mais categórica proibição de qualquer intervenção tendente a eliminar o embrião humano. Por isso mesmo, independentemente dos debates científicos e mesmo das afirmações filosóficas com os quais o Magistério não se empenhou expressamente, a Igreja sempre ensinou — e ensina — que tem de ser garantido ao fruto da geração humana, desde o primeiro instante da sua existência, o respeito incondicional que é moralmente devido ao ser humano na sua totalidade e unidade corporal e espiritual: «O ser humano deve ser respeitado e tratado como uma pessoa desde a sua concepção e, por isso, desde esse mesmo momento, devem-lhe ser reconhecidos os direitos da pessoa, entre os quais e primeiro de todos, o direito inviolável de cada ser humano inocente à vida».

Os textos da Sagrada Escritura, que nunca falam do aborto voluntário e, por conseguinte, também não apresentam condenações directas e específicas do mesmo, mostram pelo ser humano no seio materno uma consideração tal que exige, como lógicaconsequência, que se estenda também a ele o mandamento de Deus: «não matarás».

A vida humana é sagrada e inviolável em cada momento da sua existência, inclusive na fase inicial que precede o nascimento. Desde o seio materno, o homem pertence a Deus que tudo perscruta e conhece, que o forma e plasma com suas mãos, que o vê quando ainda é um pequeno embrião informe, e que nele entrevê o adulto de amanhã, cujos dias estão todos contados e cuja vocação está já escrita no «livro da vida» (cf. Sal 139 138, 1.13-16). Quando está ainda no seio materno — como testemunham numerosos textos bíblicos — já o homem é objecto muito pessoal da amorosa e paterna providência de Deus.

A Tradição cristã — como justamente se realça na Declaração sobre esta matéria, emanada pela Congregação para a Doutrina da Fé — é clara e unânime, desde as suas origens até aos nossos dias, em classificar o aborto como desordem moral particularmente grave. A comunidade cristã, desde o seu primeiro confronto com o mundo greco-romano onde se praticava amplamente o aborto e o infanticídio, opôs-se radicalmente, com a sua doutrina e a sua praxe, aos costumes generalizados naquela sociedade, como o demonstra a já citada Didaké. Entre os escritores eclesiásticos da área linguística grega, Atenágoras recorda que os cristãos consideram homicidas as mulheres que recorrem a produtos abortivos, porque os filhos, apesar de estarem ainda no seio da mãe, «são já objecto dos cuidados da Providência divina». Entre os latinos, Tertuliano afirma: «É um homicídio premeditado impedir de nascer; pouco importa que se suprima a alma já nascida ou que se faça desaparecer durante o tempo até ao nascer. É já um homem aquele que o será».

Ao longo da sua história já bimilenária, esta mesma doutrina foi constantemente ensinada pelos Padres da Igreja, pelos seus Pastores e Doutores. Mesmo as discussões de carácter científico e filosófico acerca do momento preciso da infusão da alma espiritual não incluíram nunca a mínima hesitação quanto à condenação moral do aborto.

O Magistério pontifício mais recente reafirmou, com grande vigor, esta doutrina comum. Em particular Pio XI, na encíclica Casti Connubii rejeitou as alegadas justificações do aborto; Pio XII excluiu todo o aborto directo, isto é, qualquer acto que vise directamente destruir a vida humana ainda não nascida, «quer tal destruição seja pretendida como fim ou apenas como meio para o fim»; João XXIII corroborou que a vida humana é sagrada, porque «desde o seu despontar empenha directamente a acção criadora de Deus». O Concílio Vaticano II, como já foi recordado, condenou o aborto com grande severidade: «A vida deve, pois, ser salvaguardada com extrema solicitude, desde o primeiro momento da concepção; o aborto e o infanticídio são crimes abomináveis».

A disciplina canónica da Igreja, desde os primeiros séculos, puniu com sanções penais aqueles que se manchavam com a culpa do aborto, e tal praxe, com penas mais ou menos graves, foi confirmada nos sucessivos períodos históricos. O Código de Direito Canónico de 1917, para o aborto, prescrevia a pena de excomunhão. Também a legislação canónica, há pouco renovada, continua nesta linha quando determina que «quem procurar o aborto, seguindo-se o efeito, incorre em excomunhão latae sententiae», isto é, automática. A excomunhão recai sobre todos aqueles que cometem este crime com conhecimento da pena, incluindo também cúmplices sem cujo contributo o aborto não se teria realizado: com uma sanção assim reiterada, a Igreja aponta este crime como um dos mais graves e perigosos, incitando, deste modo, quem o comete a ingressar diligentemente pela estrada da conversão. Na Igreja, de facto, a finalidade da pena de excomunhão é tornar plenamente consciente da gravidade de um determinado pecado e, consequentemente, favorecer a adequada conversão e penitência.

Frente a semelhante unanimidade na tradição doutrinal e disciplinar da Igreja, Paulo VI pôde declarar que tal ensinamento não conheceu mudança e é imutável. Portanto, com a autoridade que Cristo conferiu a Pedro e aos seus Sucessores, em comunhão com os Bispos — que de várias e repetidas formas condenaram o aborto e que, na consulta referida anteriormente, apesar de dispersos pelo mundo, afirmaram unânime consenso sobre esta doutrina — declaro que o aborto directo, isto é, querido como fim ou como meio, constitui sempre uma desordem moral grave, enquanto morte deliberada de um ser humano inocente. Tal doutrina está fundada sobre a lei natural e sobre a Palavra de Deus escrita, é transmitida pela Tradição da Igreja e ensinada pelo Magistério ordinário e universal.

Nenhuma circunstância, nenhum fim, nenhuma lei no mundo poderá jamais tornar lícito um acto que é intrinsecamente ilícito, porque contrário à Lei de Deus, inscrita no coração de cada homem, reconhecível pela própria razão, e proclamada pela Igreja.

JSarto

Há muito, muito tempo - 2



A coroação do Papa Pio XII. Em Roma, 1939.

JSarto

Há muito, muito tempo - 1


segunda-feira, janeiro 15, 2007

A Missa por intenção da Direcção-Geral das Contribuições e Impostos


Pessoalmente não admiro a Direcção-Geral das Contribuições e dos Impostos: forçado a relacionar-me com a mesma numa base quase diária por razões de ordem profissional, tenho-a em conta de mero braço executor de um poder político cada vez mais opressivo, desprovido de qualquer noção de verdadeiro bem comum, e por esse motivo arrogante e desprezível ao ponto de pretender que o património privado dos portugueses a ele tristemente subordinados responda pessoal, solidária e ilimitadamente pelos desvarios da camarilha que o ocupa e controla.

Dito isto, acrescento que não me escandaliza que o Director-Geral das Contribuições e Impostos haja mandado celebrar uma Missa - mesmo de rito paulino e na Sé do Cardeal Policarpo - por intenção de todos aqueles que servem ou já serviram a Direcção-Geral que chefia, ao invés desejando com sinceridade que essa circunstância contribua para que tais servidores desempenhem de um modo mais digno e exemplar, em face dos condicionalismos referidos no parágrafo anterior, a sua missão.

Outrossim, não posso aceitar a argumentação expendida pelos órgãos de propaganda política às ordens do jacobinismo e do extremismo comunista de esquerda, mas travestidos de meios de comunicação social ditos de referência, de que a iniciativa do Director-Geral em apreço violou a laicidade do Estado. Na verdade não o fez, pois sendo o Estado laico - o que é mau, como já uma vez escrevi neste espaço -, ainda não é ateu, e por essa razão insusceptível de impedir que os seus funcionários professem uma crença religiosa ou de ter a pretensão de eliminar toda e qualquer manifestação de religiosidade do espaço público.

Ora, a ocorrer esta última hipótese, sob a aparência da defesa da neutralidade do Estado em matéria religiosa, outra coisa não se faria do que impor uma política prática de ateísmo radical, não passando então tal laicismo de uma nada subtil forma de perseguição religiosa e de uma intolerante agressão à verdadeira liberdade de religião, o que não se admite de todo.

JSarto

Na imagem: a vocação de São Mateus, de Caravaggio.

domingo, janeiro 14, 2007

En defensa del distributismo

De la mano de Cruz y Fierro se nos traen dos artículos hacia los que no podemos por menos de apuntar. En primer lugar Cruz y Fierro traduce al castellano uno del original inglés, de la extraordinaria pluma de Peter Chojnowski. Peter es uno de esos extraños fenómenos de nuestro tiempo de quien nunca me canso de releer sus artículos. Al Profesor Chojnowski le cabe la Summa Theologica entera en la cabeza y, lo mejor, es que es capaz de analizar los modernos problemas a luz del Doctor Angélico.
En un artículo soberbio Peter Chojnowski llama la atención sobre la practicalidad de las medidas distributistas.
En días pasados Cruz y Fierro había traído a colación un artículo antiguo de Thomas Fleming en defensa de la familia, ahora vertido en español. Porque la línea que defiende el distributismo es aquella, precisamente, que pasa siempre e ineludiblemente por la defensa de la familia y todo lo familiar frente a las anonimizadas y anomizadas sociedades anónimas de nuestros tiempos.
Existen quienes confunden el distributismo con algunos distributistas. Es como si hubiera que juzgar a la Iglesia por unos cuantos malos curas homosexuales que han protagonizado escandalosos abusos a menores.
El distributismo es una idea viable y actual. Hay que agradecer a Cruz y Fierro su sólida defensa de esta posición. Quizás, como ha dicho el Padre Paul Kramer, tras el Castigo y el Juicio de las Naciones el régimen económico imperante entonces no sea este capitalismo apátrida que padecemos, sino algo mucho más humano. A buen seguro que el distributismo ofrece muchas soluciones prácticas, como Peter Chojnowski nos recuerda.
Después de todo, una teoría gestada en los corazones de gentes como Belloc, Chesterton y el Padre McNabb tenía casi necesariamente que ser tan buena como ellos mismos lo fueron. Buenos de corazón … so pena de sufrir el ‘Estado Servil’ en toda su tiranía, como ya Hilaire Belloc profetizara a principios del siglo XX en un libro de idéntico título rabiosamente actual.

Rafael Castela Santos

domingo, janeiro 07, 2007

Sobre a tirania, tiranos e o tiranicídio


Em notável artigo, referenciou o Je Maintiendrai a figura do Padre António Royo Marín, O.P. e o seu livro "Teología Moral Para Seglares": sacerdote dominicano espanhol, Royo Marín é seguramente um dos mais ilustres teólogos católicos do século XX, constituindo a sua obra, onde se incluem títulos fundamentais - para além do referido - como "Teologia de la salvación", "Dios y su obra" ou "Teologia de la perfección cristiana", um autêntico porto seguro da ortodoxia doutrinária em tempos de tormenta modernista e progressista.

Ora, é exactamente da "Teologia Moral Para Seglares", editada pela madrilena Biblioteca de Autores Cristianos, que retiramos o seguinte trecho sobre a atitude católica perante um regime tirânico - os destaques são nossos -, contribuindo assim para uma questão que tem sido discutida na blogosfera nos últimos dias, nomeadamente no "Pasquim da Reacção":

Ante todo es necesario precisar com exactitud la terminología.

a) PODER TIRÁNICO es el que abusa de sua autoridad para oprimir a los ciudadanos, imponiéndoles leyes injustas y privandóles injustamente de sus libertades esenciales.

b) RESISTENCIA PASIVA es la que se niega a cumplir las leyes injustas, que no son en realidad verdaderas leyes.

c) REBELIÓN ARMADA es la que tiene por apoyo principal al ejército de la nácion y lleva consigo gran esperanza de éxito. Nunca debe recurrirse a la sedición, que consiste en formar bandos o partidos en el seno de una nación con objecto de promover algaradas o tumultos entre sí o contra la autoridad pública, que a ningún resultado práctico conducen y sí a grandes trastornos y perturbaciones (cf. II-II, 42, 1-2).

d) TIRANICIDIO es el asesinato del tirano hecho por personas privadas y con su propria autoridad. Está expresamente condenado por la Iglesia (D 690) y no puede recurrirse jamás a él, bajo ningún pretexto. Lo único que puede hacerse es desposeerle del mando injustamente detentado y juzgarle por los tribunales legítimos, que podrán condenarle a muerte si lo hubiera merecido.

Teniendo en cuenta esta nociones, he aquí el sentido y alcance de la conclusión:

1º) LA RESISTENCIA PASIVA a las leyes injusta es siempre lícita y puede ser incluso obligatoria. Cuando el gobernante tiránico se excede en sus atribuciones exigiendo alguna cosa injusta, su orden o mandato no obliga a nadie en conciencia, ya que, por ser injusto, no es verdadera ley. Pero, para mayor precisión, vamos a examinar los principales casos que pueden ocurrir.

a) Si las leyes injustas violan derechos humanos accidentales (v.gr., la propriedad, la libre reunión, etc.), no obligan en conciencia (por ser injustas) pero generalmente será mejor sufrirlas para evitar un mal mayor (v.gr., escándalos, malos tratos, agravaciones de la tiranía, etc.). Sufrir no es obdedecer, y siempre queda el derecho de trabajar por la abrogación de esas leyes injustas por medios pacíficos y honestos.

b) Si la ley tiránica viola el derecho natural o positivo divino, prescribiendo lo que no puede hacerse sin pecado (v.gr., el control de la natalidad, el aborto, etc.), "la resistencia es un deber, y la obediencia un crimen" (León XIII). Jamás pueden ser obedecidas esas leyes, aunque se agrave la tiranía y se sigan grandes transtornos a la sociedad. No es lícito jamás cometer un pecado, aunque se pudiera evitar con él una gran catástrofe al mundo entero.

c) Si la ley injusta viola los derechos esenciales de la Iglesia (v.gr., si decretase que el jefe del Estado sea también el jefe de la Iglesia nacional), no podría ser obedecida jamás, cualesquiera que fueran las consecuencias de la resistencia. Pero, si afectan únicamente a sus derechos accidentales (v.gr., la exención de los clérigos del servicio militar), generalmente será mejor sufrir la leye injusta, para evitar males mayores.

2º) LA REBELIÓN ARMADA suele traer consigo gravísimos trastornos y perturbaciones a la sociedad entera. Por lo mismo, no es lícito recurrir a ella sino en casos verdaderamente excepcionales, o sea, cuando se reúnan claramente las siguientes condiciones:

a) Un poder ciertamente tiránico que llegue a extremos verdaderamente intolerables contra el bien común.

b) Que se hayan agotado, sin resultado alguno, todos los medios pacíficos para conseguir que los gobernantes entren por la vía legal y retiren las medidas tiránicas o injustas.

c) Probabilidad grande de éxito, habida cuenta de todas las circunstancias.

Contestando a la objeción de que la rebelión contra el tirano puede traer la sedición, o sea, la lucha intestina entre los ciudadanos partidarios o contrarios al régimen estabelecido,escribe Santo Tomás:

"El régimen tiránico no es justo, porque no se ordena al bien común, sino al bien privado del gobernante. Por lo mismo, perturbar este régimen no tiene carácter de sedición, a no ser cuando se le perturba de manera tan desordenada que se sigan mayores daños a los ciudadanos de la perturbación que del mismo régimen tiránico. Más bien hay que acusar de sedicioso al proprio tirano, que no tiene reparo en fomentar sediciones y discordias en el pueblo que tiene esclavizado para dominarle con mayor seguridad. Esto sí que es tiránico, ya que se ordena al bien particular del presidente con daño de la multitud" (II-II, 42, 2 ad 3).

JSarto

Alameda Digital nº 4


Já se encontra disponível em linha o nº 4 da Alameda Digital, tendo por tema de discussão central, e com enorme actualidade, a questão do aborto. Num tempo de guerra cultural sem quartel contra os valores basilares que edificaram a nossa civilização, a equipa d'"Alameda Digital" ergue-se como uma autêntica tropa de elite no combate à barbárie niilista contemporânea. Recomendo vivamente a sua leitura, não só aos meus visitantes portugueses, que nesta altura já terão tomado conhecimento na sua quase totalidade de tal lançamento, mas sobretudo aos meus leitores do país-irmão Brasil, de Espanha e de toda a restante América Latina, desde o México até à Argentina.

Do que já li até agora, destaco "Um livro por abrir", do Rafael e "Aborto de A a Z", do Pedro Guedes, através do qual fiquei a saber que a Senhora Dona Fina d'Armada, aquela peculiar criatura que vê homens verdes em toda a parte (não, não são os adeptos do Sporting), é mandatária do "Sim" aborcionista, que com apoios deste calibre vai mesmo pelo caminho que mais desejamos. Ainda me estou a rir…

JSarto

sexta-feira, janeiro 05, 2007

De mi Hermano Gabriel, Leonardo Castellani y San Gabriel ...

Hay una persona en este mundo que no siendo hermano de sangre lo es más incluso, porque es Hermano de espíritu. Y el vocablo Hermano empieza por “hache”, pues así decía Enrique Jardiel Poncela que empiezan las palabras importantes, ha de escribirse con mayúscula. Aseveraba el genial Jardiel Poncela que burgués, definitivamente, no empieza por “hache”. Castellani nos explica por qué y de yapa le pega una patada en la espinilla a liberales y otros sujetos de mal vivir. Y mi Hermano Gabriel tendrá muchos defectos, pero ¡vive Dios! que el ser aburguesado no es uno de ellos.
San Gabriel siempre empieza igual sus cometidos angélicos por este mundo: “No temáis”, dice el Ángel. ¿Cómo será San Gabriel de temible que siempre tiene que comenzar por lo mismo, advirtiendo “no temáis”? “No temas”, le dice a la Virgen. Es lícito pues plantearse la cuestión de si el mismísimo Ángel de Portugal no es otro que San Gabriel. Tampoco me extrañaría esto de la nación hermana (ya ven, yo no me conformo con llamarla “pais vizinho”) a juzgar por el “no temáis” con que saluda a los niños de Fátima. Pero San Gabriel siempre trae buenas noticias, sea en la Anunciación o sea en Fátima.
Ya digo que si mi hipótesis es válida no deja de ser interesante la Aparición de Fátima de manos de San Gabriel y la Aparición en Garabandal (todavía no aprobada oficialmente por la Iglesia) del Arcángel San Miguel. He aquí, una vez más, esa complementariedad entre Portugal y España, entre ese centro lírico de Portugal que no cesa de cantar a Dios y a su Santísima Madre y esas tierras rudas y fuertes del norte de Castilla que ardían y volverán a arder en defensa de Cristo y de su Iglesia.
Mi Hermano Gabriel también es intimidante. Como su Santo Patrón. Y mi Hermano Gabriel también suele venir cargado de buenas noticias, al uso de ese espíritu angélico. Pero por intimidante que parezca, Castellani viene cargado de buenas noticias. (igual que mi Hermano y que San Gabriel; igual que Portugal).
Mi Hermano Gabriel, un vasco con sangre india reciclado en argentino, es como JSarto y un servidor, otro “castellaniano” ferviente, piadoso, confeso y convicto. Dice mi Hermano Gabriel que el viejo Padre Castellani andaba holgado de conocimiento, erudición y, lo más importante, de sabiduría. Porque Castellani tenía algo de angelical en su conocimiento. Acérrimo defensor del Doctor Angélico no podía ser de otro modo. Me refiero a Castellani, pero también a mi Hermano Gabriel. Todos ellos son tomistas. Y, si me apuran, también afirmaré que San Gabriel es tomista.
Mi Hermano Gabriel es de suyo lacónico, como buen vasco, con algo de mitigante barniz porteño. Como el Padre Castellani, que acertaba a poner un punto final al pensamiento sobre las cosas (diría más bien a la adecuación de su pensamiento a las realidades) que pocos, muy pocos, son capaces de hacer. Le decía yo a mi Hermano Gabriel que Castellani se me hacía cada día más grande a mis ojos en mis lecturas, y a fuerza de releerlo. Apostillaba mi Hermano Gabriel algo todavía más fino y penetrante: Castellani, cuanto más lo lees, no sólo se hace más grande a los ojos de uno, sino más distante. Consecuencias de la genialidad (angel-nialidad o angelicanidad, si me permiten jugar con las palabras).
Mi Hermano Gabriel es un buen poeta y a su modo y manera un buen polígrafo en estos tiempos modernos. Otro tanto se puede decir de su santo y seña, Castellani. San Gabriel, empero, no necesita escribir. Él sólo necesita hablar. A fin de cuentas en el eterno presente en que viven los ángeles el esfuerzo por la escritura es futil. Se puede decir todo … al instante. De lo que estoy segurísimo es que San Gabriel es un fenomenal poeta. Que no haya escritura en el Cielo pase, pero sin Poesía allí no se está. Ciento veinte por ciento de garantía en esta última afirmación.
Le decía a mi Hermano Gabriel que el Padre Castellani me había permitido reencontrarme con el periodismo un poco en épocas recientes gracias a los editoriales y los “periscopios” de Jauja del Padre Castellani después de lo quemadísimo y hastiado que salí de él. Castellani tampoco sentía particular inclinación hacia esta forma de perversión. Claro que San Gabriel tenía algo de periodista, de mensajero. Por eso envió Dios a San Gabriel a la Santísima Virgen. Y no me extrañaría que en ese Altar de Dios por donde vuela y sirve San Gabriel se hubiera acordado que San Gabriel nos mandase al Padre Castellani. Siquiera para que Castellani modelase y troquelase la cabeza de mi Hermano Gabriel como un ejército de la Reconquista. A imagen y semejanza de la del de Reconquista, ciudad natal de Castellani. Sea como fuere, angelical es esa capacidad de atrapar toda una idea, todo un universo a veces, en seis líneas. ¿No me creen? Busquen la más de media docena de ejemplos que he brindado en Nova Frente y A Casa de Sarto bajo la sección “La bitácora de Leonardo Castellani”. Para muestra basta un botón. Cómprense el libro de Don Leonardo “Un país de Jauja” y les aseguro que no se arrepentirán.
Mi Hermano Gabriel es sólido como una roca. No se arredra por las dificultades. Ni se deja vencer por las circunstancias. No se arruga, aunque seamos de carne y hueso. Como Castellani, confía ciegamente en Dios. Creo que mi Hermano Gabriel, que llama “Maestro” a Castellani, aprendió no sólo de sus escritos, sino también de su vida. A ambos les protege San Gabriel, de eso estoy seguro. Por eso, digo yo, no mucho han de temer.
El Padre Castellani se pudo quedar en Europa y “triunfar”; incluso hacer carrera eclesiástica. Como nos va desvelando Sebastián Randle en su biografía sobre el Padre Castellani, hubo asuntos personales por lo que eso no ocurrió, y a lo mejor (a a lo peor) su don profético no fue ajeno a todo ello. Pero hubo que ese Profeta, por sobrenombre Castellani, quiso ser profeta en su tierra porque era un patriota. Caro pagó aquel patriota de verdad su fidelidad a la Patria hermana de la Argentina. Como mi Hermano Gabriel, a quien el Príncipe de este mundo (cosmopolitista y transnacional) asaetea de continuo porque pudiendo someter su cerviz al Último Imperio prefiere permanecer en el eje de la Piedad, que no otra cosa es el patriotismo.
Mi Hermano Gabriel conoce bien muchos de los recovecos del alma humana. La fuerza le es. Sabe de qué pasta estamos hechos y en más de una ocasión le he visto poniendo aceite y bálsamo sobre heridas muy profundas y dolorosas. Quizás de casta le venga al galgo, porque mi Hermano Gabriel mucho ha abrevado en esa antropología de Castellani, tan sumamente fértil ella. En cuanto a San Gabriel … ya lo sabe todo a este respecto. Lo realmente curioso es que sabiéndolo siga ocupándose de nosotros tan cariñosamente siendo la clase de gentuza que somos.
Cuenta mi Hermano Gabriel mil y una anécdotas sabrosonas de alguno de sus antepasados, y de cómo se las lidiaron para zafarse de los inmundos, salvajes y asquerosos unitarios (los unitarios son en Argentina lo que la caterva isabelina-liberal fue en España). Viene de familia dura. De familia dura y correosa. Un ángel es siempre duro, si duro se puede llamar al espíritu puro. Pero que Leonardo Castellani era durísimo y correosísimo no debe plantear la más mínima duda.
Dice mi Hermano Gabriel que él siempre reza por los Maestros que no conoció y Castellani era uno de ellos. Es buena costumbre ésta la de agradecer a nuestros antepasados y mayores, incluso a los que no conocimos. Uno de esos Maestros, pero a quien yo sí conocí, fue Vintila Horia. Y fue Vintila Horia quien una tarde de invierno frío de la serranía madrileña me dijo que la montaña más alta de Argentina estaba en Buenos Aires, no en los Andes. Se refería Vintila al Padre Castellani, a quien leyó y estudió y a quien visitó en Argentina. Creo que comparto el criterio de Don Vintila. De hecho le tomé el consejo. Y aquí estoy, castellano y castellaniano.
Cristo se pasó buena parte de su vida pública luchando contra el fariseísmo. San Gabriel prosigue idéntica causa a su modo y según las instrucciones recibidas. Mi Hermano Gabriel tres cuartos de lo mismo y el Padre Leonardo Castellani tampoco sentía mucha simpatía por lo que es el cáncer más peligroso de la vida espiritual. Y es que, en rigor, hay una íntima relación entre el fariseísmo y la falta de verdad.
Echo de menos a mi Hermano Gabriel. Y mucho. Me sabe demasiado a poco el tiempo que hemos pasado juntos. Y dice mucho de mi Hermano Gabriel que en su casa me siento tan cómodo, o más, que en la mía. La hospitalidad, también, es algo en lo que su protector, San Gabriel, destaca. Los mates, los programas de Alejandro Dolina, sus risas compartidas durante las películas, las conversaciones sobre lo divino –sobre todo sobre el Apokalypsis, lo apocalíptico y lo apocalipticable, aspectos estos que es prudente hacer bajo la óptica castelliniana- y lo humano a las tres de la mañana.
Y rezar Prima juntos ... ¡Si al menos pudiera tener esto! ¡Me mata de nostalgia el no poder rezar juntos de nuevo! Prima con mi Hermano Gabriel y Completa con más amigos.
Quiera Dios que podamos continuar la tertulia inacabada de esa Castilla de Norteamérica donde él vive en esa Patria definitiva del Cielo. Entonces, si cabe, en la compañía del Padre Castellani.
Y, estoy por jurarles, que este otro compadre, JSarto, se va a autoinvitar a esta tertulia “de além da vida”.
Pero, por favor, no idealicen a mi Hermano Gabriel. Humano que es, también tiene defectos: es gallina (en estos tiempos gallina desplumada) el pobre. De River Plate. ¡Tristísima consecuencia ésta del Pecado Original! ¿Osé decir antes que San Gabriel es tomista? También lo es mi Hermano Gabriel. Como lo es el Padre Castellani. Lo reafirmo y ratifico. Pero, también, San Gabriel es bostero. O, al menos, debería serlo.
¡Dale, dale, Boca! ¡Dale …!

Benjamín Benavides, también llamado Rafael Castela Santos

quarta-feira, janeiro 03, 2007

Votos para este ano de 2007


- No plano universal, que a Missa de rito latino-gregoriano seja plenamente libertada e restaurada por Sua Santidade o Papa Bento XVI;

- No plano nacional, que a vida triunfe uma vez mais, com a intercessão de Nossa Senhora de Fátima, sobre os cultores da morte;

- No plano individual, para além de tentar ser um católico menos imperfeito, que consiga dedicar mais tempo a este espaço, fazendo tudo por elevar a sua qualidade.

JSarto

Saddam


"Saddam", um artigo notável do Rafael, que assino por baixo sem quaisquer hesitações. Transcrevo os dois parágrafos finais:

Por mi parte ayer recé por Saddam. Ni al peor criminal le deseo el Infierno. Que Dios tenga misercordia de él. Y que Dios tenga misericordia de gente, al parecer sin arrepentimiento, como Bush, Blair y quienes manejan el mundo tras las bambalinas.

Si Saddam mereció la horca en esta tierra, ¿qué merecerán ellos en el Juicio inapelable ante Dios?
(destaque meu)

JSarto

Do fundamento do Direito ou a defesa da Lei Natural


Com imerecido atraso mas ainda a tempo de reparar a injustiça, recupero e recomendo vivamente este "Fundamento do Direito", que o Manuel Azinhal nos oferece, de autoria do Professor Cavaleiro de Ferreira. Escrito na altura em que o autor iniciava a sua longa e brilhante carreira, por todo o artigo perpassa a estrutura fundamental do seu pensamento jurídico, tributário de um tomismo da mais pura e fina cepa, ou seja, da verdade católica.

Como seria bem mais fácil e simples a vida na sociedade actual, se o legislador contemporâneo ainda fosse imbuído do espírito que animava Cavaleiro de Ferreira, não confiando de modo cego e arrogante na vontade humana ilimitada! Quantos equívocos dolorosos não se poupariam…

JSarto

segunda-feira, janeiro 01, 2007

Kierkegaard

Me he ido acostumbrando a leer textos de este filósofo porque, como dice JSarto, soy un castellano “castellaniano” ferviente. En mi juventud algo toqué de Kierkegaard vía Unamuno y por haber leído a Don Miguel de Unamuno primero. Recuperado a temprana edad de los intoxicantes vapores esteticistas y existencialistas fue luego el Padre Castellani quien me descubrió la grandeza moral de Soren Kierkegaard. Desde entonces vengo leyendo sin prisa pero sin pausa al filósofo danés.
Kierkegaard asumió para sí la tarea ímproba de regenerar la ya entonces, a mediados del XIX, muy corrupta Iglesia Luterana danesa. Tarea que se probó imposible y que le costó la muerte. Su amor por Cristo que él no vio correspondido por quienes se llamaban cristianos y el amor que el sentía por Regina y que nunca llegó a consumarse le acabaron matando. Murió pobre como una rata, cansado hasta la extenuación. Su vida fue un poema de amor: de amor sincero y genuino hacia Cristo y de amor hacia una mujer, amor puro como pocos. Murió de desamor, como mueren los que aman.
El católico puede caer aquí en el simplismo y decir que no se puede regenerar lo que está errado de principio, como es el Protestantismo. Cierto, pero eso no nos permitiría estudiar la intención, la nobilísima intención, que animaba a Kierkegaard al intentar esta tarea.
Ayer me topé con una traducción al español de un texto de Kierkegaard: ¿Cómo juzga Cristo el cristianismo oficial? que no me resisto a compartir con los tres o cuatro lectores que tengo. Escribía antes “nobilísima intención” porque Kierkegaard reconoció el virus letal del fariseísmo llegando hasta la médula de la Iglesia Luterana danesa. Será por esto, al menos en parte, que esa figura cimera de nuestros tiempos, el Padre Castellani, reconociera ese mismo virus. Escribió Don Leonardo Castellani su libro Cristo y los fariseos, de la más rabiosa actualidad. Libro, sin duda, que permite entender mucho a la Iglesia Católica hoy día.
Y así empezamos el año, hablando de fariseísmo.
O de Kierkegaard.
O de Castellani.

Rafael Castela Santos